A liberação da soja transgênica no Brasil em 2003 trouxe um outro cenário para a agricultura, uma nova tecnologia adotada pelo agronegócio que avançou rapidamente com a semeadura em todas as regiões produtoras do país. A promessa era que a tecnologia traria altos índices de produção e a redução no uso de agrotóxicos na cultura. No mesmo ano, porém, a soja transgênica já apresentava problemas com resistência aos herbicidas, destinados ao controle de plantas daninhas.
E os impactos negativos da chegada das sementes transgênicas de soja não param por aí. O processo de erosão genética foi acelerado e percebe-se que, após quase duas décadas de cultivo da soja transgênica, quase desapareceram as cultivares convencionais (não transgênicas) do mercado. A soja orgânica foi ainda mais afetada por conta da dificuldade de encontrar semente de cultivares convencionais e os problemas com contaminação. Além disso, ao contrário do que se propagava pelo agronegócio, o uso de agrotóxicos, principalmente herbicidas, aumentou.
Em 2012 começa o projeto “Produção de semente própria em sistemas de base ecológica por agricultores familiares no Estado do Paraná” (SEMECOL), que reuniu vários movimentos sociais e entidades que trabalham com a conservação e a multiplicação das sementes crioulas, órgãos públicos de pesquisa, entre eles a Embrapa Soja, coordenadora do projeto.
Um dos objetivos do SEMECOL foi disponibilizar sementes de cultivares convencionais para multiplicação e disseminação das sementes para as famílias agricultoras, além de atividades de formação em produção de sementes de hortaliças. O projeto também apoiou a criação da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA) e a criação da Casa da Semente em Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, local de armazenamento e beneficiamento de sementes de hortaliças de diversas espécies, entre outras.
A ReSA nasceu em 2015 e é composta por 25 entidades e movimentos sociais do campo e da cidade, instituições de ensino, pesquisa e extensão e órgãos públicos, tendo como principal missão a conservação da agrobiodiversidade.
O SEMECOL termina em 2016, mas as parcerias construídas seguem trazendo frutos. A Embrapa Soja permanece como parceira da ReSA e também da AS-PTA.
Em 2021, com o cenário de a escassez de soja convencional e orgânica no mercado e a perda pelas famílias das cultivares convencionais, o trabalho com os campos de avaliação foi retomado com a Embrapa Soja, que forneceu para a AS-PTA cinco variedades de soja: BRS 523, BRS 537, BRS 284, BRS 232 e BRS 546.
Com essas cultivares repassadas pela Embrapa Soja, a AS-PTA articulou, a partir de seu trabalho local de assessoria, as famílias agricultoras e guardiãs de sementes para a montagem de campos de experimento para avaliação e multiplicação desses materiais genéticos.
As sementes foram fracionadas para atender a demanda. Famílias agricultoras do centro-sul do Paraná e planalto norte de Santa Catarina foram beneficiadas. Ao todo, foram implementados seis experimentos de avaliação, sendo:
– Fernandes Pinheiro/PR, em parceria com o Grupo Coletivo Triunfo;
– Prudentópolis/PR, em parceria Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Irati;
– Palmeira/PR, organizado com estudantes do Colégio Agrícola do município;
– Lapa/PR, junto a Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), no assentamento Contestado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST);
– Rio Negrinho/SC, em parceria com a Cooperativa Cooperdothi da reforma agrária;
– Irieópolis/SC, no Assentamento Mimo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Para a implementação dos experimentos foram realizados, presencialmente, dois dias de campo com a participação de 13 membros do Grupo Coletivo Triunfo em Fernandes Pinheiro e 37 participantes em Irineópolis, sendo famílias assentadas, de comunidades vizinhas e membros da Associação de Produtores Ecológicos de Palmeira (APEP).
Parte dos experimentos foram elaborados parte em sistema de plantio direto e parte com o preparo convencional do solo. Para a semeadura foram utilizadas matracas e adubação orgânica, com composto de cama de aviário, pó de basalto e fosfato natural.
Além desses campos de experimento, foram distribuídas sementes das cinco cultivares para um grupo de 23 famílias de Palmeira, Irati, Rebouças, Fernandes Pinheiro, Teixeira Soares, Mandirituba (AOPA) e Lapa no Paraná, e de Irineópolis, em Santa Catarina, para semear campos de multiplicação desses materiais.
Na continuidade do trabalho, a proposta é realizar pelo menos quatro dias de campo coletivos com as famílias, nas áreas de avaliação e nos campos de multiplicação, para analisar o desenvolvimento e o comportamento das cultivares. E, durante o período de colheita, com avaliação de produção, qualidade e formas de armazenamento seguro.