O Projeto Agroecologia, Educação Popular e Cultura – Morar e Plantar na Zona Oeste – é realizado pela Coletiva As Caboclas em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e patrocinado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RJ) por meio do Edital 01/2023 de Apoio à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS), denominado Demetre Anastassakis.
Entre seus objetivos está o fortalecimento político, socioambiental, cultural e técnico da Coletiva As Caboclas, ao reafirmar e realizar melhorias físicas no Espaço Dona Hellen: Agroecologia, Educação Popular e Cultura, onde a Coletiva desenvolve suas atividades.
O nome do espaço busca homenagear a matriarca do território, Hellen Andrews (Dona Hellen), que tornou-se referência na luta contra a fome e em defesa da agricultura urbana na Zona Oeste, ao construir junto de muitas outras mulheres como Dona Isabel, Mara Rubia, Dona Graça, Dona Marli, Helena Mateus, o Bosque das Caboclas, onde está localizada a Coletiva.
A iniciativa de se criar uma organização partiu de Saney Souza, filha de Dona Hellen, educadora popular, articuladora territorial e coordenadora da Coletiva, que por meio de seu trabalho no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), percebeu a necessidade de criar um ambiente de escuta e trocas, onde as mulheres do território pudessem dialogar sobre a complexidade de questões que perpassam suas existências na perspectiva de raça, classe e gênero.
Dessa forma, a Coletiva, criada em 2015 (tendo companheiras resistindo na Ocupação há 30 anos) foi pensada para ser um espaço que fortaleça a rede de mulheres e jovens através da educação popular e agroecologia e vem estabelecendo espaços de formação política, desenvolvendo atividades educacionais para jovens, como o pré-vestibular popular e produzindo conhecimento coletivo por meio da agroecologia, das relações do cuidado da terra e das plantas como conexão ancestral de resistência.
As melhorias no local representam o fortalecimento das redes da Coletiva, que atuou em 2022 no Projeto Morar e Plantar (Morar e Plantar), realizado pela AS-PTA e pela Teia de Solidariedade da Zona Oeste em Vargem Grande, retomando sua luta pelo direito à moradia digna e à soberania alimentar na periferia. As atividades, que têm como foco o fomento da economia comunitária, sob a perspectiva das mulheres, sobretudo negras e periféricas, são coordenadas pela matriarca Dona Hellen e têm a mobilização e articulação conduzida por Saney Souza. A assessoria técnica é da equipe de arquitetura da Coletiva de Assessoras Populares do Rio de Janeiro (Coletiva de Assessoras Populares), tendo como responsável técnica a arquiteta e urbanista, Heloisa Marques.
As intervenções são realizadas por meio de processo participativo, em formato de mutirão autogestionário, em que seis mulheres da coletiva são bolsistas. São oferecidas oficinas de capacitação técnica para construção civil ao longo do processo de intervenções, transformando o canteiro de obras em um lugar de troca de saberes técnicos e populares a partir das mulheres. O aprendizado das técnicas convencionais busca ampliar os conhecimentos da organização comunitária quanto aos saberes construtivos, fortalecendo diversos aspectos de suas vidas: abrindo possibilidades de fonte de renda e aumentando sua autonomia para reparos de suas próprias casas. Dentre as intervenções previstas, estão a melhoria das condições de ventilação e iluminação existentes, a adequação da instalação elétrica, de esgoto e hidráulica e remanejamento e ampliação das áreas, de acordo com os usos comunitários e atividades da Coletiva. Ao longo de todo o processo participativo, foi evidenciada a importância dos saberes ancestrais de cuidado, respeito e proteção à natureza, relacionando-os à pauta do acesso à terra para moradia e para a agroecologia quilombola, periférica e preta.
Durante cinco meses, tempo em que parte do projeto aconteceu, ocorreram dois mutirões mensais (veja no Instagram da Coletiva As Caboclas o que já foi realizado) e, em outubro de 2024, será realizada a Troca de Saberes, uma roda de conversa entre a comunidade, apoiadoras, parceiras e convidadas especiais. Além de partilhar sobre o processo de construção conjunta, a troca propõe fortalecer vínculos sobre outros processos autogestionários e coletivos liderados por mulheres e juventude no Rio de Janeiro e região metropolitana, fortalecendo o território em rede e as possibilidades de morar e plantar na Zona Oeste.
O edital do CAU/RJ que financia o Projeto Agroecologia, Educação Popular e Cultura – Morar e Plantar na Zona Oeste é uma importante ação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo para o fortalecimento do debate sobre o direito à moradia digna, garantido constitucionalmente e reconhecido como direito humano universal. A iniciativa, através de ações práticas, formativas e políticas, cria condições de acesso às famílias de baixa renda ao assessoramento técnico gratuito de profissionais capacitados para a garantia da qualidade habitacional, urbana e de outros equipamentos que fortaleçam seus laços comunitários e necessidades cotidianas. Cabe ressaltar que a Assistência Técnica se trata de um direito da população com renda familiar de até 3 salários mínimos, previsto desde 2008 pela Lei Federal 11.888/2008 e, desde 2019, no município do Rio de Janeiro, através da Lei 6.614/2019, muito embora, na prática, a sua efetivação como política pública ainda esteja distante da realidade das periferias. Ações como essas se tornam indispensáveis diante de um cenário crescente de desigualdades e precarização do cotidiano, fomentando a organização popular, visibilizando e amplificando as lutas por acesso aos direitos e melhorando as condições de vida (Moradia Digna CAU/BR).
Você também pode participar da construção do Espaço Dona Hellen! Através da campanha de arrecadação disponível na plataforma apoia.se é possível fazer uma doação para a compra de mobiliários do espaço multiuso e dos acabamentos, além de itens não custeados pelo edital da obra, como pintura, revestimento cerâmico e telhado. A campanha também pretende arrecadar recursos para a retomada das atividades realizadas pelas Caboclas, como apoio escolar para as crianças, aulas de inglês para jovens e adultos, curso pré-vestibular popular, materiais de higiene pessoal para as adolescentes, aquisição de alimentos para doação através da Feira Solidária Dona Hellen, entre outras ações locais.
A possibilidade de construção e afirmação do Espaço Dona Hellen como um lugar de cultura e educação popular, é uma das motivações que levaram a Coletiva a iniciar seu processo de autodeclaração quilombola. É muito significativo que este movimento aconteça concomitante ao processo de construção do Espaço, já que ambas as ações têm o fortalecimento da luta coletiva por direitos como um de seus principais objetivos.
Para conhecer mais e acompanhar o projeto, acesse as redes sociais da Coletiva As Caboclas (@coletivacaboclas) e nos ajude a construir esse espaço de articulação cultural, educação popular e agroecologia!
Imagens: Equipe de Comunicação do Projeto
Composta por: Évila Dantas Costa, Iris Silva e Kezia Silva dos Santos