“O pior veneno é a falta de informação, temos de estar sempre unidos para construir o conhecimento” com essa frase a agricultora Anaide de Lima, do Sítio Veloso, município de Casserengue, resumiu o espírito dos participantes do dia de Mobilização contra o uso dos agrotóxicos, realizado nesta sexta-feira, 07 de setembro, no Convento dos Maristas em Lagoa Seca-PB. A mobilização foi uma iniciativa da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e do Polo da Borborema, em parceria com o Território da Cidadania da Borborema, e faz parte da programação alusiva à Semana Mundial da Alimentação comemorada entre 16 (Dia Mundial da Alimentação) e 22 de outubro.
A atividade reuniu mais de 150 agricultores e agricultoras dos 15 municípios das regiões da Borborema e do Cariri. Também participaram estudantes, pesquisadores, extensionistas e representantes do Governo do Estado. A programação começou com a fala de Nelson Anacleto, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca. Nelson deu um depoimento sobre sua experiência negativa com o uso de agrotóxicos no passado: “na juventude como plantador de batatinha, cheguei a mexer baldes de veneno, até hoje posso sentir as consequências disso na minha saúde”. Nelson também chamou a atenção para a importância de desconstruir alguns mitos sobre os alimentos livres de agrotóxicos, como por exemplo, o de que os produtos orgânicos são caros e não têm a mesma qualidade dos com veneno. O agricultor José de Assis, do Sítio Quebra Pé, município de Esperança, trouxe as batatas, que pesam mais de 120g cada, produzidas na sua propriedade “para mostrar que o alimento sem veneno pode ter qualidade, isso aqui é uma prova, pois todo mundo que vê essa batata, jura que eu usei produtos químicos, mas ela é totalmente agroecológica”, disse o agricultor.
Em seguida foi exibido o documentário “O veneno está na mesa”, de Sílvio Tendler, desvendando o jogo de interesses que há por trás da indústria dos agrotóxicos e os riscos de contaminação a que a maioria da população, não só os produtores, mas também os consumidores estão expostos.
O Professor Sebastião Pinheiro, do Departamento de Educação e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que participa do vídeo, falou ao público presente: “As mesmas empresas que vendem o veneno são aquelas que lá na frente vão vender também o antídoto, e nós queremos fugir deste círculo”, afirmou.
Desde 2009 o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, os brasileiros consomem mais de 5,2 litros de veneno por ano. De acordo com o relatório sobre agrotóxicos e afins do Ibama de 2004, dos 27 estados da federação a Paraíba é o 21º no ranking dos que mais usam agrotóxicos.
O evento foi encerrado com o lançamento do livro: Agrotóxicos no Brasil – um guia para ação em defesa da vida de Flávia Londres, com a promoção da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA). “A desinformação tem sido uma instrumento poderoso nas mãos das grandes corporações que querem nos impor seus agrotóxicos. Estas duas redes que discutem a agroecologia lançaram esta publicação para contribuir neste sentido”, disse Marcelo Galassi, da AS-PTA durante o lançamento do livro. Com o livro os agricultores poderão saber como e porque o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos, o que diz a legislação atual sobre o assunto, como identificar, prevenir e notificar uma intoxicação por agrotóxicos entre outros.
As comemorações alusivas a Semana Mundial da Alimentação vão seguir durante todo o mês de outubro nos municípios do Polo da Borborema, encerrando no dia 07 de novembro, com a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado, que pretende chamar a atenção da sociedade para os malefícios dos agrotóxicos bem como cobrar as responsabilidades dos órgãos públicos e autoridades políticas sobre o problema.