Com o objetivo de fortalecer e sensibilizar a juventude camponesa do Polo da Borborema quanto a sua importância no trabalho de resgate e proteção da biodiversidade, bem com na organização e manutenção dos bancos de sementes comunitários (BSC), aconteceu no dia 15 de outubro o Encontro Regional da Juventude Guardiã das Sementes da Paixão, no Centro Marista de Eventos em Lagoa Seca, na Paraíba.
O evento teve início com a apresentação de sementes trazidas pelos jovens e postas no centro da sala com a socialização da importância que estas tinham em suas vidas, muitas cultivadas pelos próprios jovens e por suas famílias. Em seguida, Gabriela Galdino, 18, moradora do sítio Nicolândia, município de Massaranduba, levantou questionamentos como qual a relação dos jovens e suas famílias com as sementes e qual o papel destas na convivência com o Semiárido.
José de Oliveira Luna, o seu Zé Pequeno, responsável pelo Banco de Sementes da comunidade São Tomé II desde sua fundação, há 40 anos, apresentou a importância da preservação das sementes crioulas por meio da organização dos bancos de sementes familiar ou comunitário. Zé Pequeno falou sobre o fortalecimento da agricultura familiar, a necessidade da preservação do patrimônio histórico e cultural dessas famílias, que são as sementes da paixão, e ainda sobre como esses BSCs e o cultivo agroecológico colaboram para uma maior segurança do plantio e a própria segurança alimentar. “Um agricultor sem sua semente é um sofredor. Em 1974, numa no de muita seca, um grupo de senhores criou um Banco de Sementes na nossa comunidade com apenas duas variedades, o feijão mulatinho de cacho e o milho jabatão. Fizemos com que na experimentação multiplicássemos essas duas variedades. Essas sementes aqui são um patrimônio do meu conhecimento. A paixão que eu tenho em nosso meio está aqui para ser multiplicada. Sou um zelador da semente da paixão, me sinto um missionário nesse trabalho e estou aqui para chamar atenção de vocês para a importância desse trabalho. Se quiser ser livre e independente, que seja um agricultor”, ensina Zé Pequeno.
Resgate Histórico – entender qual o processo histórico que as sementes passaram até serem domesticadas e de onde vieram, também foi parte do processo de formação do encontro. Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, guiou os jovens através de uma viagem no tempo, para melhor entender a história da agricultura e a origem de algumas das sementes que são cultivadas por eles e por suas famílias na região do Polo da Borborema.
Um dos momentos ímpares do dia foi o debate em relação à quais os ensinamentos e desafios vistos por eles no trabalho com sementes. Entre as respostas, foram levantadas questões como a valorização do homem e da mulher do campo, a necessidade de maior engajamento dos jovens nos BSCs, a importância do cultivo agroecológico. Foi debatido ainda problemas estruturais como a falta de terra de trabalho para a juventude, o desinteresse dos jovens em permanecer no campo e o uso de agrotóxicos. Nesse ponto os participantes se enxergaram como agentes importantes na conscientização de outros jovens e do determinante papel das sementes da paixão na preservação da agrobiodiversidade.
Num quarto momento, Severina Pereira da Silva, conhecida como Silvinha, e Euzébio Cavalcanti, representantes dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais das cidades de Queimadas e Remígio, apresentaram o trabalho da rede de sementes do Polo da Borborema, além do funcionamento dos BSC, métodos de armazenamento e, por fim, a importância da organização de coletivos para debater e lutar por políticas públicas que respeitem e considerem as sementes crioulas.
Encerramento – concluindo o dia, foram apontadas algumas questões que ameaçam as sementes da paixão como a legislação que rege o trabalho de sementes e a não valorização do trabalho com as sementes crioulas; a ampla distribuição de sementes de uma única variedade por meio dos programas de governo e o inexorável avanço dos transgênicos. Essas ameaças ao trabalho que vem sendo feito, não só na região do Polo, como para todo o cultivo agroecológico, serviram como mote para convocação dos jovens para o Seminário sobre as ameaças dos transgênicos, que ocorrerá nos dias 30 e 31 de outubro, também no Centro Marista de Eventos, em Lagoa Seca. Por fim, a juventude camponesa encerrou as atividades ensaiando palavras de ordem para o Seminário. Com punhos cerrados apontados para cima e em alto e bom tom, gritaram: “Contra os transgênicos, as sementes da Paixão!”.
O Encontro Regional da Juventude Guardiã das Sementes da Paixão foi uma realização do projeto Sementes do Saber. Esse Projeto busca apoiar a inserção produtiva e econômica de jovens do meio rural, conta com o apoio do Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento – CCFD e da Action Aid, e cofinanciamento da União Europeia.