Do sonho de duas amigas amantes da agroecologia surgiu a Caravana Cultural e Agroecológica Kombosa me CarRega. O sonho era viajar por dois anos conhecendo experiências de agroecologia nos mais variados recantos do país a bordo de um veículo modelo Kombi. A ideia, que parecia maluca, acabou saindo do papel quando Marília Cucolichio, engenheira florestal, 27 anos, e Isabela Ladeira, ou Bela, agrônoma, 26 anos, então morando em Viçosa-MG, resolveram levantar o dinheiro para o projeto por meio de um financiamento coletivo na internet (https://benfeitoria.com/kombosamecarrega).
O objetivo da viagem é conhecer, vivenciar e registrar experiências as mais diversas em agroecologia e contribuir para a articulação destas experiências e com a divulgação da agroecologia. Através de vídeos trimestrais, elas pretendem fazer “o anúncio e a denúncia do que viram”, o resultado no futuro deve se transformar em um documentário ou outro material que ajude a promover a temática. Por andam passam, as duas viajantes participam de ações locais e também propõem intervenções como oficinas de fabricação de produtos naturais de limpeza e higiene, tecido acrobático, galinheiros geodésicos, capoeira, danças e ritmos brasileiros e cinema na comunidade.
Ambas são integrantes da Rega – Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil, que congrega coletivos e organizações que atuam na agroecologia nas diferentes regiões do país com o objetivo de articular atores e promover o fortalecimento das organizações e da agroecologia. Elas contam que a ideia partiu da fusão desse sonho pessoal de cada uma com a vontade de trabalhar pelo fortalecimento da agroecologia. Bela conta que após passar pela experiência de trabalhar com agroecologia por seis meses na Bolívia, percebeu o quanto ainda desconhecia os atores e as experiências nesse campo em seu país.
As jovens partiram de Viçosa em dezembro de 2017 e já percorreram mais de 20 mil quilômetros, com uma primeira parada pelo Sul da Bahia e agora passando pela Paraíba. Bela e Marília contam que o plano era seguir um roteiro mínimo pré-estabelecido, mas com liberdade para poder fazer novas descobertas durante o caminho e mudar a rota “a gente gosta de dizer que o caminho se faz caminhando”, dizem elas.
Segundo as duas, foi por meio da Articulação Nacional de Agroecologia, uma das apoiadoras do projeto, que elas ficaram sabendo das experiências fruto da parceria entre a organização não governamental AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e o Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos de trabalhadores rurais que atuam há mais de 20 anos na região da Borborema, no Agreste da Paraíba.
A caravana chegou a região no dia 10 de julho, quando elas visitaram experiência de arborização e quintais produtivos de agricultoras experimentadoras no município de Remígio-PB. No dia 11 de julho, conheceram a experiência da Campanha de Valorização da Vida na Agricultura Familiar, voltada para crianças, e leva temáticas que tem a ver com a agricultura familiar para filhos e filhas de agricultores de uma forma lúdica e atrativa. Já na quarta, dia 12 de junho, elas participaram de uma visita à propriedade dos jovens agricultores Erivan e Sandra Farias Alves, no Sítio Floriano, em Lagoa Seca. A visita fez parte da Oficina de Formação dos Monitores e Monitoras Pedagógicos/as do Programa Cisternas nas Escolas, da Articulação do Semiárido Brasileiro.
Finalizando sua passagem pelo Polo da Borborema, a caravana foi até o município de Queimadas, onde conheceu dois dos mais de 60 bancos de sementes comunitários articulados pelo Polo da Borborema. Na Paraíba, as sementes nativas são conhecidas como “Sementes de Paixão”, nome que representa a relação dos guardiões da biodiversidade com o seu patrimônio genético cultivado pelas famílias agricultoras há várias gerações.
Avaliando esta etapa da visita, Bela e Marília contam que identificaram durante a visita pontos chaves do que viram e vivenciaram durante a sua passagem pela Borborema: “A gente vê que essas experiências são fruto de um trabalho muito sério, muito comprometido aliado às políticas públicas. A gente vê que essa junção, da política pública com o comprometimento dessas organizações, produziu transformações estruturais nas vidas das famílias que a gente conheceu. Nos chamou muito a atenção o empoderamento e a tomada de consciência das mulheres e da juventude. O que a gente identificou ainda como uma ameaça, é essa conjuntura nacional que vai atingir em cheio as políticas e as populações do campo serão uma das mais atingidas”, avaliam.
A Caravana Cultural e Agroecológica Kombosa me CarRega conseguiu arrecadar o valor correspondente ao primeiro ano do projeto. A campanha continua, mais informações podem ser obtidas pelo site: http://kombosamecarrega.wixsite.com/agroecologia