Artigo da revista Nature, volume 456, de 13 de novembro de 2008.
Genes modificados se espalham para milho nativo
Genes provenientes de milharais geneticamente modificados (GM) foram encontrados em uma espécies tradicional nativa de milho na região central do México, segundo um estudo. O trabalho confirma em grande parte um resultado similar e controvertido publicado pela Nature em 2001 (ref. 1) e pode reacender o debate a respeito de lavouras GM no México.
O documento reporta a descoberta de transgênicos em três dos 23 locais de amostragem de 2001, e novamente em dois desses locais usando amostras colhidas em 2004. redigido por uma equipe liderada por Elena Alvarez-Buylla da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) na Cidade do México, o estudo será publicado no periódico Molecular Ecology.
Em 1998, o governo mexicano proibiu a plantação de milho GM para proteger as suas cerca de 60 variedades nativas e seus parentes silvestres. Mas os relatos em jornais sugerem que os agricultores plantaram pelo menos 70 hectares de lavouras com milho GM no estado ao norte de Chihuahua, e as repercussões disso ainda não estão claras.
Somente cerca de 25% do milho plantado no México vem de sementes vendidas comercialmente; a maior parte é guardada de uma colheita para outra. É por isso, diz Alvarez-Buylla, que os pesquisadores precisam definir claramente se os transgênicos realmente chegaram às lavouras locais. “Temos urgência em estabelecer critérios rigorosos tanto moleculares com de amostragem para o monitoramento biológico em centros de origem e diversificação de cultivos”, diz a equipe.
Allison Snow, geneticista da Universidade do Estado de Ohio em Columbus, chefiou a equipe que reportou [2], em 2005, não poder detectar genes modificados no milho de regiões de amostragem no artigo original da Nature. Ela afirma que o novo trabalho é “um estudo muito bom, com sinais positivos de genes modificados”.
“É bom que isso seja visto”, complementa Ignácio Chapela, o ecologista da Universidade da Califórnia, em Berkeley, autor sênior da publicação da Nature. “Mas foram necessários sete anos”.
TEMPOS DE TESTE
O artigo original causou uma tempestade de controvérsias [3-5]. Os críticos apontaram alguns erros técnicos, incluindo problemas com o tipo de PCR usado para amplificar as seqüências genéticas, apesar de Chapela e do seu co-autor David Quist terem ficado do lado das suas conclusões [6]. Outros questionaram se os críticos foram influenciados pela sua associação com a indústria da biotecnologia, o que foi por eles negado. Por fim, a Nature publicou uma nota do editor dizendo que havia evidências insuficientes para justificar a publicação original. Os defensores das lavouras GM, de maneira ampla, porém equivocada, consideraram isso uma retratação.
Um segundo round de críticas foi desencadeado em 2005, após o artigo de Sonw não ter relatado qualquer evidência de genes modificados no milho mexicano.
Alguns criticaram esse artigo por ser estatisticamente inconclusivo e privado de amostras representativas [7], o que foi contestado pelos autores [8].
A equipe de Alvarez-Buylla iniciou a resolução da questão conduzindo testes genéticos em milharais de amostras de sementes e folhas de milho para evidenciação de dois genes modificados: um gene promotor proveniente do vírus dos mosaico da couve-flor 35S, e o terminador do gene da nopalina sintetase, NOSt. A equipe encontrou genes modificados em 1% ou mais dos 100 campos pnde realizou a amostragem, incluindo algumas amostras colhidas por Quist e Chapela em 2001.
José Sarakhán, biólogo da UNAM e membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA, recomendou o artigo de Alvarez-Buylla para publicação em Proceedings of the National Academy of Sciences. Ele foi rejeitado; em uma carta para os autores em 14 de março deste ano, o editor chefe do periódico, Randy Schekman, professor da Califórnia, Berkeley, escreveu que a biologia e a genética não garantiam a publicação, e que um examinador havia chamado atenção para o fato de que o artigo poderia “ganhar uma exposição indevida na imprensa devido a uma agenda política ou ambientalista”.
A reposta de Sarukhán: “Eu não vi qualquer razão para ele não ter sido publicado”.
Norman Ellstrand, fitogeneticista da Universidade da Califórnia, em Riverside, considerou o estudo intrigante. “A importância do estudo não é o impacto dos próprios genes modificados”, diz ele, “mas o fato da dispersão dos mesmos ter ocorrido tão facilmente em um país onde a plantação de milho transgênico não ocorre há vários anos”.
De qualquer modo, o novo artigo não confirma uma conclusão importante da publicação original da revista Nature — se os genes modificados foram integrados ao genoma das variedades nativas e repassados para as plantas descendentes. Alvarez-Buylla suspeita que isso pode ter acontecido, mas ela não está interessada a percorrer outro round de batalhas politicamente custosas – e irá deixar esse trabalho para outros.
por Rex Dalton
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1. Quist, D. & Chapela, I. Nature 414, 541–543 (2001).
2. Ortiz-Garcia, S. et al. Proc. Natl Acad. Sci. USA 102, 12338–12343 (2005).
3. Suarez, A. V. et al. Nature 417, 897 (2002).
4. Metz, M. & Futterer, J. Nature 416, 600–601 (2002).
5. Kaplinsky, N. et al. Nature 416, 601–602 (2002).
6. Quist, D. & Chapela, I. Nature 416, 602 (2002).
7. Cleveland, D. A. et al. Environ. Biosafety Res. 4, 197–208 (2005).
8. Ortiz-Garcia, S. et al. Environ. Biosafety Res. 4, 209–215 (2005).
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Nature News, 12/11/2008.
Modified genes spread to local maize – Findings reignite debate over genetically modified crops.