Após o Seminário de Saneamento Rural no Semiárido realizado pela ASA-PB, as recomendações e destaques feitos nos dois dias do evento (9 e 10 de fevereiro) vão ser levados para outro seminário com representantes dos nove estados do Nordeste e mais Minas Gerais, todos atravessados pelo clima semiárido.
Desse encontro regional, que acontecerá em Juazeiro da Bahia, vão sair recomendações para a construção de um novo programa da ASA Brasil. A partir das ações práticas, o objetivo é influenciar a elaboração de políticas públicas de saneamento rural a partir da lógica da convivência com o Semiárido, como aconteceu com os programas de acesso à água via armazenamento das chuvas.
Voltando ao encontro estadual, realizado na zona rural de Campina Grande na semana passada, outras recomendações também foram dirigidas para o governo da Paraíba e para o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Essas recomendações foram anunciadas ao final da mesa que promoveu um diálogo entre sociedade civil e governos, com a participação da diretora do INSA, Mônica Tejo, e do governo da Paraíba, Jailson Lopes, além dos representantes de organizações da sociedade civil que fazem parte da Articulação Semiárido: Antônio Carlos de Melo, da ONG Patac, e Clérisson Belém, da ONG IRPAA, que atua na Bahia.
A mediadora da mesa Madalena Medeiros frisou bem que a ASA estadual aguardava uma audiência pública com o Governador do Estado para tratar sobre as temáticas da convivência com o Semiárido, entre elas o saneamento rural, e a ASA Brasil, a assinatura dos termos de cooperação técnica com o INSA com as organizações que fazem parte da articulação.
Reúso de água – As tecnologias que possibilitam o reúso das águas vindas das pias de lavar roupa e dos pratos e do banho, assim como das águas utilizadas na descarga, no caso do sistema completo de reutilização, são de alto custo. Enquanto um sistema mais simples está orçado em R$ 5 mil, a versão que faz o tratamento das águas totais vale o triplo ou mais.
Essa é uma das questões que torna essas tecnologias um objeto de políticas públicas para ser executada com recursos públicos. Afinal de contas, o saneamento rural é um direito humano básico e é dever do Estado garanti-lo que todos os/as brasileiros/as. Sem falar que praticamente não há coleta de esgoto no campo, quem dirá tratamento desses resíduos que terminam poluindo as águas, solo, plantações e causando doenças para a população rural.
Para alcançar esse objetivo, a estratégia é reunir os aprendizados que as organizações da ASA têm a partir da implementação dos sistemas de reúso e das pesquisas participativas realizadas pelas universidades públicas em parceria com as famílias agricultoras. Nesse tema do saneamento rural, o IRPAA tem puxado as discussões e debates.
Recomendações da ASA PB – Diante da sobrecarga de trabalho que essas tecnologias podem trazer para as mulheres, uma vez que o ambiente onde se instala o sistema de reúso das águas é no quintal, umas área de domínio feminino, foram bastante ressaltados os riscos à saúde das mulheres, principalmente, no manejo da caixa de gordura.
Algumas recomendações foram pensadas para diminuir esse impacto, como debater a divisão justa de trabalho doméstico nos momentos de formação com as famílias que serão contempladas com as tecnologias; envolver os filhos e filhas nas atividades relacionadas a essa tecnologia, com a possibilidade de incluir uma remuneração por algo que fique sob suas responsabilidades; a contratação de técnicas mulheres; e o envolvimento dos agentes de saúde nas atividades relacionadas ao reúso da água.
Durante o Seminário foi lançado o vídeo Inovações Camponesas – Reúso de Água produzido em 2022 numa parceria entre AS-PTA e Parac. Clique e assista: