Nos dias 25, 26 e 27 de outubro, mais de 100 jovens dos 13 municípios de atuação do Polo da Borborema participaram do 5º Encontrão da Juventude Camponesa, realizado em Campina Grande-PB. O evento teve como principal objetivo a preparação e mobilização dos jovens para a II Marcha da Juventude Camponesa, que acontecerá no dia da Consciência Negra, 20 de novembro, em Lagoa Seca-PB e terá como tema o racismo e a identidade racial. A marcha, uma realização do Polo e da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, espera contar com mais de mil jovens, superando a sua primeira edição no município de Remígio, em 2016.
No primeiro dia, uma Mesa tratou do tema da Marcha com a participação de Janaína Santos, da Gerência Racial da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana – SEMDH, do Governo da Paraíba. A gerente falou sobre o processo histórico que marginalizou a população negra e as raízes do racismo estrutural vigente na sociedade brasileira: “Por que ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’ (como diz a música de Elza Soares)? É porque temos um déficit histórico com essa população preta, este país que a gente pisa, foi banhado com o sangue preto e indígena”, disse. A plenária, formada por muitos jovens negros e negras, interagiu com a fala de Janaína: “Tem um ano e três meses que fiz minha transição capilar, mas ainda é muito difícil. Minha mãe mesmo chama de bombril. E sempre respondo para ela que é bombril, mas é meu bombril! Eu usei química desde os meus 7 anos e agora estou incentivando a minha irmã a também assumir seu cabelo natural” conta Sidineia Camilo, jovem agricultora de Remígio.
Após o debate, o dia foi encerrado com uma oficina de percussão e musicalidade, ministrada pelo percussionista Beto Cabeça, de Campina Grande.
No segundo dia de encontro, os jovens se dividiram em grupos que foram até três comunidades rurais para conhecer experiências sobre os temas: “Sistemas Agroflorestais e produção de mudas de suculentas”, “Produção artesanal de Queijo de leite de vaca e de cabra” e “Manejo Ecólogico do Solo”, as duas primeiras no município de Queimadas e a última em Alagoa Nova-PB.
Wallison Monteiro, morador do Sítio Logradouro, município de Esperança, foi um dos jovens a acompanhar a Oficina de Produção de Queijos no Sítio Soares, em Queimadas, recepcionados pelo agricultor Mateus Manassés, de 23 anos, estudante de ciências biológicas e jovem criador. Wallison fez questão de participar da parte prática, aprendendo o passo a passo da produção e saiu cheio de planos para quando retornar à propriedade de sua família: “Temos uma vaca, tiro o leite e só aproveitávamos o leite mesmo e a nata, que inclusive na minha comunidade não é muito valorizado. Eu tinha interesse de produzir o queijo, mas não tinha quem ensinasse. Hoje eu vi que é uma coisa simples de fazer, a gente pensa que é difícil, mas não é. E o que Mateus faz é tudo com muito amor e muita dedicação”, observou.
Mateus se disse satisfeito com a oportunidade de repassar seus conhecimentos para outros jovens: “Eu estou pagando o que um dia me deram. Para eu estar hoje aqui ensinando, precisou um dia uma pessoa ter me ensinado e amanhã são vocês que vão repassar”.
No período da tarde, as artistas plásticas e professoras de arte Lúcia Vignoli, do Instituto Nacional de Educação de Surdos e Nena Balthar, do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ, Campus Belfort Roxo, conduziram uma oficina de confecção de estandartes com os jovens sobre a temática da identidade racial, por meio de uma parceria com o ‘Grupo Artegestoação’, do qual fazem parte. Foram trabalhados tecidos, padrões e símbolos originários da cultura africana e seus significados na construção das peças. “O estandarte é uma coisa que a gente quer elevar acima da nossa cabeça, uma ideia, uma bandeira”, frisou Lúcia.
Os estandartes confeccionados serão utilizados pelos jovens durante a marcha e surpreenderam pela criatividade e originalidade. Ao final, cada grupo expôs seu trabalho e falou sobre a ideia motivadora. O dia de trabalho foi encerrado com uma socialização e avaliação das oficinas e visitas da manhã.
O último dia de programação foi dedicado aos encaminhamentos com relação à organização da marcha, com a definição de detalhes como a confirmação dos números das caravanas de cada município, bem como as estratégias de mobilização que tem à frente a Comissão Executiva de Jovens do Polo, mas como fez questão de frisar Márcia Araújo, do município de Lagoa Seca e da Comissão Executiva, é de cada um dos participantes: “Essa Marcha não é minha, não é do Polo da Borborema e nem da AS-PTA, ela é de todos nós, e cada um em suas comunidades tem o papel de estar animando este processo, convidando outros jovens e divulgando a partir dos espaços que nós estamos, associações, fundos rotativos solidários, etc.”. Os jovens reviram o vídeo da I Marcha e reafirmaram as bandeiras de lutas e o compromisso de manter a organização por uma sociedade mais justa, com igualdade de oportunidades para homens e mulheres, livre do racismo e da LGBTIQfobia.