Com o objetivo de socializar o conhecimento sobre as estratégias produção e colheita das sementes hortaliças, aprofundar o debate sobre o armazenamento (seleção, tempo de viabilidade, secagem, quantidade, umidade e temperatura) e refletir sobre as estratégias de conservação das sementes de hortaliças nos Bancos de Sementes Comunitários (BSC), além de definir orientações para aprofundar o conhecimento e monitorar as sementes de hortaliças possíveis de multiplicação na região da Borborema, aconteceu entre os dias 15 e 17 de junho de 2016 o Seminário sobre Produção de Sementes de Hortaliças, em Lagoa Seca-PB.
Na abertura do seminário, Manoel de Oliveira, conhecido como ‘Nequinho’, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova-PB e da coordenação do Polo da Borborema, falou sobre os 20 anos de atuação do Polo da Borborema em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que serão completos no dia 25 de junho de 2016. Nequinho disse que o Polo foi criado para unificar as lutas dos sindicatos da região em defesa da agricultura familiar agroecológica. “Por isso, estamos unidos nessa atividade para definirmos estratégias para avançar no trabalho de produção das sementes de hortaliças e fortalecer a produção agroecológica na região”.
Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA, lembrou que o Seminário foi um desdobramento da Oficina de Sementes de Hortaliças realizada durante a VI Festa Estadual das Sementes da Paixão, por iniciativa da Rede de Sementes da Articulação do Semiárido Paraibano. De acordo com o Emanoel a ideia do Seminário partiu da necessidade de ampliar esta discussão das sementes de hortaliças para mais famílias agricultoras do Polo da Borborema.
O primeiro dia de formação foi dedicado ao aprofundamento de questões relacionadas à produção, seleção e armazenamento das sementes de hortaliças de acordo com a realidade e as condições de adaptação no semiárido. Este momento foi facilitado por Pedro Jovchelevich, engenheiro agrônomo e membro da Associação Biodinâmica, com sede em Botucatu, São Paulo. A Associação desenvolve um trabalho de promoção da agricultura biodinâmica nos estados de São Paulo e no Sul de Minas Gerais, movimento percussor da agricultura biodinâmica.
Os agricultores e agricultoras participantes do seminário trouxeram sementes de hortaliças e plantas frutificadas, deram ainda depoimentos sobre suas experiências na produção deste tipo de semente. Foram trabalhados conteúdos como: os princípios de produção de sementes; a origem das plantas; os sistemas de reprodução das plantas; os centro de origem dos alimentos; a importância de produzir sua própria semente; a legislação brasileira e internacional de sementes; como produzir a sua própria semente; e, por fim, onde conseguir sementes crioulas e de variedades comerciais de hortaliças para serem multiplicadas no Território da Borborema.
“A gente precisa debater a semente de hortaliças tanto pela legislação, que não vai permitir a comercialização de produtos com sementes não orgânicas nas feiras agroecológicas, tanto por uma questão de princípios, da nossa produção agroecológica”, ressaltou Emanoel Dias. “Eu falo com a experiência de quem tem mais de 20 anos trabalhando com verduras, acho que estava faltando um momento como este para a gente perceber a importância. Antes o agricultor achava mais fácil ir numa casa de sementes e comprar a sua semente de hortaliças, porque antes era mais barato, hoje não, além de todos os outros problemas, então estava faltando esse estímulo, para gente se interessar mais”, afirmou José Irenaldo, agricultor feirante de Remígio-PB, da Coordenação da Ecoborborema, associação que está a frente das 12 feiras atualmente existentes na região da Borborema.
O segundo dia de encontro foi reservado para visitas a três propriedades, duas simultâneas, na parte da manhã, e uma no período da tarde. Pela manhã foram visitadas as propriedades do agricultor Pedro Ferreira, que planta uma diversidade de hortaliças em apenas um hectare de terra, no Sítio Alvinho, e ao agricultor Antônio Rodrigues, com uma experiência de mais de 15 anos com venda de hortaliças e entregas à domicílio no Sítio Oiti, ambas em Lagoa Seca-PB. À tarde, os participantes conheceram a produção de Irenaldo, no Sítio Cunha, município de Areia-PB, município vizinho ao seu, Remígio, lá o agricultor tem como um espaço dedicado apenas à produção de uma variedade de hortaliças, que comercializa em duas feiras agroecológicas e para programas governamentais de compra direta.
Na sexta-feira, dia 17, foi um momento de planejar ações para a multiplicação de sementes de hortaliças com a instalação do primeiro banco de sementes de hortaliças do Polo da Borborema. Foram debatidos os princípios de seleção e melhoramento participativo, a prática de avaliação da germinação, pureza e matéria seca e os princípios para secagem e armazenagem das sementes com técnicas caseiras. “Se somos agricultores agroecológicos, temos que defender o nosso patrimônio que são nossas sementes, e o que vale para a nossa semente da paixão do milho, da fava do feijão, deve valer para nossa semente de hortaliças também”, afirma seu José de Oliveira Luna, conhecido como “Zé Pequeno”, do Sítio São Tomé II, Alagoa Nova-PB. Ao final, foi encaminhada a multiplicação das sementes de hortaliças nas propriedades das famílias agricultoras, com destaque para seis jovens agricultores que estão responsáveis pela multiplicação em suas propriedades das seguintes variedades: coentro, alface, rúcula, brócolis, espinafre e tomate cereja. Essas variedades crioulas de hortaliças foram adquiridas junto a Associação Biodinâmica.