O trabalho de fortalecimento da agricultura familiar agroecológica desenvolvido pelo Polo da Borborema na Paraíba, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, tem se preocupado em inserir a família como um todo nos processos de formação e experimentação. Trabalhar com a família é, sobretudo, considerar as diferenças entre cada um de seus membros: homens, mulheres, jovens, crianças ou idosos. Assim, em 2002, surge o trabalho com a infância e, posteriormente, com a juventude, na perspectiva de estimular uma formação que valorize a vida no campo e o modo de produção da agricultura familiar. Foi criada a Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura que a partir de uma proposta de educação que valorize a realidade das crianças e da juventude camponesa, busca afirmar a identidade dos sujeitos, debater futuro da agricultura familiar e do meio ambiente.
No dia 26 de abril, no sítio Araçá, município de Arara, acontecerá o primeiro mutirão de 2013. Os mutirões são uma importante ação da campanha, trata-se de encontros de um dia com cada comunidade (ou grupos unindo duas ou mais comunidades) realizados duas vezes ao ano, que por meio de uma metodologia que considera o conhecimento e a realidade das famílias agricultoras, une brincadeiras com formação em torno de um tema específico. “Este ano o tema trabalhado será o das sementes, usando o teatro nós vamos falar com as crianças sobre o processo de germinação e a importância do cuidado para que ela cresça e dê frutos. Já com os jovens, nós vamos discutir a importância diversidade das sementes locais, as sementes da paixão e os Bancos de Sementes. Vamos visitar os bancos comunitários de cada localidade onde os mutirões vão acontecer e pedir que cada um traga um tipo de semente que considera importante”, explica Ana Paula Anacleto, assessora do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA.
A realização dos mutirões é precedida por um processo de preparação junto às 110 comunidades dos 13 municípios onde irão acontecer os 51 encontros de 2013. A preparação inclui um processo de planejamento com representação de jovens das comunidades envolvidas nos mutirões e oficinas de brincadeiras e de teatro com aqueles que vão participar das apresentações e encenações no dia do mutirão. “Em 2002 quando a Campanha começou, atuávamos em três municípios Lagoa Seca, Solânea e Remígio, envolvendo cerca de 600 crianças, o trabalho foi evoluindo e hoje 3.500 filhos e filhas de agricultores participam das atividades da Campanha, destes quase 1.500 são jovens”, explica Ana Paula Anacleto.
Maria Gabriela Galdino dos Santos, ou Gabi, como é chamada, tem 17 anos e desde os oito participa da Campanha, ela mora no sítio Nicolândia, município de Massaranduba: “Comecei a participar em 2003, um dia a esposa do meu tio foi cozinhar em um mutirão no sítio vizinho, Aningas, e me chamou para um dia de brincadeiras lá, eu fui e nunca mais deixei de participar”, conta. Hoje a adolescente é animadora dos mutirões, brinca com as crianças e ajuda a organizar e planejar as ações que envolvem jovens e crianças no âmbito da Campanha e nas dinâmicas do Polo da Borborema, ela é secretária da Associação Comunitária que une a sua comunidade Nicolândia e a de Aningas. Gabi participa ainda da Comissão de Jovens do Sindicato de Trabalhadores Rurais do seu município e está a frente de vários processos ligados à juventude, a exemplo de um Fundo Rotativo Solidário de cabras do Sindicato que já tem a participação de 11 jovens, entre outras ações: “Com os jovens de Massaranduba realizamos oficinas de canteiros alternativos, de enxertia, de sal mineral, de biofertilizante. Também mutirões de produção de mudas e já estamos com animais para ampliar o Fundo Rotativo Solidário para mais outro grupo”.
Gabi conta que no seu município começaram a despertar para a importância do trabalho envolvendo a juventude em 2010, depois da realização do I Encontro da Juventude Camponesa da Borborema, uma atividade da Campanha, realizado pelo Polo da Borborema e pela AS-PTA: “A gente viu que, trabalhando nessa construção de uma nova mentalidade a respeito da agricultura familiar com as crianças, elas já vão crescer mais conscientes e ver a vida na agricultura de uma nova maneira. Já o jovem, muitas vezes, já vem com uma consciência formada, por isso vimos a necessidade de fazer um trabalho voltado para os jovens”.
Gabriela acredita que neste trabalho a escola tem papel fundamental: “Estamos conseguindo ter a participação dos professores, que durante um mês inteiro seguem trabalhando em sala de aula os assuntos trazidos pelos mutirões nas oficinas de brincadeiras e no teatro”. Ana Paula Anacleto afirma que não se pode trabalhar só com as crianças e os jovens, pois existe um contexto que influencia a noção que eles formam sobre a sua vida na agricultura do qual fazem parte professores, diretores, catequistas, pessoas que, em muitos casos, têm sido estimuladas pelas próprias crianças a participar da Campanha. Segundo Ana Paula, o trabalho em parceria com a escola já trouxe avanços: “Acredito que a gente vêm conseguindo mudar a concepção dos professores sobre esse assunto, antes eles aceitavam mais os conteúdos impostos pelos livros escolares, hoje a gente vê que eles já têm uma visão mais crítica com relação à forma como estes materiais tratam a educação no campo”, avalia.
A Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura conta com o apoio da ActionAid.