A convite da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), por meio do Núcleo de Extensão Rural em Agroecologia (NERA), os professores pesquisadores Clara Nichols e Miguel Altieri, da Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia (SOCLA), visitaram no dia 04 de março a região do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais assessorada pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
O grupo formado pelos dois estudiosos e cerca de 15 parceiros do Nera na região, conheceram a experiência de seu Domingos de Barros, conhecido como seu Loro, e dona Iraci, na Comunidade Cachoeira de Pedra Dágua, em Massaranduba-PB, no Agreste da Borborema.
De acordo com Marilene Melo, do NERA, o objetivo da visita foi conhecer por parte dos pesquisadores a região, as organizações e as experiências em agroecologia que desenvolvem e também possibilitar que as organizações possam intercambiar aprendizados.
Após conhecerem diversos espaços da propriedade de 3 hectares, o grupo visitou ainda o Viveiro de mudas municipal, sediado na propriedade seu Loro e dona Iraci. Depois de percorrer os diversos subsistemas, o grupo se reuniu na sede da associação comunitária e fez uma rodada de debate sobre as experiências visitadas. Seu Loro falou sobre as mudanças que a agricultura praticada na região sofreu e vem sofrendo.
Ele destacou a chegada das primeiras cisternas de placas como um marco na organização da comunidade, primeiro com as cisternas de beber e cozinhar e mais recentemente com as cisternas de produção e dos intercâmbios e processos de formação: “Hoje a gente vê essa diferença, numa seca dessa, imagine a gente aqui sem esse calçadão. Esse calçadão pra mim é melhor do que um açude. Taí a minha companheira, que relata no tempo dela, quando tinham que atravessar a cidade para buscar água, iam com um pote, se levassem um tropeção no meio do caminho, era capaz de voltar pra casa sem o pote e sem a água”, contou com descontração.” Quando eu nasci, essa crise já existia. Andando eu fui aprendendo coisas, as boas eu implementei, então a gente vê a diferença”, complementou o agricultor.
Em seguida, Miguel Altieri lembrou os cinco princípios da agroecologia: 1 – A acumulação de matéria orgânica e biomassa; 2 – O incremento da reciclagem; 3 – A minimização das perdas de água, energia e nutrientes; 4 – A diversificação no tempo e no espaço (diversidade genética e a rotação de culturas) e; 5 – As interações entre a diversidade, que se complementa. “A agroecologia não é um conjunto de práticas, de receitas, e sim de princípios. Um sistema pode ser considerado saudável, quando todos estes processos estão funcionando”, disse.
Na parte da tarde, Roselita Vitor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio da Coordenação do Polo da Borborema, fez uma contextualização da experiência visitada, trazendo um pouco da história do trabalho e a da organização do Polo na região.
Clara Nichols destacou o momento histórico que as organizações que defendem a agroecologia estão vivendo no Brasil: “O momento é histórico e temos a oportunidade de dar com a Planapo (Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica), no sentido de convencer as pessoas que ainda não estão convencidas que esse sistema dá resultado. Outro ponto é que as organizações têm a agroecologia como uma bandeira de luta, com a metodologia de agricultor a agricultor é que será possível concretizar isso”, disse.
Marcelo Galassi, da coordenação do Programa Paraíba da AS-PTA, lembrou da importância da interação com a pesquisa, a exemplo da pesquisa em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros, que comprovou uma coisa que os agricultores já sabiam: que as sementes crioulas são superiores às variedades comerciais, mas que foi uma conquista política importante a reafirmação das experiências dos agricultores pela pesquisa. Ele lembrou ainda o tema do III Encontro Nacional de Agroecologia, “Por que interessa à sociedade apoiar a Agroecologia?”.
Altieri complementou comentando pesquisas recentes que comprovaram que alimentos orgânicos diminuem a hiperatividade em crianças, além de outro estudo que comprovam que regiões rodeadas de áreas de agricultura familiar tem uma temperatura de 5 a 12 graus menor e são menos violentas.