Cerca de 60 jovens envolvidos na dinâmica de trabalho do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais da região da Borborema, participaram, nos dias 30 e 31 de maio, em Campina Grande-PB, de uma oficina sobre comercialização. Os jovens fazem parte da Comissão de Juventude do Polo e durante os dois dias, trocaram experiências e traçaram estratégias para ampliar e fortalecer o papel dos jovens na comercialização dos produtos da agricultura familiar nas feiras agroecológicas, na venda porta a porta e nos programas governamentais de compra direta.
Após uma mística de abertura, foram apresentadas, em formato de carrossel, quatro experiências de jovens no campo da comercialização. Assim, os participantes se dividiram em quatro grupos e rodaram pelas quatro estações montadas em espaços distintos onde conheceram as experiências dos jovens: Rayanne Pereira dos Santos, de 13 anos, que mesmo em uma terra muito pequena, já produz e comercializa na feira agroecológica de Massaranduba-PB; Wandeilson Alfredo, de 18 anos, que desde criança acompanha seus pais, feirantes de feiras livres de sua região e passa por um momento de transição para a venda de sua própria produção, sem veneno; O casal de feirantes Rosicleide dos Santos Gonçalves e Gabriel Gonçalves da Silva, de Alagoa Nova que migrou para o Sudeste e depois retornou para a agricultura e, por fim, dos primos e parceiros na atividade da apicultura e na feira agroecológica de Areial, Adevan Firmino dos Santos, 21 anos e Alexandre dos Santos Ferreira, 29 anos.
Uma a uma, as quatro experiências foram sendo visitadas, cada jovem teve a oportunidade de contar sobre o significado da comercialização dentro da sua experiência e os ganhos que a atividade vem trazendo como o incremento de sua renda, o aumento da sua autoestima e fortalecimento de sua identidade enquanto agricultor. Uma das experiências que mais chamou a atenção foi a da adolescente Rayane, que mesmo tão jovem, já começa a pavimentar o caminho da sua autonomia: “a renda do que eu levo para vender na feira, dos beijus, frutas e mudas, fica pra mim. Sou eu quem compro as minhas coisas, material escolar, roupas. Só quando o valor de alguma coisa é muito alto é que peço uma ajuda para os meus pais”, conta orgulhosa a jovem.
No período da tarde, após o carrossel, os participantes da oficina debateram em plenária as lições trazidas pelas experiências apresentadas durante a manhã. Foram levantadas como aprendizados: a resistência do jovem, que mesmo em muitos casos não sendo estimulado a ficar, opta pela vida na agricultura; não são só os grandes roçados que garantem a renda e é possível viver da agricultura familiar com dignidade.
Márcia Araújo, jovem integrante da direção do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca-PB, resumiu o sentimento da maioria dos participantes após a manhã de trocas: “A gente percebeu nas quatro experiências o quanto a diversidade na produção contribuiu para a comercialização, vimos ainda que as feiras agroecológicas tem sido uma verdadeira porta para os jovens que estão buscando a sua autonomia. Vocês são um exemplo e estão mostrando que a juventude tem poder e quando ela quer, ela vai lá e faz. Esse negócio de dizer que jovem não quer nada, não é verdade, o que acontece muitas vezes é a falta de oportunidade”, disse.
Após essa rodada de debate os jovens se dividiram em grupos por municípios e responderam à seguinte questão: “A partir das experiências apresentadas e do debate, como podemos agregar mais jovens nas feiras e fortalecer a comercialização em nossos municípios?”.
Na parte da noite, após o jantar, foi realizada uma oficina de “danças Circulares”, ministrada pelos educadores populares convidados Chiquinho de Assis e Damiana Júlia, de Recife-PE. Os dois apresentaram seis danças circulares, que segundo eles, trabalham a educação e a saúde integral do indivíduo. “Trabalhamos a dança numa perspectiva dos quatro elementos (água, fogo, terra e ar), pois o indivíduo, ao estar em círculo, se percebe como igual a todos, mas igual na diferença, e deve perceber que na sua diferença, não existe certo nem errado”, explica Chiquinho.
Na manhã do segundo e último dia, os jovens iniciaram o dia com uma dinâmica onde escreveram em bolas de sopro o nome do produto que mais comercializam nos seus espaços, em seguida cada jovem pregou a bola em um grande “J” da palavra juventude. Após esse momento, foi feita a devolução dos grupos da tarde anterior.
Durante a apresentação, os grupos elencaram uma série de ações necessárias para fortalecer a participação dos jovens na comercialização, entre elas: A realização de mais oficinas, visitas de intercâmbio e momentos de trocas de experiências; Fortalecimento e ampliação dos Fundos Rotativos Solidários de jovens; Um maior envolvimento dos jovens nos sindicatos e associações locais; Maior apoio e incentivo dos pais; Uma maior aproximação com a Ecoborborema (Associação de Feirantes do Polo) e investir na comunicação para divulgar a importância dos produtos sem veneno e divulgação das feiras.
Os jovens feirantes e sócios da Ecoborborema fizeram uma breve apresentação da associação e falaram sobre o significado de estarem organizados para fortalecer o acesso à mercados. Silvana Santino dos Santos, de 28 anos, moradora do Assentamento Cícero Romano, em Esperança-PB, conta que participa das atividades do sindicato e do Polo desde os 12 anos de idade e fala da satisfação de ver outros jovens exercendo um papel na coordenação das feiras: “Eu sempre participava e só tinha eu de jovem, hoje eu coordeno do fundo rotativo da feira de Esperança, além de ajudar na coordenação. Estou muito feliz em ver tantos jovens nas feiras e tendo a sua renda”.
Após socialização, os jovens fizeram uma rodada de debate acerca da conjuntura política do país, em torno da pergunta: “O que está acontecendo no Brasil?” e “O que nós, jovens, podemos fazer?”. Danilo Ricardo da Silva, jovem de Alagoa Nova, foi um dos primeiros a falar: “Estamos vivendo um golpe com a retirada de direitos. Os que estão aí querem é o retrocesso, eles querem o pobre no lugar onde ele estava antes, na miséria. Não querem que o pobre tenha carro, para não atrapalhar eles nas ruas, não querem o pobre nos aeroportos, nas faculdades, não querem que o jovem tenha celular. O que eles querem é a gente servindo de mão de obra barata para eles”, avaliou.
Sidinéia Camilo Bezerra, de 21 anos, do Sítio Caiana, em Remígio, também avaliou o momento atual: “O povo às vezes só vê o lado negativo. Dizem que o Bolsa Família deixa o povo acomodado. Eu acho que fica acomodado quem quer, porque o Bolsa Família é para colocar aquela comida certa na mesa do povo. É aquele pouquinho, não dá para sustentar família, não. Então as pessoas tem que entender que se o, Bolsa Família, as cisternas, o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) forem cortados, quem vai ser prejudicado somos nós. Tiraram Dilma, mas só fizeram nos prejudicar”, afirmou.
Os jovens encerraram o debate afirmando a necessidade da juventude estar mobilizada nas ruas, contra o golpe, a favor dos programas sociais e das políticas públicas de juventude e em defesa da reforma agrária. Neste sentido, planejaram a realização da Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa do Polo da Borborema, que acontecerá no dia 30 de junho em Massaranduba, além de uma série de Encontrões da juventude em preparação à I Marcha da Juventude Camponesa na luta pela Agroecologia, prevista para acontecer no dia 28 de julho de 2016.