As famílias agricultoras da região do Polo da Borborema, na Paraíba, reclamam de uma onda de assaltos que vem acontecendo na zona rural dos municípios. A vítima mais recente foi Maria de Lourdes de Souza, ou dona Quinca, como é conhecida. A agricultora mora com a família no Assentamento Manoel Joaquim, em Alagoa Nova, e conta que há 20 dias, por volta das 2h da madrugada, cinco homens encapuzados invadiram a sua casa e, não se contentando em roubar diversos objetos como motocicleta, celulares e eletrodomésticos, ainda bateram violentamente em dona Quinca e em sua família. A agricultora chegou a ser hospitalizada com um ferimento na cabeça provocado pelo espancamento: “Eu e minha família estamos assustados, eu me acabei emocionalmente, vivo nervosa. Abandonei tudo lá, minhas galinhas, minhas plantas medicinais e vim morar numa casa alugada por enquanto. Não queria sair de lá, morei toda vida no campo e não me acostumo na cidade, eu gosto é de mexer com a terra, mas com esses assaltos, fica difícil”, desabafa a agricultora. Os moradores do Assentamento Manoel Joaquim reclamam que casos como este são frequentes.
Dona Quinca faz o apelo às autoridades: “Queria que os políticos olhassem melhor para o campo, pois ele está ficando abandonado. Aqui nessa região tá todo mundo saindo, com medo dessa violência. Somos nós que produzimos os alimentos, levamos para as feiras, e se todo mundo sair do campo, vai faltar alimentação na cidade, não é?”.
Assaltos no Campo – A violência na zona rural não é um problema novo. Há alguns anos roubos de motocicletas, furtos de animais, implementos agrícolas, arrombamentos de casas, assaltos à mão armada, inclusive com assassinatos de agricultores e agricultoras se transformaram em episódios corriqueiros no campo. Tais fatos vêm disseminando um clima de medo e terror agravando o quadro de migração de agricultores para as cidades à procura de maior segurança. No Território da Borborema, em municípios como Arara, Remígio ou Alagoa Nova, município de dona Quinca, já possuem comunidades inteiras desertas no período da noite. O medo vem comprometendo as formas tradicionais de cultivar a terra, até que inviabilizam por completo a produção agrícola.
A terra de trabalho vem deixando de ser também a terra de morada. O afastamento da família de seu chão compromete a eficiência produtiva, característica da agricultura familiar; a qualidade de vida, já que muitas vezes são obrigados a morarem na periferia das cidades; e a sua continuidade, já que das crianças e dos jovens também foram roubados a chance de aprenderem a arte de lavrar a terra.
Foi diante desse quadro que em 2012, o Fórum das Organizações da Sociedade Civil em Defesa da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária na Paraíba, que reúne diversas entidades, entre elas o Polo da Borborema e a AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar, usou o dia da Agricultura (20 de março) para denunciar e exigir das autoridades medidas de combate à violência no campo. Rodovias de grande movimentação foram interditadas neste dia para chamar a atenção da sociedade para o problema. Na época o então Comandante do 10º Batalhão de Polícia Militar (10º BPM), coronel José Ronaldo, responsável pela segurança de Campina Grande e mais de 36 municípios, esteve no local representando o Secretário de Estado da Segurança e Defesa Social, Cláudio Lima. Ele recebeu as reivindicações do Fórum e se comprometeu a estudar como atender à pauta entregue pelos manifestantes. Houve ainda o acordo de que a Segurança Pública iria se reunir periodicamente com o Fórum, mas os encontros tiveram de ser interrompidos devido ao período eleitoral. Houve ainda a realização de uma sessão pública itinerante da Assembleia Legislativa da Paraíba que reuniu na Câmara de Vereadores de Campina Grande deputados, vereadores e diversas autoridades de segurança do estado. A sessão foi precedida de uma caminhada de agricultores pelas principais ruas de Campina Grande.
Patrulha Rural – Entre as reivindicações estão a implantação de um policiamento rural efetivo, aumento do contingente nas cidades onde se registra o maior número de ocorrências no campo, um serviço de inteligência capacitado para atuar na zona rural e a criação de uma delegacia especializada em crimes cometidos no campo. Ainda em 2012 o Governo da Paraíba implantou a Patrulha Rural. Segundo Manoel Antônio de Oliveira, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova e membro da coordenação do Polo da Borborema, logo após a implantação da Patrulha Rural, com as rondas os agricultores perceberam uma melhora na segurança, mas logo a onda de violência voltou, “do final do ano passado pra cá eles baixaram a guarda e os assaltos voltaram, pelo menos aqui na Borborema”, conta.
De acordo com Manoel Antônio, a pressão sobre as autoridades vai continuar: “Estamos protocolando ao novo Comandante, um pedido de audiência para que possamos dar continuidade ao diálogo entre a Segurança Pública e o Fórum e colocar o novo Comandante a par da situação atual”.