Dos dias 03 a 05 de setembro, foi realizado o Encontro de Experiências de Agricultura e Saúde na Cidade (EEASC) na Colônia Juliano Moreira, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Em sua quarta edição após 15 anos de hiato, o evento contou com a participação de 250 pessoas e uma programação intensa repleta de debates, rodas de conversas, visitas guiadas a quintais produtivos, mostra e venda de produtos da gente, troca de sementes e mudas, tenda da saúde e autocuidado, ciranda para as crianças e carrosséis de experiências.
Organizado por uma rede plural, o encontro teve como mote reconhecer e celebrar a diversidade de experiências de agriculturas urbanas e de abastecimento popular de alimentos na região metropolitana do Estado, promovendo o intercâmbio e a divulgação de conhecimentos e práticas agroecológicas na cidade.
O evento envolveu diversos coletivos que, desde seus espaços de atuação, se comprometem com a temática da agricultura e saúde. Estiveram presentes iniciativas, redes, movimentos sociais e arranjos locais da baixada fluminense como Seropédica, Magé, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, e também territórios no município do Rio, sendo Complexo da Penha e Complexo do Alemão / Serra da Misericórdia e Maré na Zona Norte, e, na Zona Oeste, Campo Grande, Vargem Grande, Quilombos do Maciço da Pedra Branca, Pedra de Guaratiba e Colônia Juliano Moreira.
Com o lema “Nossos passos vêm de longe”, a mesa de abertura contou com Luís Madeira, responsável de Planejamento Territorial e Regularização Fundiária da Fiocruz Mata Atlântica, Bruna Pitasi, coordenadora de Apoio à Alimentação Adequada e Saudável do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Vitor Tinoco, superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar no Rio de Janeiro, Elisangela Jesus da Silva (Janja), coordenadora estadual do MTST de Pernambuco e coordenadora do setor de agricultura urbana, Joselita Benjamin, agricultora da Associação dos Agricultores da Feira Agroecológica de Campo Grande, Processadores de Alimentos, Artesãos e Amigos, e Jandira Rocha, agricultora e coordenadora do Museu Vivo da Agroecologia, que dialogaram sobre os desafios e oportunidades do contexto político, abrindo o debate para a elaboração de propostas de políticas públicas de apoio à agricultura urbana.
Após esse momento, pudemos ouvir e entretecer as histórias das baixadas de Jacarepaguá e Fluminense, narradas por Renato Dória, professor de História da rede estadual de ensino e pesquisador do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá, Marilza Barbosa Floriano, assistente social, integrante da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência da Baixada Fluminense, Adriano Insfran, da Comunidade de Remanescentes do Quilombo Dona Bilina, e Sonia Ferreira Martins, cientista social, mestre em educação agrária, integrante da Rede Fitovida e da Comissão Pastoral da Terra.
No segundo dia, tendo como tema “Morar, plantar e comer na cidade“, foram realizadas na parte da manhã visitas guiadas aos quintais produtivos da Dona Fátima e Seu Severino, ambos agricultores da Colônia Juliano Moreira. Conjuntamente, aconteceram sete rodas de conversa, animadas pelos próprios participante em que abordaram assuntos diversos como: 1. direito humano à alimentação: abastecimento popular de alimentos, 2. tecnologias socioambientais para diferentes cuidados na cidade, 3. comunicação popular, juventudes e campanha produtos da gente, 4. confluência de saberes tradicionais e acadêmicos: o papel das universidades junto aos movimentos da agroecologia, 5. infâncias e agroecologia, 6. saúde, plantas medicinais e fitoterápicos e 7. economia e mulheres na agricultura urbana. Já na parte da tarde, as vivências trazidas nos carrosséis mobilizaram o público, a partir das experiências locais dos territórios e arranjos locais, foi possível conhecer e se reconhecer nas práticas de resistência da agroecologia. Se apresentaram o Arranjo Local de Guaratiba, a Teia da solidariedade junto a Coletivo Caboclas, a Serra da Misericórdia, Cooperativa Univerde, agricultoras de Duque de Caxias, Feira de Campo Grande e Casarão Agroecológico/AAFA, Cozinha das tradições e Magé com o Museu de agroecologia, a Cozinha Colher de Pau e a Copagé.
À noite celebramos conquistas: 15 anos da Rede Carioca de Agricultura Urbana, 40 anos da AS-PTA junto aos 25 do programa de agricultura urbana. Sobre esse momento de celebração, Paulo Petersen, coordenador executivo da AS-PTA, afirmou: “A luta social só pode ser construída a partir das práticas e dos territórios, é daí que nascem os movimentos. Por isso é importante a realização de um encontro como esse em que as experiências têm voz, pois só assim é possível construir uma força capaz de dar visibilidade para o que é invisibilizado pelo sistema em que estamos. Esse é o nosso grande desafio: tecer alianças, pois, se nós não formos capazes de tecer alianças, as forças que invisibilizam e que impedem que essas experiências se desenvolvam serão mais fortes.”
No último dia do Encontro, para tecer e celebrar essas alianças, foi realizada uma plenária de encerramento tendo como enredo “Sonhar é construir o futuro ancestral” em que participaram Bruna Neres, geógrafa e pesquisadora da Casa Fluminense, os deputados estaduais Flávio Serafini e Marina do MST, representando a Frente Parlamentar em Defesa da Economia Popular Solidária e da Agroecologia e a Comissão de Segurança Alimentar da ALERJ respectivamente, e Renata Machado, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Durante a mesa, Bruna Gabriella representando o Plano Integrado de Saúde nas Favelas da Fiocruz (Programa 146 x Favelas) falou do lançamento coletivo dos projetos que estão sendo iniciados pelas seguintes instituições: ACECARJ/MPA; AS-PTA; Baía viva; Favela Verde; Fundação Angélica Goulart / em rede com Cultura Urbana; Providência Agroecológica; Quilombo Dona Bilina / Teia da solidariedade.
O IV EEASC terminou com uma grande roda, música, abraços e muita alegria, além da certeza de que o sonhar e construir um futuro ancestral, tema do último dia do encontro, passa pelo fortalecimento de redes e pelo foco na atuação coletiva. Sonia Martins, da Comissão Pastoral da Terra, afirmou: Um encontro como esse quer, cada vez mais, emancipar nossos sujeitos para que possam sair de um não-lugar para um lugar onde possam ser sujeitos de sua própria história.