Cerca de 70 mulheres lideranças, presidentes de sindicatos rurais, de associações comunitárias, de fundos rotativos solidários e de conselhos municipais, participaram no dia 7 de julho, no Convento Ipuarana em Lagoa Seca-PB, do Debate Mulheres na Política, realizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais da região da Borborema na Paraíba.
Abrindo a manhã, houve uma rodada de apresentação das participantes, que se apresentaram e informaram os espaços em que estavam atuando e se eram pré-candidatas a algum cargo nas próximas eleições. O debate teve início com três depoimentos de mulheres sobre as suas experiências em espaços de poder na política. A primeira a falar foi Maria Celina, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Casserengue-PB e integrante da coordenação do Polo da Borborema.
Atualmente em seu terceiro mandato à frente do STR, Maria foi vereadora do município por um mandato pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e conta que se desapontou um pouco com o cargo e suas limitações: “Não quero aqui desanimar ninguém, não. Mas isso é uma coisa de mim. Eu achava que ia poder fazer o que eu pensava quando chegasse naquele espaço, mas lá você não pode, não. Os desafios são muitos, eu era a única vereadora mulher, e quase não permitiam nem que eu falasse. Ainda assim, eu acho importante a mulher ocupar estes espaços, porque isso tudo que a gente vê errado acontecendo aí, começa no nosso município, então a gente precisa participar e saber votar”, avalia.
Roselita Vitor, da Coordenação do Polo da Borborema e liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB falou sobre a sua experiência como candidata a vereadora por duas vezes pelo PT e como secretaria de assistência social do seu município: “Vim de uma família de sem terras e desde muito cedo aprendi o meu lugar, eu sou da classe trabalhadora e se quisesse alguma melhora, tinha que ir para luta. Iniciei a militância nos grupos de jovens da igreja católica e ajudei a fundar o partido dos trabalhadores em Remígio e depois fui convidada a contribuir com o sindicato e mais tarde como a ser candidata a vereadora. Minha campanha foi feita com vaquinha entre os nossos companheiros. Mas tive muita dificuldade, nas duas vezes, porque eu sou contra a corrupção e nunca iria aceitar comprar votos pra me eleger. E eu dizia isso para as pessoas. Poderia ter usado o STR pra me eleger, mas eu jamais faria isso. Eu via o voto individualizado, na base do tapinha nas costas, mas eu sempre achei que a gente tem que votar pensando coletivamente, no que é melhor para todo mundo e não só olhando para si”, disse.
O terceiro e último depoimento foi o de Lucileide Alves Gertrudes, conhecida como “Leda”, assessora técnica da AS-PTA, que tem uma história como liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca-PB, um dos percussores do Polo da Borborema. Leda iniciou sua militância muito cedo, em grupos de jovens ligados à igreja católica, que mais tarde venceram a eleição para o STR. Ela falou sobre a experiência como candidata a vereadora no início da década de 90 pelo PT e como primeira secretária mulher de agricultura do município, nos anos de 2005 a 2006: “Para mim foi um desafio muito grande. Diversas vezes fui chamada a atenção por ter colocado um número grande de mulheres dentro da secretaria, por abrir a secretaria para as pessoas. Diziam que eu falava demais, e ainda tem aquele machismo de questionar: ‘e mulher entende de plantio, de máquinas?’. Também me frustrei um pouco, porque você vai para estes espaços com muita vontade de fortalecer aquela luta, aquela história que você já conhece, mas é muito desafiador quando você chega lá”, afirmou.
Em seguida foi concedida a palavra a Josilene Oliveira, que esteve representando a Deputada Estadual Estela Bezerra (PSB-PB), que havia sido convidada para contribuir com o debate e, por problemas de saúde, não pode comparecer. Josilene é assistente social e faz parte da assessoria da deputada, atualmente encontra-se afastada porque é pré-candidata pelo PSB a uma das vagas na Câmara de Vereadores de Campina Grande-PB. “Eu sempre contribuí com campanhas de deputados, de vereadores, mas na disputa para mim era uma realidade muito distante, pois infelizmente, a gente está acostumado a votar, mas não se vê neste espaço”, disse. A convidada falou ainda do desafio de concorrer enquanto mulher negra e que não tem a política como um negócio de família.
Após as falas, foi aberta uma rodada de debates em que várias participantes se colocaram, duas mulheres do Polo da Borborema e pré-candidatas, estiveram entre elas: Maria Leônia Soares, acaba de se afastar da presidência do sindicato dos trabalhadores rurais de Massaranduba-PB para concorrer ao cargo de vice-prefeita. Ana Paula Cândido, se afastou da direção do STR Queimadas-PB para disputar uma vaga de vereadora em seu município. Ambas são filiadas ao PT.
Leônia, ou “Léia”, como é mais conhecida, destacou o grande número de mulheres da base do Polo concorrendo a mandatos: “Esse aumento é um resultado do trabalho que vimos fazendo, do debate sobre a violência contra a mulher e sobre o papel das mulheres camponesas”, ressaltou. “No meu município o poder econômico é muito forte nas eleições, além da história de famílias tradicionais se envolverem na política. Eu enquanto mulher, pobre e negra, sei que tenho um desafio muito grande pela frente. Mas é importante ocupar estes espaços para fortalecer o debate sobre o nosso projeto político”.
Ana Paula disse que a luta das mulheres do Polo serve de exemplo e encorajamento para ela: “Me senti comtemplada nos depoimentos das três mulheres e me inspirei em cada uma das mulheres do Polo para colocar o meu nome para contribuir com a mudança no meu município. Assim como a deputada e todas as outras que tiveram essa experiência, quero fazer a diferença na câmara”, finalizou.
As agricultoras do Polo da Borborema concluíram que é necessário que as mulheres ocupem espaços políticos para levarem as suas pautas, mas também perceberam que o aprendizado do voto é fundamental para a defesa de um projeto político que contemple as pautas dos trabalhadores do campo e, sobretudo, das mulheres do campo. “Debates como esses precisam ser multiplicados em nossos municípios, precisamos refletir sobre o papel das mulheres e também refletir sobre os projetos em disputa. Precisamos fortalecer nosso projeto para saber votar”, afirma Maria do Céu Silva, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Solânea. “Temos que sair daqui para ser formigueiro em nosso lugar”, conclui Gizelda Beserra.