A agricultura camponesa vem produzindo alimentos agroecológicos capazes de saciar a fome de maior parcela da sociedade, assegurando o direito humano à alimentação adequada e saudável, e contribuindo significativamente com a preservação do ambiente, das nascentes e dos fragmentos florestais existentes. Não são poucas as evidências da eficácia da agricultura em bases agroecológicas, seja nos artigos científicos, nos livros, ou nas rodas de conversas entre agricultores e agricultoras, que ao manter as suas trajetórias nesta direção, a cada dia ratificam mais o desejo de cultivar alimentos, e de proporcionar uma vida saudável para si e para a sociedade.
Foi com este espírito que assessores técnicos, agricultores e agricultoras da região metropolitana do Rio de Janeiro participaram de um seminário de confraternização promovido pela AS-PTA e seus parceiros, que reuniu mais de 150 pessoas, no Sítio Família de Jesus, em Nova Iguaçu-RJ, no dia 21 de dezembro.
Entre as conversas, risos e oportunidade de rever amigos, o clima festivo do encontro também foi permeado por um momento de avaliação do ano de 2015 e perspectivas para 2016. Representantes de vários grupos, feiras e instituições de Nova Iguaçu, Paracambi, Magé, Guapimirim e Rio de Janeiro ratificaram em suas avaliações, o sucesso do fortalecimento dos mercados de proximidades que ocorreu neste ano, não só pela geração de renda, mas porque puderam através da venda direta nas feiras locais, manter e fortalecer relações sociais com os consumidores, em que a pauta principal é a valorização da sua prática de produção de alimentos e preservação ambiental.
Além das feiras que ocorrem semanalmente nestes municípios, outras formas de viabilizar a geração de renda por meio da venda dos seus produtos, como eventos e feiras anuais, o acesso ao PNAE e as políticas públicas, de maneira geral, também foram ressaltadas. Contudo, ainda resta uma grande insatisfação das agricultoras e agricultores pelas dificuldades que encontram para ter garantidos os seus direitos, em grande medida pela ineficiência do estado que trata a agricultura como o símbolo do atraso ao desenvolvimento.
Não foram poucas as conquistas, mas as ameaças aos territórios agrícolas são muitas e crônicas e afetam diretamente a produção agrícola da região metropolitana. Ainda permanecem os problemas de acesso ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, seja inerente às gestões das escolas públicas que acham que é mais fácil continuar comprando dos grandes fornecedores, seja inerente à dificuldade de acesso à DAP e a informação da divulgação das chamadas públicas para aquisição de alimentos para a alimentação escolar.
Mas os agricultores também avaliam com autocríticas seus problemas de gestão e a ausência de laços de solidariedade que comprometem o fortalecimento das associações, cooperativas e grupos de feiras. Percebem que o avanço da agricultura camponesa depende também deste fator, que não deixa de ser fruto das políticas e ações individualistas que o estado muitas das vezes promove. A ausência e/ou inexistência de sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, que representem os interesses da agricultura familiar, foi citada pelos cinco grupos como um dos seus problemas organizativos.
Como perspectivas para 2016 os agricultores e agricultoras desejam avançar mais nos mercados locais. A estruturação das feiras com novas barracas, banheiro químico, melhoria da acessibilidade dos fregueses, local de estacionamento, a abertura de novos pontos de venda de produtos da roça e agroecológicos na Vargem Grande e em Magé, acessar novos mercados locais, o reconhecimento da Feira da Roça de Nova Iguaçu como patrimônio público e a adequação da divulgação das feiras, são algumas dicas para os próximos anos.
As políticas públicas podem também seguir na direção de apoiar as ações das mulheres agricultoras, seja na regularização das cozinhas caseiras de beneficiamento de polpas e doces de frutas, no fomento do cultivo de laranjas e de morango como no caso de Guapimirim, seja na promoção do protagonismo feminino nos municípios, ou mesmo finalização o viveiro de produção de mudas medicinais no Rio da Prata.
De maneira geral, a avaliação das agricultoras e agricultores, junto com a equipe técnica da AS-PTA, mostra também a necessidade de avançar nesta parceria solidária e com mais participação das secretarias municipais de agricultura, com a aproximação dos sindicatos e parlamentares para que seja alcançado êxito na revitalização do espaço agrícola em Campo Grande, na consolidação da lei de obrigatoriedade de inclusão de produtos orgânicos na alimentação escolar no Rio e a implantação da “escolinha de agroecologia” na Zona Oeste do Rio.
Para que a agricultura camponesa siga gerando alimentos saudáveis, abastecendo as escolas, feiras e, diretamente os lares na região metropolitana do Rio de Janeiro, faz-se necessária a continuidade do apoio às redes e organizações dos agricultores/as. Resistir e organizar as nossas forças são as palavras que talvez exprimem o sentimento que saímos desse encontro.
Que 2016 nos traga os frutos, as flores e novas sementes sejam colocadas na terra. Que possamos construir novos arranjos e articulações locais para fortalecer esse movimento em prol da vida.
A atividade de avaliação e planejamento do Programa de Agricultura Urbana contou com o apoio da Misereor.