Em 2010, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), organismo ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), publicou um relatório com dados e análises sobre a pobreza rural, no qual estimava que 70% da população mundial em estado de extrema pobreza vivia nas áreas rurais.
Nesse documento usado como referência até hoje pelo FIDA, uma conclusão se destaca: “As políticas tradicionais que implicam o desengajamento do Estado em relação aos mercados de alimentos seriam definitivamente inadequadas para o equacionamento conjugado desse conjunto de desafios (pobreza e fome).”
Nos dias atuais, a conclusão que o FIDA teceu sobre o papel fundamental do Estado como mediador do mercado de alimentos como estratégia para o enfrentamento à fome, se atualiza na publicação “Mercados Territoriais: trajetórias, efeitos e desafios”, lançada na semana passada na 1ª Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária, em Natal (RN).
A publicação agregou estudos sobre 12 mercados territoriais e 25 agroecossistemas familiares produtores de alimentos saudáveis no Semiárido nordestino, que foram analisados a partir do método Lume, desenvolvido pela AS-PTA.
Na introdução, há uma contextualização do cenário mundial e local da distribuição de alimentos, que vai tecendo no/a leitor/a um entendimento do papel de resistência das feiras e os espaços fixos de comercialização dos alimentos da agricultura familiar produzidos na redondeza.
São espaços que furam o controle e a padronização na produção e distribuição de produtos tidos como alimentícios a partir do domínio de grandes corporações empresariais nessa área.
Conceder tal significado a essas iniciativas é como traduzir o que um cidadão ou cidadã percebe, intui ou sente ao começar a frequentar feiras ou espaços fixos de comercialização de alimentos agroecológicos.
Outro mérito da publicação, que aliás é a sua razão de existir, é a elaboração de argumentos que defendem a necessidade da construção e fomento de políticas e programas públicos direcionados para a multiplicação de mercados territoriais e institucionais que atendam a diversidade dos produtos frescos cultivados e beneficiados, em geral, a poucos metros de distância do lugar onde é vendido.
Portanto, trata-se de uma obra direcionada, a piore, para gestores públicos interessados no enfrentamento da fome que se alastra nos lares brasileiros e atinge atualmente mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras.
Mercados territoriais no semiárido brasileiro: trajetórias, efeitos e desafios é assinado por Helena Lopes, doutoranda da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na área de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade; Sílvio Porto, professor e coordenador do Núcleo de Educação do Campo, Territorialidades e Agroecologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; e Denis Monteiro, Luciano Silveira, Paulo Petersen e Silvio Gomes de Almeida, todos da equipe da AS-PTA. A obra tem a colaboração de técnicos/as das 12 organizações que fazem da Rede Ater Nordeste de Agroecologia.
Baixe o PDF completo: Mercados territoriais no semiárido brasileiro: trajetórias, efeitos e desafios