Enquanto os Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais dos municípios que fazem parte do Polo da Borborema têm notícias da circulação dos representantes das empresas de energia eólica no território, outro movimento silencioso acontece na mesma região. Os jovens do campo se mobilizam para ampliar a resistência das comunidades às propostas enganadoras das empresas.
Em maio desse ano, as mulheres anunciaram o posicionamento das famílias agricultoras a esse empreendimento. Um sonoro NÃO foi entoado em coro por cerca de quatro mil mulheres que foram às ruas de Solânea na 13ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.
A partir de meados de agosto e todo o mês de setembro, foram realizados oito encontros de âmbito comunitário ou municipal com a juventude de Solânea, Arara, Remígio, Areial, Alagoa Nova, Esperança, Lagoa Seca e Queimadas.
Mais de 140 adolescentes e jovens e cerca de 50 adultos conversaram sobre seu senso de pertencimento à agricultura familiar, sobre a sua identidade como jovem agricultor/a, a importância da agricultura familiar para eles e para o povo brasileiro, os espaços coletivos onde está inserida a juventude rural e, por fim, o que ameaça a prática dessa agricultura nas suas comunidades, com foco nos parques eólicos e usinas solares.
As oficinas sensibilizaram e mobilizaram os jovens para que eles levem mais informações sobre as indústrias de geração de energia eólica e solar para suas comunidades, escolas, casas, igrejas, grupos de jovens do sindicato e outros espaços coletivos.
Ainda estão previstas três ações territoriais. Esse mês, uma visita de intercâmbio a uma comunidade atingida pelos parques eólicos no município pernambucano de Caetés e um encontrão regional de duração de dois dias e meio.
E, em novembro, um ato público para que a juventude do campo vá ao encontro de quem vive no centro urbano e dialogue com essas pessoas sobre os motivos que levam as comunidades rurais da Borborema a dizer não à produção centralizada de energia nas suas terras. Será a 3ª Feira Agroecológica e Cultural da Juventude no território.
Em Areial, por exemplo, que sediou o último encontro, “já teve pessoas das empresas das eólicas sondando as comunidades. Fazer circular a informação, a partir das juventudes, é muito importante para as famílias não assinem o contrato [de arrendamento da propriedade]”, destaca Edson Possidonio, assessor técnico da AS-PTA que acompanha o trabalho de mobilização e formação da juventude rural do Polo.
Após a audição dos ruídos dos aerogeradores e de assistirem a um vídeo da websérie “Para quem sopram os ventos”, realizada pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste II, a conversa sobre os impactos negativos dos empreendimentos energéticos ganha fôlego.
“As torres precisam de muita água para serem construídas e usam [a água] sem permissão da comunidade”, dispara uma das lideranças jovens do sindicato de Remígio. “Muito ruim sobreviver com um barulho como esse”, continua ela referindo-se ao som constante das hélices dos aerogeradores. “Fora as doenças que eles trazem”, acrescenta exemplificando com os problemas de saúde mental, conhecida como Síndrome da Turbina Eólica pela literatura médica, e com os problemas de pele provocados pelo pó que os aerogeradores soltam no ar.
“Penso que eles querem fazer isso para esvaziar o local para a terra ficar só pra elas”, dispara outro participante da oficina. “Quanto mais zuada, mas as pessoas vão sair do local, vão pra cidade e eles expandem o negócio deles”, concorda e complementa outra jovem.
E a lista de perturbações vai sendo expandida ao passo que os jovens, que já participaram de dois intercâmbios em áreas com parques eólicos e usinas solares em funcionamento, vão compartilhando o que viram e ouviram nessas visitas.
“A réstia das hélices incomoda os animais, porque não é uma coisa natural. Os animais param de produzir por conta do estresse”, sublinha a jovem ligada a um dos sindicatos.
“Todas as pessoas que assinam o contrato perdem o direito de ser segurado especial da previdência, não tem mais direito de se aposentar como agricultor, perde direito a ter a DAP [Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], enquanto jovens não temos direito a nenhuma política pública como agricultores/as”, soma outro participante.
“Nos contratos, as empresas não são obrigadas a dizer quanto ganham com a energia gerada na torre. Os contratos falam de um percentual para o pagamento. Eles dão o quanto querem dar”, salienta mais alguém.
E a conversa flui como uma ladainha de problemas que deixam os outros participantes da oficina admirados com o tamanho do problema que essas empresas podem causar à vida que eles levam no campo.
Pelas sugestões que fazem sobre como bloquear a chegada desses parques industriais nas suas comunidades, percebe-se a vontade de ser resistência, pesquisar mais informações e alertar as outras pessoas onde vivem e transitam.
Num dos oito encontros, os jovens fizeram propostas para reunir os mais velhos da comunidade e também a juventude para conversar sobre o tema; procurar apoios externos à comunidade; e fazer panfletagem nas casas da comunidade e na rua (centro urbano), escolas. “E em todo lugar que estivermos.”
Os/as adolescentes e jovens que participaram desses momentos têm diversos tipos de envolvimento com o trabalho realizado pelo Polo da Borborema, os sindicatos e a AS-PTA junto às comunidades rurais.
Havia desde adolescentes que estavam saindo dos encontros do Cirandas da Borborema, direcionada para crianças em idade escolar, até jovens já inseridos em dinâmicas que geram renda, como os fundos rotativos solidários para criação de animais, as atividades de produção de mudas de plantas, a apicultura e o trabalho nas 13 feiras agroecológicas do território.
O Polo da Borborema é um coletivo de 13 sindicatos rurais e cerca de 150 associações que faz a gestão de uma associação de agricultores familiares, a EcoBorborema, e de uma cooperativa, a CoopBorborema. E a AS-PTA é uma organização não-governamental que assessora técnica e politicamente o Polo da Borborema.