É na arte do encontro e na partilha dos saberes que fazemos florescer nossa comunhão. Na segunda-feira dia 06 de junho aconteceu, no Sítio Santa Bárbara, em Magé, um intercâmbio de experiências entre as processadoras do Sistema Participativo de Garantia – SPG, vinculada à Rede Carioca de Agricultura Urbana – Rede CAU.
O intercâmbio teve como objetivo o aperfeiçoamento da construção do Manual de boas práticas, e para isso, foi feita uma visita técnica na cozinha Colher de Pau, cozinha coletiva liderada pela agricultora Juliana Diniz (Juju).
A atividade se iniciou com um delicioso café da manhã, feito com produtos do próprio sítio. Ao redor da mesa estavam reunidas agricultoras e culinaristas de diferentes coletivos, localizados em diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro. Com uma mandala ao centro, formada por símbolos de luta, se apresentaram mulheres dos Quintais Produtivos da Colônia, em Jacarepaguá, Empório da Chaya, em Jaceruba/Nova Iguaçu, da Feira da Roça de Vargem Grande e da Feira Agroecológica de Campo Grande.
Em seguida, guiadas pela Juju, foi realizada uma apresentação da cozinha. Nela foram mostrados seus compartimentos, os utensílios utilizados e como ocorre a chegada e saída dos alimentos. Durante a troca, Juju destacou sobre as normas necessárias para o bom funcionamento da cozinha e a organicidade do trabalho: “Aqui as mulheres se organizam durante a semana e o regime de trabalho varia de acordo com a demanda. A cozinha abastece parte da venda da Rede Ecológica e também contribui com o fornecimento de alimentação para eventos e nas refeições do camping do sítio”. E complementou sobre como nasceu a iniciativa: “A cozinha Colher de Pau foi criada após as mulheres ficarem todas sem emprego, a gente já tinha a produção, mas não tinha lugar para processar. Não conseguimos um empréstimo para montar nossa cozinha, não tinha projeto na época. Então, eu financiei minha casa lá em Jacarepaguá e fiz a cozinha para a gente trabalhar aqui. Uma cozinha comunitária. Assim nós fizemos a cozinha Colher de Pau.”
Áurea Andrea, coordenadora do coletivo Empório da Chaya, destacou que foi importante observar todas as etapas da produção do alimento, desde a colheita, a higienização, a ida para a cozinha, o seu beneficiamento, o escoamento e venda. Ela ainda pontuou que, com o processamento, há o aumento da validade dos alimentos, e que dessa maneira, o aproveitamento se torna maior. Além disso, também pontuou que, mesmo em um sítio pequeno, é possível produzir e gerar renda para diversas famílias. Para ela, também é necessário considerar todas as parcerias e articulações com as quais a cozinha Colher de Pau está envolvida: “O quanto é possível a gente organizar e quanto as parcerias ajudam. A gente sabe que a Juju tem muita parceria que ajuda ela a desenvolver o trabalho, e que é importante também acessar recurso, porque sozinha a gente não consegue, mas em grupo, em rede, em parceria, a gente tem o resultado. E também o quanto ela beneficia outras mulheres através da cozinha dela. A gente viu que no final ela foi lá e pagou as cozinheiras. Isso é muito muito gratificante, gerar renda para ela e para terceiros, fazer esse evento é uma coisa muito importante, é um sonho nosso. A gente ainda não pode realizar tudo que a gente viveu lá, mas pelo menos é um modelo para a gente seguir e aperfeiçoar. Muito bom, né? ”
A atividade surgiu a partir da agenda do grupo, na qual foram pensadas uma série de formações para a capacitação das processadoras do SPG (Sistema Participativo de Garantia). Segundo Brenda Azevedo, bolsista da Fiocruz Mata Atlântica, o grupo de processadoras surgiu em 2019 a partir do SPG de produção vegetal da Rede CAU, com agricultoras e agricultores que já processavam seus alimentos e viram a necessidade de se organizar dentro do grupo de SPG com uma agenda à parte, que atendesse às suas demandas e particularidades.
Portanto, participam aproximadamente 10 pessoas, envolvidas com cozinhas coletivas ou individuais, nas quais são produzidos desde alimentos beneficiados, até cosméticos naturais e materiais de limpeza. O grupo ainda conta com o apoio do Instituto de Nutrição da UERJ e da Faculdade Bezerra de Araújo (FABA). Esse ano, oficialmente, elas entraram para Associação de Agricultores Biológicos do estado do Rio de Janeiro (ABIO), que possibilita a obtenção de certificação orgânica através do SPG.
Juju comenta que o encontro foi muito importante para ela e para as suas companheiras de cozinha. Além da geração de renda que o encontro proporcionou, os reencontros, os sorrisos, os abraços e o pensar coletivo fortalecem a luta cotidiana e nos fazem avançar: “Cada vez que eu tenho um encontro desse na minha casa, aqui dentro do sítio, é uma renovação muito grande para mim, porque naquele dia eu tenho certeza que eu vou passar um dia maravilhoso. Espero que outros dias aconteçam!” O encontro foi finalizado com almoço farto, com a vontade de que mais encontros aconteçam e com a renovação da esperança de que juntas podemos construir outros mundos e acreditar que nossos sonhos são possíveis, através da transição agroecológica.