Seminário de dois dias promove trocas e construção de conhecimentos para desenvolver a gestão da nova instituição do Polo, a CoopBorborema
Um passo super importante foi dado, em setembro passado (dias 21 e 22), para fortalecer a Cooperativa de Agricultores e Agricultoras Familiares do território da Borborema, a CoopBorborema. Um seminário de dois dias, que reuniu cooperados e representantes das diretorias dos sindicatos e do Polo da Borborema, da AS-PTA e da EcoBorborema.
A partir da condução experiente e leve de Generosa de Oliveira Silva, que atua há mais de 20 anos na área e é uma das lideranças da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), os/as participantes chegaram, de forma conjunta, em lugares novos ao olhar para a vida da cooperativa.
Estimulados pela visita ao setor de beneficiamento do Banco Mãe, um complexo onde funciona a cooperativa e que será gerido por ela, os participantes elencaram necessidades da cooperativa que precisam ser resolvidas, associando a cada demanda um nível de urgência.
Um momento marcante do seminário foi quando, a partir de esquetes encenadas por subgrupos, foram destacados, por quem estava no papel de observador da cena retratada, um conjunto de orientações importantes para a gestão da cooperativa, como a necessidade de planejar a produção junto aos cooperados e a venda, tendo como referência o volume da produção fornecida pelos/as associados.
De forma brincante e séria, ao mesmo tempo, o grupo acessou diversas situações corriqueiras no dia a dia de uma cooperativa e se deu conta de várias questões que não podem ser negligenciadas e até de alguns caminhos a seguir.
Por meio da apresentação teatral de todos os grupos, foram percebidas as principais dificuldades da gestão e também ficou bastante evidente que a diretoria da cooperativa busque entender o ponto de vista dos cooperados e prime pela boa comunicação para que cada um/a assuma o seu papel.
A essência da CoopBorborema – Associado a esse conteúdo, o seminário tratou com bastante ênfase da natureza da cooperativa, da sua essência, do que a faz diferente de muitas outras. Nas palavras de Generosa, a CoopBorborema “é uma cooperativa que se preocupa com o ser humano, com a vida do seu cooperado, que se preocupa com o que está acontecendo na produção, que se preocupa com a questão do alimento saudável, que significa a segurança e a soberania alimentar, o direito à alimentação saudável e de qualidade.”
E continua: “Porque aquilo que eu não como, eu não posso vender para o outro. Na maioria das vezes, as cooperativas criadas no Brasil, infelizmente, nem sempre o presidente ou a direção ou as pessoas que estão naquela cooperativa comem o que produzem, porque vão comprar outro produto. Eu vi uma vez isso de um produtor e grande comerciante de morango de São Paulo.
– E aí, vamos comer o morango?
– Não, esse morango eu não como.
– Opa!
Se ele não come o morango é porque ele sabe que o morango não é bom para saúde. Para a saúde dele não serve, mas e para as outras pessoas?
Essa é a diferença desta cooperativa [a CoopBorborema]. Ela está preocupada com o que vai alimentar a nossa família. Primeiro a família se alimenta. O excedente, vende. Então já pensa diferente das outras cooperativas que fazem o planejamento só para vender para fora”, testemunha.
Gizelda Beserra, da diretoria do Polo da Borborema e presidenta da CoopBorborema, reforça as palavras de Generosa. “Nos últimos anos, a gente tem aumentado a produção de alimentos e também o debate sobre a soberania alimentar das pessoas, o alimento sagrado. Que alimentos vamos produzir para a sociedade? Que alimentos vamos produzir para a nossa família? O que vamos comer? Entendemos que o alimento sagrado é aquele alimento que a gente planta sem nenhum tipo de veneno, sem agredir o meio ambiente. Então é esse alimento que a gente precisa para a nossa família. E é esse mesmo alimento que devemos ofertar para as pessoas, para a sociedade comprar.”
A CoopBorborema para quem busca alimentos que fazem bem – Saber disso para quem compra os alimentos comercializados pela cooperativa criada pelo Polo da Borborema faz toda a diferença. É claro! E é bem capaz que o sabor dos produtos Do Roçado ganhe até mais realce, mais intensidade.
Quando Alexandre Yuri de Assis, morador do Recife, tomou conhecimento da produção do Flocão da Paixão na Paraíba, fez logo contato com a Agroecoloja pedindo para avisá-lo da chegada do produto. A Agroecoloja é um dos pontos de venda da marca da CoopBorborema na capital pernambucana e é uma iniciativa do Centro Sabiá, uma organização de apoio à agricultura familiar agroecológica com atuação em Pernambuco.
“Sou uma pessoa que prezo por minha saúde e fiquei sabendo que a produção do Flocão da Paixão é feita sem o uso de agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes químicos, que as técnicas do processo de produção têm como objetivo maior manter a qualidade do alimento. Procurei saber como poderia ter acesso ao flocão e fiquei feliz ao descobrir que algo produzido no interior paraibano, seria comercializado aqui no Recife, no centro da cidade, perto do local do meu trabalho, pela Agroecoloja. Senti-me privilegiado”.
Em breve, pronta para brilhar – A CoopBorborema tem diretoria, sócios, objetivos, estatuto e CNPJ. Já está encaminhando o alvará, inscrição municipal, inscrição estadual e conta bancária. Tudo para agir de forma plena e ir ao encontro de quem deseja ter mais opções de alimentos que reforçam a saúde. E, aumentando as vendas, aumenta-se também a renda das famílias agricultoras – homens, mulheres e jovens.
“Meu sonho é que a CoopBorborema venha como outra fonte, principalmente, para os agricultores que já estão na roda, no trabalho, na dinâmica, como também para esta juventude. Muitas vezes a juventude procura espaço para se manter no campo e não encontra. E a CoopBorborema vem como esta outra chance dessa juventude estar produzindo e vendendo e se mantendo no campo sem precisar se deslocar para a cidade e para outros estados”, sentencia Mateus Manassés.
E por falar em geração de renda, uma notícia boa: a ampliação da procura dos produtos Do Roçado, especialmente, os derivados do milho livre de transgenia. “Desde o lançamento do Flocão da Paixão [em maio passado], a gente [AS-PTA], enquanto assessoria com o Polo e a CoopBorborema, fez uma ação de ampliar a comunicação dos produtos da marca, principalmente, dos produtos derivados do milho. A gente percebe hoje uma procura muito maior de instituições, de grupos, de famílias que se interessam por este tipo de produto”, anuncia Alane.
Dentro da constelação de instituições da agricultura familiar existentes no território da Borborema, criadas a partir da ação do Polo da Borborema e da AS-PTA, a Coopborborema ocupa um lugar estratégico no fortalecimento da rede de feiras agroecológicas e da rede de Quitandas da Borborema, numa ação complementar ao papel já cumprido pela Ecoborborema na gestão das feiras agroecológicas e na certificação participativa para a venda direta, enquanto uma associação regional de agricultores e agricultoras agroecológicos. “A Cooperativa tem o papel de fazer circular o volume de produção do território, que é agroecológico, mas não todo certificado”, destaca Marcelo Galassi, da coordenação da AS-PTA na Paraíba.
Desmistificando uma cooperativa – Desde que a cooperativa estava sendo gestada, já estavam previstas capacitações para o seu corpo de gestores e gestoras. Até porque, quem assume esta função precisa desenvolver algumas habilidades específicas, que não são do domínio de quem tem muita desenvoltura para lidar com o solo, as sementes, os animais e a Mãe Natureza. Mas, por conta da pandemia, as capacitações aconteceram meses depois, em setembro passado.
“Os agricultores e as agricultoras não são educados/as para gerir uma instituição de comercialização. Sempre é para produzir e passar para o atravessador e o atravessador fazer esse processo de comercialização. Então, quando se cria uma organização específica para atender [o mercado] e democratizar o acesso a ele, é um desafio. Um desafio na gestão, um desafio no planejamento, desafio no contexto organizativo”, conta Alane Lima, camponesa e assessora técnica da AS-PTA, cujo ação é fortalecer os processos organizativos da agricultura familiar na região assessorando o Polo.
Segundo a técnica da AS-PTA, uma das forças da CoopBorborema observada durante o seminário é que a iniciativa surgiu como uma necessidade do projeto de fortalecimento da agricultura familiar do território. E isso faz toda a diferença para mudar o olhar dos agricultores e agricultoras que andavam desconfiados/as desta tal cooperativa por conta dos exemplos mal-sucedidos no território.
“Cooperativismo é um tema que a gente ouve muito, mas pouco estuda, principalmente, as/os camponesas/es. A gente teve no território, um período no qual ouvíamos falar muito mal sobre cooperativa porque, em sua maioria, as experiências davam sempre errado, porque elas iniciavam sempre a partir do interesse de algumas pessoas que queriam se beneficiar da experiência”, relata Alane.
E segue: “Mas, com a organização do Polo da Borborema, da AS-PTA e dos sindicatos junto aos agricultores e às agricultoras, com o processo organizativo junto aos mercados, as demandas foram aumentando. E foi sentida a necessidade de ter uma instituição que pudesse dialogar e tratar do acesso ao mercado para além do território e também o acesso às políticas governamentais de comercialização. Uma instituição jurídica que, por lei, estivesse regulamentada para ter acesso a mercados”.