Atividade que acontecerá amanhã (11/03), apresentará narrativas das experiências das guardiãs e momentos culturais, além do lançamento de cartilha construída coletivamente pelas mulheres que compõem a ReSA
Com o objetivo de celebrar e valorizar o trabalho das mulheres agricultoras familiares, assentadas da reforma agrária, indígenas e de comunidades tradicionais, a Rede Sementes da Agroecologia (ReSA), realizará na quinta-feira (11/03), às 19h, através das suas redes sociais, o Festival Guardiãs de Sementes do Paraná – Terra, alimento e preservação da vida pelas mulheres. O encontro se soma às diversas atividades realizadas pelas entidades e movimentos sociais na semana do Dia Internacional das Mulheres, celebrado no dia 8 de março.
As guardiãs do campo e da cidade, conhecidas pelo profundo respeito e relação muito próxima com a natureza e pela preocupação com todo o processo de resgate, multiplicação, colheita e armazenamento de sementes crioulas, contarão suas histórias de luta pela preservação da diversidade genética, da agrobiodiversidade, a produção diversificada de alimentos, inclusive em áreas urbanas, e os processos auto-organizativos em diferentes regiões do Estado, através de depoimentos, momentos culturais e de bate-papo.
Durante o encontro, está previsto o lançamento de uma cartilha que leva o mesmo nome do Festival. O material construído coletivamente pelas guardiãs e outras mulheres que integram a ReSA, traz as reflexões e análises das guardiãs em torno das sementes crioulas, da produção agroecológica de alimentos, direitos e legislação, políticas públicas e auto-organização, além de apresentar receitas de alimentos e chás medicinais.
A realização do Festival é resultado de ações de distribuição de sementes crioulas produzidas pelas mulheres guardiãs que ocorreram no Paraná durante o ano de 2020. Foram atendidas 23 comunidades da agricultura familiar, quilombolas, indígenas, assentamentos da reforma agrária e áreas urbanas, totalizando cerca de 2 mil famílias paranaenses, que receberam 185 variedades de sementes, entre elas grãos, mudas, plantas medicinais e ramas.
A distribuição, que contou com o apoio da ReSA e organizações que a integram, teve as mulheres como protagonistas da ação, justamente por compreender que são elas as responsáveis pelo armazenamento, plantio e colheita das sementes crioulas, e por consequência a produção de alimentos saudáveis.
A realidade das mulheres no campo
O Festival realizado pela ReSA e parceiros busca visibilizar o protagonismo das mulheres na produção de alimentos, na garantia da segurança alimentar e nutricional, principalmente no contexto atual de crise sanitária, econômica e humanitária provocado pela pandemia. A atividade também destaca o papel das guardiãs no fortalecimento da agrobiodiversidade. Além do mais, o festival e a publicação pretendem contribuir na desconstrução da ideia de que a produção de alimentos é feita majoritariamente pelos homens. Dados apresentados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2020, demonstram que a atividade das mulheres na produção da agricultura familiar chega a 80% em comparação à masculina em 2019.
Coletivos e movimentos de trabalhadoras rurais também apontam que ainda há obstáculos para a participação das mulheres em espaços sociais organizativos, como, por exemplo, as associações das suas comunidades. Dados do IBGE, apresentados no Censo Agropecuário de 2017, evidenciam a disparidade da participação das mulheres e homens associados às cooperativas. Enquanto eles somam 91,3% do total de associados destes espaços, elas ainda são apenas 8,7%.
Já os recursos públicos que incentivam e fortalecem a agricultura familiar, e por consequência viabilizam a independência financeira das mulheres, vêm sofrendo um grave desmonte e sucateamento por parte do Governo desde a mudança no cenário político em 2016. Ações direcionadas para as agricultoras são apontadas por movimentos campesinos como centrais para a autonomia financeira feminina.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), política que beneficia agricultoras, sofreu uma drástica redução orçamentária. Em 2012 o orçamento totalizava R$587 milhões atendendo 128,804 famílias, em 2019, foram R$ 41,3 milhões, beneficiando apenas 5.885 famílias. Já a proposta de auxílio emergencial para agricultores familiares aprovada pelo Congresso foi vetada por Jair Bolsonaro (sem partido) em agosto de 2020. O pagamento de cinco parcelas de R$ 600 para agricultores familiares, incluindo mulheres, poderia suprir necessidades das guardiãs. O Senado ainda não apreciou, até o momento, os vetos presidenciais.