Onde há pobreza, há fome. Desde 2010, a ONU alerta que 70% das pessoas em situação de extrema pobreza, em todo o mundo, estão na zona rural. No Brasil, não é diferente: nos lugares onde vivem os agricultores familiares é onde se concentra grande parte das pessoas que passam fome. Uma das grandes contradições dos tempos atuais.
Para além das políticas Um dos caminhos que reduz a fome e a pobreza na zona rural são os mercados territoriais, como as feiras agroecológicas e pontos fixos que vendem alimentos produzidos nas redondezas, sem uso de veneno de nenhum tipo e com cuidado com o meio ambiente, com as mulheres e os/as jovens.
Esses mercados territoriais são locais onde as famílias agricultoras podem vender os alimentos que produzem, livrando-se dos atravessadores. Além disso, dispor de um lugar de comercialização de seus produtos por preços justos também estimula as famílias agricultoras a diversificar a produção.
Isso aconteceu com a família de Seu Severino Marques, 50 anos, e dona Rosélia Marques, 38, da comunidade Xique-Xique, em Remígio. A vida deles mudou bastante quando passaram a vender o que cultivavam na Quitanda da Borborema de Remígio e também na Feira Agroecológica do mesmo município.
Antes disso, o que produziam – algumas frutas, como laranja, e raízes como batata-doce e macaxeira – eram vendidos para atravessadores. “A preço de banana”, contou ele. “Desde 2020, vendo meus produtos na Quitanda de Remígio. E, há um ano e dois meses, tenho minha barraca na feira agroecológica. Se soubesse que era bom assim, tinha entrado na feira há mais tempo”, acrescentou.
Ele estima que, desde então, sua renda aumentou cerca de 50%. Além disso, eles começaram a produzir mais alimentos: cebolinha, tomate, coentro, espinafre e couve. Essa produção vai tanto pra mesa deles, quanto para a Quitanda e a feira.
“Antes, eu comprava tomate na feira (livre) para consumir em casa. Agora, como da minha roça mesmo. Quase não compro mais o que a gente come. Só trago de fora a carne, bolacha, açúcar, café. Até o cuscuz, o munguzá e o arroz, eu procuro comprar na Quitanda”, comentou ele destacando a qualidade dos produtos vendidos lá, livres de venenos e de transgênicos.
Na Feira Agroecológica de Remígio, além de seu Severino e dona Rosélia, a filha mais velha Simone (23), casada há mais de dois anos, passou a ter seu banco. A especialidade dela são os alimentos cozidos: galinha guisada, macaxeira, cuscuz, batata-doce e inhame. “Ela tem um mês na feira e está super satisfeita. Antes, o que ela produzia era para consumo da família e vendia as galinhas da criação para os atravessadores”, explicou seu Severino.
Na semana do Dia Mundial da Alimentação, a família vai ter mais um local de venda de seus produtos. Na quarta-feira, dia 18, das 7h às 15h, Remígio vai sediar a 2ª Festa da Colheita das Famílias Guardiãs das Sementes da Paixão da Borborema.
O evento, que acontecerá na rua da prefeitura do município, vai funcionar como uma feira do mangaio, de tudo vai ter. Barracas para comercialização de alimentos saudáveis in natura ou beneficiados; barracas para venda e trocas de sementes; e barracas para divulgação de pesquisas desenvolvidas pelas universidades da Paraíba (estadual e federal) em parceria com as famílias agricultoras para desenvolver controles biológicos (sem veneno) de fungos e pragas em cultivos como o da batata inglesa e erva-doce.
Também vai ter barracas para denunciar as ameaças a toda essa produção de alimentos saudáveis, como a chegada das indústrias de energia eólica e solar no território da Borborema. Outras barracas vão mostrar as ações que os/as jovens agricultores/as estão envolvidos/as, como a criação de animais de raças nativas, criação de abelhas e os fundos rotativos solidários. E, para encerrar, vai ter uma ala de barracas para divulgar ações públicas nas áreas de educação, assistência social e agricultura.
Além disso, ainda estão previstas na Festa da Colheita: a Mesa da Fartura cheia de sementes da paixão para trocas; apresentações de grupos artísticos locais como uma dupla de violeiros e uma banda de forró e uma cozinha onde dois EcoChefs vão elaborar comidinhas a partir dos alimentos regionais que fazem parte da cultura alimentar da região.
A 2ª Festa da Colheita está sendo organizada pelo Polo da Borborema e pela AS-PTA, com apoio da Prefeitura de Remígio, Fundação Laudes, Vert, ActionAid, Misereor, terre des hommes e CCFD.
O Polo da Borborema é um coletivo que envolve 13 sindicatos rurais e cerca de 150 associações comunitárias dos seguintes municípios: Queimadas, Massaranduba, Alagoa Nova, Lagoa Seca, São Sebastião de Lagoa de Roça, Esperança, Montadas, Remígio, Areial, Casserengue, Solânea, Matinhas, Algodão de Jandaíra.
Estudo sobre os mercados territoriais – Os benefícios que os mercados territoriais trazem para as famílias agricultoras foram objeto de estudo realizado pela Rede ATER Nordeste de Agroecologia, que envolve 12 organizações de seis estados da região. Na Paraíba, duas ONGs fazem parte: a AS-PTA e o Patac.
Do estudo, foi feita uma publicação “Mercados Territoriais: trajetórias, efeitos e desafios”. Acesse aqui a publicação em PDF: https://aspta.org.br/files/2022/06/Mercados_Territoriais.pdf