Presente nas feiras agroecológicas e em outros mercados locais desde maio deste ano, os produtos de milho livre de transgênicos e agrotóxicos fubá, xerém, mungunzá e o farelo produzidos no território da Borborema, já tem um saldo positivo segundo avaliação de feirantes, consumidores e lideranças do Polo da Borborema. O Polo é uma rede de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema na Paraíba que atua há mais de 20 anos pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Em 2018, o Polo montou uma unidade de produção regional, no município de Lagoa Seca na sede do Banco Mãe de Sementes, com o propósito de absorver a produção de milho das famílias e transformar nos quatro produtos para oferecer uma alternativa àqueles que buscam uma alimentação mais saudável e natural e ao mesmo tempo, valorizar a produção de milho agroecológico das famílias do território. O principal produto é o fubá agroecológico, que dá origem ao cuscuz, alimento que faz parte da cultura alimentar do Nordeste e tem presença diária na dieta das famílias. A compra é feita diretamente de guardiões e guardiãs de “sementes da paixão”, nome dado às sementes crioulas na Paraíba.
Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, explica que o processo se inicia com o mapeamento das famílias guardiãs das sementes da paixão que produzem milho e fazem parte da rede de bancos comunitários de sementes, em seguida, os grãos passam por testes de transgenia para assegurar a qualidade das sementes. Feito isso, o milho é adquirido e transportado para a unidade regional de produção dos derivados de milho livre de transgenicos, onde as são armazenadas com produtos naturais. A medida que o milho vai sendo moído e transformado em fubá, xerém e munguzá, os produtos são distribuídos para a venda na rede de feiras agroecológicas organizadas pela ECOBorborema, associação de feirantes que organiza as 12 feiras do território de atuação do Polo.
O recurso para a compra do maquinário e para a compra dos primeiros grãos veio de um projeto desenvolvido pela AS-PTA apoiado pela Fundação Porticus, mas o planejamento é que a unidade passe a se autofinanciar com a venda do produto nas feiras, tanto para cobrir os custos de produção, como para adquirir mais matéria prima. Inicialmente, foi feita a compra de 8.580 kg de milho de sete agricultores locais. Nas feiras, até o momento, já foram vendidos 1617 kg de fubá, 201 kg de xerém, 106 kg de mungunzá e 775kg de farelo para consumo dos animais. “Além das feiras da EcoBorborema, o produto tem sido requisitado para restaurantes, pontos de venda e feiras no Litoral e no Cariri do Estado, a exemplo das feiras ligadas à EcoVárzea, a Bodega Agroecológica em Soledade-PB e a Tenda Agroecológica em Boqueirão-PB”, comenta Emanoel.
O lançamento oficial do fubá agroecológico aconteceu no dia 05 de julho, durante a “Feira Regional de Produtos Agroecológicos”, em Campina Grande-PB que teve como tema “Por um São João Livre de Transgênicos e Agrotóxicos”. A feira foi realizada pelas entidades que fazem parte da Comissão de Produção Orgânica da Paraíba – CPOrg, entre elas a EcoBorborema. Desde então, a EcoBorborema tem promovido uma série de ações de divulgação e promoção de vendas do produto nas feiras do território. Programações festivas já aconteceram nos municípios de Arara, Esperança, Solânea, Remígio e Campina Grande.
Na ocasião, ao som de música, poesia e animação, os consumidores são convidados a degustar receitas com os produtos e aprendem como se faz o cuscuz. Anilda Batista, coordenadora da EcoBorborema e feirante do município de Remígio, tem participado das ações de venda, preparando as receitas degustadas. “A gente percebe que tem tido um grande impacto, uma procura muito grande. Vejo muito o interesse das pessoas em querer aprender o ponto certo do cuscuz, todos muito decididos a consumir o produto sem transgênicos. Todos comentam que aprovam o sabor e falam que se lembram do cuscuz que era feito pelos seus pais, seus avós”, comenta a agricultora.
A ação da feira em Campina Grande aconteceu em meados de agosto e atraiu um grande público. Mathew Berigan é norte-americano naturalizado brasileiro, aposentado e consumidor da feira agroecológica de Campina Grande há nove anos. Ele foi um dos que experimentou e aprovou o produto: “Faz muito tempo que eu procuro um produto não transgênico, gostei muito deste, está com um sabor ótimo e uma consistência que eu quero fazer igual na minha casa”. Luiz Teodoro, educador social e consumidor da feira elogiou a iniciativa: “A população precisa valorizar o que vem da agricultura familiar, é muito importante um momento como este, onde aprendemos a forma correta de manusear para prepararmos nas nossas casas”.
O fubá, o xerém, o mungunzá e o farelo fazem parte da linha “Do Roçado”, marca criada para denominar os produtos da agricultura familiar da Borborema, em uma iniciativa de padronização e melhoramento de embalagens e acondicionamento dos alimentos beneficiados.