O fortalecimento das ações de acesso a mercados locais tem sido para as associações de agricultores do Rio de Janeiro e para a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, um objetivo que, além de garantir a entrada em novos canais de comercialização, busca afirmar a agricultura familiar na região metropolitana do Rio de Janeiro. Recentemente mais dois contratos de venda para mercados institucionais foram assinados na zona oeste do Rio de Janeiro. Pedro Mesquita, agricultor do Maciço da Pedra Branca, conseguiu renovar o contrato de venda de seus produtos para o Colégio Estadual Prof. Teófilo Moreira, em Vargem Grande, por meio do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE). E mais, também conseguiu desenvolver iniciativa semelhante junto ao CIEP Brigadeiro Sérgio de Carvalho, em Campo Grande.
A conquista de Pedro Mesquita não é particular, mas fruto do trabalho coletivo da Associação dos Agricultores da Vargem Grande (Agrovargem) e de seus parceiros. Como no ano passado, quando conseguiram seu primeiro contrato de venda para o PNAE, os agricultores da associação fizeram questão de participar junto ao Pedro das primeiras entregas nos colégios estaduais. Dentre os alimentos que serão comercializados estão banana, caqui, abóbora, abobrinha e chuchu, que farão parte da merenda escolar dos estudantes da região.
Os dois contratos somam juntos cerca de R$15.000,00 e estarão em andamento até o fim do ano letivo de 2013. Essa iniciativa abre possibilidades e oportunidades para que mais agricultores familiares da zona oeste do Rio de Janeiro ampliem o acesso aos mercados institucionais. As estratégias de acesso a esses mercados são também parte da busca por reconhecimento, valorização e continuidade das práticas das famílias agricultoras na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Inserindo-se em redes e fortalecendo sua participação em espaços de discussão acerca de políticas públicas para a agricultura familiar, como o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Município (Consea-Rio), os agricultores têm tido seus horizontes de atuação ampliados.
No caso dos contratos para o PNAE, a aproximação entre os agricultores e funcionários e alunos nas escolas tem efeitos para além do fornecimento de alimentos. O diretor da escola de Vargem Grande, Professor Carlos Motta, ressalta as características rurais da região da cidade em contraponto às pressões urbanas do local. Segundo ele, “Aqui ainda tem agricultura familiar e a gente está provando isso. Foi uma escola rural, então é um resgate dessa tradição de Vargem Grande, uma realidade das pessoas que moram aqui. Não é distante da gente. É o dia a dia mesmo de Vargem Grande e que esperamos que se mantenha por muitos anos”. Já o Ciep de Campo Grande tem uma horta que é cuidada com entusiasmo pelos estudantes. Segundo Alice Franco, da equipe de animação cultural do Ciep, alimentos como pimentão, salsa e cebolinha são eventualmente colhidos para serem incluídos na alimentação escolar. É também neste Ciep que o diretor Paulo Marcos aponta um dos desafios das compras escolares: “A maior dificuldade para as escolas é a questão da verdura. Que é aparentemente fácil, mas difícil de consumir”. Colocando-se à disposição para ampliar o planejamento das próximas compras, o diretor ressalta a importância das compras feitas diretamente a partir de um produtor organizado e acessível.
Francisco Caldeira, um dos diretores da Agrovargem, analisa que as entregas para o PNAE são resultado de uma luta iniciada há sete anos no Rio de Janeiro: “a agricultura sempre existiu aqui, apesar de ser invisibilizada. Mas ela nunca morreu. Isso é uma questão muito ligada à segurança alimentar. Quem produz alimento é a agricultura familiar e a segurança alimentar quem promove é o circuito curto, onde o consumidor tem acesso a como é produzido o alimento. A agroecologia tem pautado o discurso com a realização. Não é um discurso vazio. E, sozinho, a gente não vai a lugar nenhum”.