O espaço da Rua Rogaciano Nunes, no Centro da cidade de Massaranduba, Agreste da Paraíba, ficou pequeno para receber a I Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa do Polo da Borborema. Durante toda a manhã da quinta-feira, 30 de junho, o quarteirão ficou tomado pelas mais de 20 barracas que expuseram os produtos de 44 jovens feirantes vindos dos municípios de atuação do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais da região da Borborema na Paraíba. A feira foi organizada pela Comissão Regional de Jovens do Polo, em parceria com a EcoBorborema e com o Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que assessora o Polo e a Eco há mais de 20 anos.
A montagem das barracas foi finalizada às 7h, quando foi iniciada a venda de produtos, fruto do trabalho dos jovens, seja in natura como frutas, verduras e hortaliças, seja aqueles processados na forma de bolos, doces, polpas, cocadas, tapiocas e beijus. Dos mais de 40 que levaram seus produtos para vender, cerca de 20 já são feirantes integrantes da rede de 12 feiras agroecológicas da EcoBorborema, associação de feirantes do Polo Borborema. “A nossa intenção com a feira é também estimular que aqueles jovens que tenham alguma produção e que ainda não comercializem, possam começar a fazer isso e ter a sua própria renda. A gente quer quebrar esse paradigma de que o jovem não quer nada ou de que o jovem para se desenvolver, precisa estudar para sair da agricultura. Eu mesmo quero estudar para voltar para a agricultura”, conta o estudante de Agroecologia Eduardo Muniz, de 20 anos.
Terezinha Martins e Maria Aparecida Silva, tia e sobrinha, ambas de Massaranduba, chegaram logo cedo ao local da feira. Elas contam que ficaram sabendo da realização da feira através de um programa de rádio e vieram conferir. “Já conheço a feira daqui das sextas-feiras, mas eu acho que devia ter mais, principalmente sendo agroecológica, sem veneno. Se todo mundo tivesse essa consciência, a natureza não estava como está”, disse Maria Aparecida, que comprou um pacote de maracujá e outro de feijão guandu, “gosto de guandu porque ele até previne câncer”, disse a consumidora.
As 8h houve a abertura oficial da feira. Sabrina Maria Belo da Silva, de 16 anos, e Eduardo Muniz, da Comissão Municipal de Jovens de Massaranduba deram as boas vindas aos mais de 150 jovens participantes com a declamação de um poema e de versos de cordel de autoria da própria Sabrina e de outra jovem do município, Mônica Lourenço.
Em seguida, foi aberta a programação cultural com a apresentação do grupo de Ciranda local “Os Vicenças”, integrado também por dois jovens da comissão. Os visitantes da feira e os jovens participantes dançaram ciranda e cantaram canções que resgatam as tradições culturais do município anfitrião da feira. “A gente procurou buscar nessa feira, as expressões culturais presentes aqui no nosso município”, explicou o jovem e mestre de cerimônia, Eduardo Muniz.
Além dos jovens, muitos pais compareceram à feira para apoiar seus filhos. Um exemplo é o agricultor Severino Feliciano Tavares, do Assentamento Imbiras, Massaranduba. Ele é pai de Nael Alves de Lima Tavares, de 17 anos, integrante da comissão de jovens e feirante da feira agroecológica de Massaranduba. Pai e filho contam que, dos oito filhos da família, cinco permaneceram na agricultura. “Eu desde pequeno, uns sete anos, já acompanhava meu pai na feira, sempre ajudei”, lembra Nael. Seu “Biu” como também é conhecido diz que considera o apoio que dá ao filho fundamental para ele continuar o trabalho como agricultor.
Dando continuidade às atrações culturais da feira, se apresentou um pastoril formado em sua maioria por jovens da comissão de juventude do Polo. Logo após esse momento houve um desafio de repente, ou uma “peleja” como também é conhecido o momento em que dois repentistas se desafiam a criar rimas com críticas mútuas, em tom de brincadeira. Os desafiantes foram João Poeta, conhecido na cidade e o jovem Berg Mendonça, de 17 anos, morador de Massaranduba.
O grupo de capoeira Fundação Arte Brasil foi mais uma atração da feira, também formado por jovens do Polo da Borborema. Dentro da programação, foi aberto espaço para depoimentos de cinco jovens agricultores sobre as suas trajetórias na agricultura familiar. Os jovens Esdras Felipe Domingos, de 17 anos e João Vitor da Silva Pereira, de 15 anos, se apresentaram com voz e violão durante a feira. Os dois são do Distrito de Santa Terezinha, em Massaranduba.
Ainda dentro da programação da feira foi lançada a Campanha Regional “Não planto transgênicos para não apagar a minha história!” que está sendo organizada pelos jovens com o apoio da Comissão de Sementes do Polo da Borborema e do Núcleo de Sementes da AS-PTA. A Campanha vai trazer, em diversos formatos de materiais, informações sobre os riscos das sementes transgênicas e sobre como evitar a contaminação, diante da ameaça da entrada dos transgênicos no território agroecológico do Polo. Durante toda a manhã, uma barraca fez gratuitamente testes de transgenia com amostras de sementes dos agricultores.
Por volta do meio dia, o evento foi encerrado com palavras de ordem, muita música e animação dos jovens que dançaram forró pé de serra acompanhados por um trio de forró local. Ao se despedirem da feira, os jovens reafirmaram a sua disposição em manter vivas a sua identidade camponesa e as suas tradições culturais.
A Feira faz parte do processo preparatório para a I Marcha da Juventude Camponesa – na luta pela agroecologia, que acontecerá no dia 28 de julho, na cidade de Remígio-PB e deve reunir cerca de mil jovens dos municípios de atuação do Polo da Borborema. Na ocasião, acontecerá a segunda edição da Feira Agroecológica e Cultural da Juventude, ambas contam com o apoio do Projeto Sementes do Saber, com apoio do Comitê Católico Contra a Fome a Favor do Desenvolvimento (CCFD) da França, da terra dos homens, entidade da Suiça, e co-financiamento da União Europeia.