Aconteceu em Alagoa Nova, região de atuação do Polo da Borborema, a segunda etapa da Formação Territorial sobre Seleção, Produção e Multiplicação de Sementes, do Projeto Sementes do Semiárido. Com participação de cerca de 40 agricultores e agricultoras vindos de várias regiões do Polo da Borborema, o momento teve como objetivos principais o aprimoramento das capacidades de seleção e multiplicação de sementes, a valorização das práticas tradicionais de plantio e seleção e ainda a ampliação das estratégias de produção de sementes da paixão para comercialização entre as famílias agricultoras.
Recepcionados com um café da manhã e as boas vindas do agricultor José de Oliveira Luna, conhecido como seu ‘Zé Pequeno’, em sua propriedade no Sítio São Tomé II, os participantes iniciaram as atividades do dia. Foi feito um resgate sobre os conteúdos apresentados na última formação, realizada em agosto, quando as plantas de milho estavam no “ponto de pamonha”, como chamam as famílias agricultoras. Foram feitas perguntas orientadoras como: Por que selecionamos as sementes para os Bancos de Sementes Comunitários (BSC)? Como selecionamos as sementes para os BSC? Que características importantes desejamos numa planta de milho?
Um dos pontos importantes do resgate foi a do processo seleção e identificação das melhores plantas de milho no roçado realizadas no primeiro encontro. Para isso, foram refletidas e levadas em consideração as características mais relevantes das plantas para os agricultores como altura, produção de massa verde, tamanho das espigas e sanidade da planta e da espiga. Os agricultores e agricultoras já haviam começado a seleção marcando as plantas através de barbantes fixados nos pés de milho espalhados pelo roçado de Seu Zé Pequeno. Agora, três meses após a primeira etapa, os agricultores voltaram ao roçado para continuar a seleção. Seu José Francisco, agricultor da Comunidade Riacho Fundo de Arara, lembrou que para se ter boa semente de milho, é necessário na hora do plantio observar três questões: “não é bom outro roçado de milho perto para não acontecer cruzamento entre variedades; precisamos plantar uma semente de boa qualidade; e por fim, que seja num roçado onde a terra seja forte, ou seja, terra bem adubada”, explica.
Depois desse debate, os agricultores e agricultoras voltaram ao roçado para continuar a seleção massal do milho jabatão. Divididos em grupos, os agricultores e agricultoras voltaram ao roçado para colher o milho das plantas marcadas na última atividade, além de trazerem espigas que não foram identificadas como bons exemplares na última visita. Após a colheita, uma nova seleção foi realizada agora levando em consideração os seguintes quesitos: sanidade das espigas, enchimento e enfileiramento das sementes na espiga, coloração das sementes.
Durante o momento da seleção, seu Zé Pequeno, com sua sabedoria acrescentou que costuma fazer a seleção das sementes de milho em três tipos. “Seleciono as sementes em Tipo 1 quando estão no centro das melhores espigas, essas são as mais recomendadas para guardar no banco de semente para plantio no ano seguinte. Considero as do Tipo 2 aquelas sementes das espigas com fileiras desuniformes, esse material é muito bom para venda no mercado. E as do Tipo 3 são as sementes das pontas das espigas, essas não são as melhores sementes para guarda e nem para o mercado, mas deixo para alimentação das galinhas e para outros animais de terreiro”, termina.
Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, explica que a seleção massal é uma das maneiras de selecionar as melhores características de determinadas espécies de sementes que será utilizada na próxima geração como matriz reprodutora. Com sabedoria, as famílias agricultoras selecionam as melhores amostras, semeiam no ano seguinte em seu roçado, e assim vão melhorando cada vez mais suas sementes da paixão: “Esse método de seleção já é feito por grandes empresas que comercializam sementes. Nosso objetivo com essas Capacitações Territoriais é que as famílias dos vários BSC que fazem parte da Rede de Bancos de Sementes da Borborema possam melhor sua base genética e afirmar cada vez mais sua capacidade de guardiões e guardiãs das sementes da paixão”, afirma.
O momento da seleção foi importante também para relembrar os participantes de como seus pais e avós faziam as seleções das sementes antigamente, inclusive encontrando semelhanças entre os métodos feitos por eles e os apresentados na formação. José Domingos de Barros, conhecido como seu “Loro”, agricultor da comunidade Cachoeira de Pedra D’água, em Massaranduba-PB, lembra que seu pai fazia uma seleção muito semelhante a essa, guardando muitas vezes milho para ser vendido a vizinhos que não costumavam guardar sementes como ele fazia: “Muitos agricultores confiam demais na seleção das sementes que o governo faz e recebem essas sementes sem perceber a riqueza que são as nossas sementes da paixão”, completa seu Loro.
Por fim, o grupo afirmou como compromisso dessa formação continuar a multiplicação das melhores espigas selecionadas por meio da implantação em 2016 de novos campos multiplicação do milho jabatão. Aproveitando a presença de lideranças de comunidades e de BSC da região, já foram definidos nesse momento municípios e comunidades para implantação dos campos (Massaranduba, Arara, Casserengue, Remígio, Damião, Solânea, Lagoa Seca e Esperança), de forma que a rede de sementes do Polo da Borborema possa ser um grande fornecedor de sementes de milho para os programas públicos de distribuição de sementes.
O Projeto Sementes do Semiárido é desenvolvido em parceria pelas organizações da Articulação Semiárido Brasileiro, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Governo Federal por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no âmbito do Programa Brasil Agroecológico – Plano Nacional de Produção Orgânica e Agroecologia (Planapo). Na Paraíba existem três unidades gestoras do Projeto, uma delas é a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que atua em parceria com o Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos rurais da região da Borborema, que trabalha pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica.