A AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema está realizando, desde o final do mês de agosto, um conjunto de formações com sete turmas de professores e gestores escolares dos municípios de Esperança, Lagoa Seca, Remígio, Massaranduba, Algodão de Jandaíra, Montadas, Casserengue e Alagoa Grande. Os oito municípios estão recebendo o Projeto Água nas Escolas, que viabiliza a construção de infraestruturas de captação de água de chuva em escolas rurais, na região executado pela AS-PTA. O Água nas Escolas é desenvolvido em parceria com as entidades da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), com recursos do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no âmbito do Programa Água para Todos, do Governo Federal.
Além da construção de 83 cisternas de placas de 52 mil litros, com captação da água de chuva de telhado, distribuídas nos oito municípios, o Programa prevê um conjunto de formações com educadores e gestores escolares para a gestão dos recursos hídricos e para a inclusão do debate sobre a importância da água dentro da escola. Na Borborema, as ações do Programa vieram se somar ao trabalho que a AS-PTA, por meio do Núcleo de Infância e Juventude em parceria com o Polo da Borborema, já vem fazendo, no sentido de promover uma educação do meio rural contextualizada, que valorize a vida no campo.
Na Borborema as formações são sobre educação contextualizada e a convivência com o Semiárido, e envolvem professoras e professores e equipe pedagógica das escolas do campo de cada município e acontecem com a parceria das secretarias de educação e dos sindicatos rurais do Polo da Borborema. Cada turma tem cerca de 30 educadores e educadoras, envolvendo um total de 210 pessoas. O conteúdo é trabalhado em três módulos, o primeiro deles visita o surgimento da agricultura em diversas partes do mundo; o segundo explora a história da agricultura no território, quais as lutas, os tipos de agricultura praticados e suas características. Já o terceiro módulo pretende refletir de que forma os conteúdos trabalhados nos dois módulos anteriores podem ser levados para as salas de aula do campo e incorporados aos currículos escolares.
Segundo Manoel Roberval da Silva, da coordenação da AS-PTA, a essência da formação é promover uma reflexão sobre a educação do campo, suas especificidades e necessidades: “Existem os professores que moram na cidade e dão aula no campo e tem também as escolas da cidade que recebem os alunos do campo, então é importante que essas duas realidades, tão diferentes, sejam consideradas no momento de pensar o conteúdo das escolas, para que a realidade da cidade não desconstrua os conhecimentos adquiridos no meio rural”, disse.
Nos dias 16 e 17 de setembro, no Centro Pastoral Paroquial de Esperança-PB, aconteceu o primeiro módulo da formação no município. Um total de 45 professoras e professores de 14 escolas de 15 comunidades rurais de Esperança participaram da atividade. A programação foi aberta com uma mística que valorizou o conhecimento repassado de geração para geração, aprendido com os avós. Maria do Socorro Santos, atriz e pedagoga do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA, encarnou “Maria Flor”, uma moça que conta como o hábito de contar histórias de sua avó Maria, lhe ensinou a amar a leitura, a vida na agricultura e a partilha de conhecimento.
Após esse momento, houve a apresentação dos participantes, que escreveram em tarjetas as suas expectativas para a formação. Através de uma rápida encenação José Edson Possidônio e Nirley Andrade Lira, do Núcleo de Recursos Hídricos da AS-PTA, apresentaram os Programas P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas) e P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas), além do Água nas Escolas. Em seguida, os educadores se dividiram em dois grupos para conversar sobre a seguinte pergunta: “Como eu aprendi a ler?”. Logo depois foi feita uma rodada de reflexões sobre o debate em grupo.
No período da tarde, foi feita uma discussão sobre a história da agricultura, seu surgimento no mundo e suas fases de evolução, além da origem dos alimentos consumidos na nossa dieta hoje. No segundo dia de formação foi montado um Carrossel de Experiências, onde os participantes se dividiram em dois grupos para conhecer as experiências dos agricultores Givaldo Firmino dos Santos, do Sítio Caldeirão, e Ligória Felipe dos Santos, do Sítio Lagoa do Sapo, que falaram sobre as suas vivências como agricultores familiares. Após o carrossel, foi feito um debate sobre as principais lições e aprendizados.
A professora Patrícia Alexandre falou sobre o seu sentimento com relação à formação: “A proposta da formação é interessante, a experiência que foi trazida, o envolvimento da família na agricultura familiar. A importância de uma alimentação orgânica e saudável é importante. Nós professores devemos levar essas experiências para dentro da escola, para que os alunos aprendam os saberes, a relação com a natureza, o respeito com a terra e as outras formas de vida. Meus pais moram no sitio e no quintal tem um monte de mudas, isso é bom e serve até como uma terapia”, disse.
Os educadores assistiram ainda a uma vídeo-carta, onde a jovem Ana Joaquina, do Sítio Cachoeira de Pedra D’água, município de Massaranduba, fala sobre a sua experiência de jovem agricultora e seu amor pela agricultura. O vídeo é usado para ajudar na reflexão sobre o significado político da agricultura familiar como modo de vida e como modo de produção. Ao final do primeiro módulo da formação, cada participante leva a tarefa de trazer para apresentar no módulo seguinte, a maneira como cada escola onde trabalha olhou e refletiu, junto com toda a comunidade escolar, sobre a história e agricultura desenvolvida naquele espaço.