Entre os dias 26 e 28 de junho, aconteceu em Campina Grande, o encontro preparatório à II Marcha da Juventude Camponesa do Polo da Borborema. Estiveram presentes nesse momento cerca de 60 jovens, mulheres e homens, de nove dos 13 municípios que compõem o Polo da Borborema, que é uma rede de sindicatos de trabalhadores rurais que atuam na região da Borborema pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica. A segunda edição da Marcha da Juventude do Polo está prevista para o dia 20 de novembro de 2019, no município de Lagoa Seca-PB.
“O Encontro teve como objetivo fortalecer a juventude Camponesa do Polo da Borborema, fortalecendo-os como jovens lideranças. Ao buscar perceber que são “tesouros escondidos” em suas comunidades, o encontro também teve como objetivo a inclusão de novos jovens dentro do movimento sindical, a ação voltada a mercados e o incentivo à participação de novas lideranças no processo preparatório da marcha” explicou Edson Possidônio, assessor técnico do Núcleo de Agrobiodiversidade e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, entidade eu há mais de 20 anos assessora do Polo da Borborema.
O evento iniciou com um debate sobre o município que irá receber a segunda edição da Marcha da Juventude, e em seguida foi feita uma retrospectiva do processo de histórico de organização do movimento de jovens do Polo, aprofundando suas percepções e o conhecimento da história que foi contada pela própria juventude por meio de uma linha do tempo, que teve início no ano e 2002 vindo até os dias de hoje.
Vários jovens relembraram sua atuação nas comissões de juventude e nos espaços que essa militância foi capaz de conquistar: “Hoje faço parte do sindicato de Esperança e da associação da minha comunidade, mas comecei a ocupar estes espaços a partir de minha participação do movimento de juventude do Polo. Consegui recentemente ocupar uma cadeira na coordenação executiva do Polo”, conta Edson Johnny, jovem da Comunidade de Umbu.
No segundo dia de encontro, Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, iniciou falando sobre acesso a mercados dentro do território da Borborema, trazendo ações concretas que estão em curso e seus resultados. Foi feito ainda um resgate sobre como o território foi sendo ocupado e durante as discussões, foram levantados os diferentes tipos de mercados nos quais a juventude se insere na atualidade, analisando as múltiplas formas de inserção. A juventude se dividiu em grupo para refletir sobre as questões: “O que eu produzo? E o que produzo para comercializar?”.
Na devolução dos grupos o que se apresentou foi uma diversidade de formas de produção e comercialização: “Isso apresenta que a juventude está produzindo e mostrando para a sociedade que está trabalhando e temos um papel importante, produzimos mais para o consumo da família e o excedente para a venda”, observou Adailma Ezequiel, do Sítio Capoeiras, município de Queimadas-PB.
Em relação aos desafios da comercialização, o jovem Matheus Manasses, do Sítio Soares, em Queimadas, chamou a atenção para a necessidade de conquistar a aceitação dos produtos: “Quanto a valorização dos produtos do leite de cabra, muitas vezes tem a agregação de valor por meio do beneficiamento ou por serem agroecológicos, mas muitas vezes as pessoas acham caro, então conquistar e sensibilizar ainda é um desafio”.
Os participantes levantaram os desafios existentes para a comercialização como a ação dos atravessadores, transportes, a falta de credibilidade por serem jovens, pouca mão de obra, seca, falta de chuvas e a violência no campo entre outras das muitas questões levantadas pelos jovens.
Ainda no período da manhã, houve uma apresentação sobre a Ecoborborema realizada por uma de suas coordenadoras, Anilda Batista, de Remígio-PB. A juventude teve a oportunidade de dialogar e tirar dúvidas sobre a Ecoborborema, associação que reúne feirantes do Polo da Borborema e debater a comercialização, as feiras agroecológicas e ainda dúvidas quanto aos tipos de produtos que podem ser comercializados nos espaços das feiras, considerando a legislação que trata da certificação de produtos orgânicos.
Durante a tarde, foi aberto um baú com várias identificações de ações que são desenvolvidas por jovens nas comunidades na área da criação animal, comunicação, organização comunitária, apicultura, comercialização, viveirismo, conservação das sementes crioulas, cultura, ação sindical, artesanato, coleta de sementes, catequistas, artistas, tocadores e poetas. Após várias falas que dialogavam com as diversas ações, os jovens se dividiram por município, para levantar os nomes daqueles outros que também estão atuando em suas comunidades.
Roselita Victor, liderança do Polo da Borborema, falou sobre o papel dos jovens na própria formação do Polo. “O Polo só existe porque existia, no sindicato, “tesouros” que já faziam resistência, alguns mais tempo e outros a menos tempo. E são sindicatos que vieram da luta da juventude, da igreja e pastorais. Durante sua fala, Roselita lembrou o diagnóstico da agricultura familiar nos municípios de Remígio, Solânea e Lagoa Seca, realizado com agricultores para entender como estava sendo feito a agricultura e como estava acontecendo. Foi identificado a sabedoria dos agricultores sobre a região e suas comunidades e se deu o primeiro passo para que as pessoas pudessem ser as protagonistas de suas experiências.
No último dia de evento, foi realizado um resgate e reafirmação das bandeiras de luta que fizeram parte da primeira Marcha da Juventude Camponesa do Polo e suas palavras de ordem como: “Abelha não faz mal, faz mel”; “Por uma Educação Contextualizada”; “Sem feminismo não há agroecologia”; “Fundos Rotativos Solidários”; “Sementes da Paixão”; “Guardião e guardiãs das raças nativas” e “Juventude e agroecologia”.
Para a II Marcha da Juventude Camponesa do Polo da Borborema os jovens presentes reafirmaram estas bandeiras e levantaram a importância de incluir temas da atualidade como: a luta por democracia, o fortalecimento do movimento sindical, o fim da violência no campo, do racismo e da LGBTQfobia.
O encerramento do encontro aconteceu com um momento simbólico, quando os jovens do município de Remígio passaram a bandeira da juventude para o município de Lagoa Seca, que irá sediar a II Marcha. “Estou muito emocionada, pois participo nesse movimento desde que entrei no sindicato em 2002 e isso representa muito pra mim. Receber a Marcha é sem dúvida maravilhoso, ela não é minha e sim de toda a Juventude Camponesa do Polo da Borborema”, disse Márcia Araújo, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca.
Márcia lembrou “esse Encontro é um momento de preparação tanto para a II Marcha da Juventude, quanto para VII Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa do Polo da Borborema que será realizada dia 26 de julho em Solânea. A feira vai acontecer em conjunto com Intercâmbio de Jovens da América Latina. O Intercâmbio vai ser finalizado aqui na Borborema. Será um momento importante de visibilidade do nosso trabalho. Temos que fazer bonito”, finalizou.