As primeiras chuvas que caíram no território da Borborema, na Paraíba, no final do mês de abril, chegaram para as famílias agricultoras como um sopro de esperança, no cenário deixado por aquela que já está sendo considerada a estiagem mais severa dos últimos 40 anos. A situação, no entanto, ainda não é favorável para os criadores de bovinos. “Este período é crítico, as famílias que criam e armazenam relatam que agora começam a sentir os efeitos da seca, pois a alimentação armazenada para os animais vai acabando e a chuva ainda não foi suficiente para fazer pasto”, explica Felipe Teodoro, biólogo e assessor técnico da AS-PTA AgriculturaFamiliar e Agroecologia, que acompanha a comissão de criação animal do Polo da Borborema.
Neste sentido, a sabedoria e o conhecimento passados ao longo das gerações fazem com que os agricultores e as agricultoras enfrentem períodos como este de maneira bem mais tranqüila. É o caso do agricultor Adriano Pereira de Macêdo, que cria um total de oito animais, entre novilhas, bezerros, bois e vacas,na propriedade de dois hectares de terra que herdou dos pais no sítio Bodopitá, município de Queimadas.Com a ajuda da família, que se organizou em mutirão, ele fez um silo, de aproximadamente 15 toneladas,em julho do ano passado, um costume que o seu pai já tinha. O agricultor usou no silo palha de milho, capim e um pouco do próprio milho. Foi esta reserva que garantiu à família não só manter os animais durante a longa estiagem, sem a necessidade de se desfazer das criações e ainda ter prejuízo com a venda de animais com baixo peso e doentes, mas Adriano notou uma melhora de 100% na saúde dos animais, devido à qualidade da sua alimentação: “aqui sem o silo seria muito difícil manter todos eles, e quando a comida é de má qualidade, o animal fica catando, demora mais pra se alimentar, come mais devagar e assim emagrece, fica doente. Eu não precisei comprar ração, nem remédio para os animais”, explica.
O silo de Adriano, assim como o dos demais criadores de Queimadas, foi feito com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, responsável pela gestão da máquina ensiladeira. Para a eficiência desse sistema, as famílias criadoras entram como contrapartida com o frete da máquina até a propriedade e o óleo combustível para o equipamento. “Antes a gente tinha que pagar além do frete e do óleo, o aluguel da máquina, que custa uns R$ 80,00 a hora”, conta o agricultor.
Na região do Polo da Borborema atualmente cerca de 150 famílias armazenaram mais de 1.500 toneladas de forragem (1,5 milhão de quilos), o que garantiu a manutenção de boa parte dos rebanhos: “o agricultor é muito bom de cálculo, quando ele vê que o inverno não será bom, ele já calcula a quantidade de forragem armazenada para manter um determinado número de animais e assim vende só aqueles que não poderá manter, aproveitando o momento em que os animais estão bem e por um preço mais valorizado”, explica Felipe Teodoro.E completa: “o silo faz com que as famílias mantenham os animais durante a seca, conservem a produção de leite e carne, sem fazer uso de outra reserva para a compra do alimento ou remédio para o rebanho, exatamente o que temos observado aqui na região da Borborema, não soubemos de mortes de animais por conta da seca entre os agricultores que armazenam forragem”.
O resultado do trabalho de estocagem de alimento para os animais ganhou envergadura depois que o Polo da Borborema conquistou 10 máquinas moto-ensiladeiras itinerantes financiadas pelo Programa de Desenvolvimento territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Essas máquinas são geridas por regras localmente definidas e são associadas aos mutirões de armazenamento de forragem.
A troca de experiências por meio dos intercâmbios, o incentivo para a aquisição de lonas e a assessoria técnica na região da Borborema conta com o apoio do Projeto Terra Forte, desenvolvido pela AS-PTA e pelo Polo da Borborema, com a parceria do PATAC e do AVSF e o co-financiamento da União Europeia.