Paulo Pedro de Carvalho
INTRODUÇÃO
A ONG Caatinga – Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas, atua há mais de 25 anos junto a famílias agricultoras em comunidades rurais do território do Sertão do Araripe, no estado de Pernambuco. Indiretamente, sua ação se estende a todo o semiárido brasileiro por meio de sua participação na Rede de Assistência Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede Ater-NE), na Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Desde sua criação, a entidade manteve o firme propósito de apoiar a construção de conhecimentos, tecnologias e práticas de base agroecológica juntamente com famílias agricultoras e suas organizações, como forma de fortalecer a capacidade das populações rurais para a convivência digna e sustentável com a semiaridez. Em 2006, o Caatinga assumiu a função de Ponto Focal Nacional da Sociedade Civil da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), uma representação política atribuída e respaldada pela ASA. O presente artigo apresenta algumas aprendizagens obtidas com essa caminhada institucional, em particular ao ressaltar como o enfoque agroecológico vem sendo efetivo na conciliação da promoção de modos de vida sustentáveis na região com os objetivos de combater a desertificação, enfrentar as mudanças climáticas e preservar e recuperar a biodiversidade.
A DESERTIFICAÇÃO E SUAS CAUSAS
“Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.”
Preceito do Padre Cícero
Conforme definição da UNCCD, a desertificação é um fenômeno no qual as terras de regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas perdem sua capacidade produtiva em decorrência, principalmente, da ação humana, mas também devido a influências das mudanças do clima, especialmente o aumento das secas e das temperaturas. Essas regiões ocupam 1/3 da superfície do planeta, totalizando 9.780.000 km, uma área maior que todo o território brasileiro.
No Brasil, as áreas suscetíveis à desertificação (ASDs) estão presentes em 1.488 municípios, abrangendo quase 16% do território nacional (1.340.863 km²), com uma população de cerca de 36 milhões de pessoas.
Os processos de desertificação no semiárido brasileiro geralmente se iniciam com o desmatamento seguido de queimadas e de práticas inadequadas de manejo do solo para implantação de pastagens ou outros monocultivos. A retirada da vegetação nativa também é provocada pela demanda por lenha para viabilizar a mineração e outros consumos. Sabe- se, por exemplo, que 30% da matriz energética do Nordeste brasileiro vêm da lenha e que cerca de 90% dela é obtida de forma ilegal e inadequada. Como consequência dessas práticas, o solo perde fertilidade, a água fica cada vez mais escassa e a biodiversidade nativa desaparece.
As populações que residem no semiárido brasileiro já percebem os efeitos das mudanças no clima, especialmente o aumento das temperaturas médias, bem como a redução do total pluviométrico anual associada a uma pior distribuição das chuvas durante o ano. Há uma percepção generalizada de que os dias estão ficando cada vez mais quentes, os solos estão perdendo sua capacidade produtiva e a biodiversidade da caatinga está diminuindo de forma acelerada, com muitas espécies de animais e vegetais ameaçadas de extinção e algumas já extintas. Nesse contexto, as populações são obrigadas a migrar para outras regiões em busca de melhores condições de vida.
No território do Sertão do Araripe, o desmatamento descontrolado e crescente para a extração de lenha para abastecer os fornos das fábricas de gesso é um dos principais fatores que levam aos processos de desertificação. Também contribuem para esse quadro as queimadas, muitos comuns no preparo dos solos para a implantação de monoculturas e pastos que, uma vez estabelecidos, são geralmente sobrepastoreados por bovinos.
As observações, as constatações e os depoimentos de agricultores e agricultoras de diferentes comunidades são eloquentes no que se refere ao avanço acelerado da desertificação e ao aumento dos efeitos das mudanças do clima no Araripe. Para João Batista Dias de Oliveira, agricultor do município de Trindade (PE): O sol está muito mais quente, chega a queimar as folhas de fruteiras, e as chuvas estão cada vez mais descontroladas, estragam o solo e não mantêm a terra molhada durante todo o período de cultivo. A gente percebe um grande descontrole no clima, especialmente do ano 2000 para cá. A gente sente a pele queimar quando está ao Sol sem proteção.
MEDIDAS EMERGENCIAIS OU ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA?
Emergência ou convivência: dois lados da mesma moeda. De um lado, a lógica das ações emergenciais de combate aos efeitos das secas que, implementadas como medidas isoladas, em nada contribuem para diminuir o sofrimento e a exploração das parcelas mais empobreci- das da população do semiárido por grupos econômicos e políticos dominantes – trata-se da chamada indústria da seca. De outro lado, figuram as estratégias baseadas na noção de convivência com a semiaridez que se traduzem em medidas estruturantes e têm mostrado que outro olhar e outros modos de vida são possíveis e necessários para a promoção da sustentabilidade e da justiça social e ambiental.
O contraste entre os resultados da aplicação desses dois enfoques ficou particularmente visível em 2012, ano em que o semiárido brasileiro vivenciou uma das mais longas e severas secas das últimas quatro décadas. Mesmo diante de um contexto adverso como esse, os agroecossistemas desenvolvidos segundo princípios da Agroecologia têm demonstrado maior capacidade de resistir aos efeitos da seca. O manejo intensivo da biodiversidade e a estocagem de recursos (água, forragens, alimentos, etc.) proporcionam às famílias agricultoras um leque de alternativas para atravessar o período seco sem que tenham que desestruturar suas propriedades, o que muitas vezes significa recorrer à migração. Além de apresentarem melhores condições para enfrentar a seca, esses sistemas costumam possuir maior capacidade de recuperação com o início dos períodos de chuva. Alguns exemplos emblemáticos dessas experiências serão apresentados na sequência.
LIÇÕES DAS INICIATIVAS DE INOVAÇÃO AGROECOLÓGICA NO ARARIPE
Experiências de famílias agricultoras presentes no Sertão do Araripe trazem lições sobre como consolidar sistemas de produção animal e vegetal em bases agro- ecológicas. A partir do princípio da convivência com a semiaridez, essas experiências vêm mudando a realidade das famílias e aos poucos vão transformando a paisagem.
Um dos principais fundamentos dessas iniciativas é a manutenção de grande diversidade de espécies vegetais (hortaliças, fruteiras, forrageiras, florestais, plantas nativas e introduzidas) e animais (caprinos, ovinos, suínos, bovinos, aves, abelhas) adaptadas às condições ambientais locais. Além disso, muitas famílias beneficiam a produção, buscando aproveitar melhor todos os produtos e nutrientes produzidos dentro da propriedade e articular com processos de comercialização direta, gerando renda e trabalho. A seguir apresentamos uma pequena amostra desse universo rico e diversificado de experiências promovi- das a partir do trabalho das ONGs, redes e movimentos sociais articulados e comprometidos com o desenvolvimento da cultura da convivência.
Vivendo a Agroecologia, respeitando o meio ambiente
Numa pequena propriedade de 12 hectares ladeada por uma cerca viva, entre árvores fruteiras e forrageiras nativas e cultivadas (macaubeiras, cambuis, jatobás, goiabeiras, bananeiras, entre tantas outras), mora a família Lermen, composta pelo casal Silvanete e Vilmar e seus três filhos (Jefferson, Pedro e Fernanda). Os Lermen vivem em plena harmonia com a natureza na Chapada do Araripe, na comunidade da Serra dos Paus Doias, município de Exu (PE), onde há pouco mais de seis anos vêm estruturando um sistema agroflorestal.
Com muito esforço, perseverança e sabedoria, a família desenvolveu práticas de produção de base ecológica que lhe proporcionam um meio de vida digno e sustentável. Além dos serviços ambientais – ar puro, temperatura amena e o cantar dos passarinhos –, encontraram nas árvores nativas uma promissora fonte de renda e alimento.
Ao beneficiar frutas nativas, como a murta e o cambuí, a família experimenta a graça de se reproduzir economicamente com o que a natureza oferece e, em contrapartida, trabalha no sentido de manter e recuperar o meio ambiente. O sistema de produção é bastante diversificado, no qual figura a criação de galinhas, porcos e abelhas nativas (Meliponas – jandaíra, uruçu, mandaçaia, entre outras) e introduzidas (Apis melífera – africanizada), de cujas colmeias colhem e comercializam o mel. Os Lermen produzem também conservas, hortaliças, mudas de espécies arbóreas e sementes crioulas. Contudo, são os licores, as geleias e os doces feitos de fruteiras nativas que garantem a maior parte da renda familiar. Os produtos são comercializados em feiras, eventos, exposições e na própria comunidade, especialmente por ocasião das vi- sitas de outros agricultores, o que ocorre sistematicamente.
Trata-se de uma família agricultora experimentadora por excelência. Silvanete é a principal envolvida com as atividades de beneficiamento, mas as vendas são feitas pelo casal. Ela conta que começou a experimentar o beneficiamento a partir de receitas elaboradas com outras frutas. Quando comecei a fazer a geleia do cambuí, me baseei na receita da geleia de jabuticaba, que tem um sabor bem parecido. Só fui dosando o açúcar para não ficar tão doce, explica. A curiosidade e a incorporação constante de novos conhecimentos é uma característica de destaque na família que, mesmo com tantas atividades, sempre consegue se organizar para estar presente em diversos eventos de formação, promovendo a Agroecologia a partir de sua própria experiência e disseminando seus conhecimentos por meio de cursos, intercâmbios, palestras e fóruns.
Outra característica ajuda a explicar o dinamismo inovador da família: seus membros têm grande compreensão sobre a importância do equilíbrio nas relações de gênero e de geração. Na prática, isso se expressa na divisão do trabalho na família, já que todos participam das atividades produtivas e domésticas. A família Lermen é um exemplo contundente de uma experiência de meio de vida sustentável e integrada às dinâmicas sociais, culturais e políticas, desenvolvida numa ligação estreita com o meio ambiente.
Com a água guardada, temos tranquilidade o ano inteiro
Dona Maria e o sr. Odílio vivem no Sítio Maniçoba, município de Ouricuri (PE), com os dois filhos. Eles valorizam a estratégia de estocagem de água de chuva por meio de pequenas infraestruturas para captação e armazenamento: um barreiro trincheira grande, uma barragem subterrânea e duas cisternas de placas.
Dona Maria revela que a situação já foi bem diferente. Teve uma época em que a gente ia longe buscar a água que precisava para beber, e não era água boa, não, mas era o jeito. Em 1994, o Caatinga, através do projeto Alimento por Trabalho (PAT), deu a alimentação e as ferramentas, e nós fizemos o barreiro trincheira. Já na primeira chuva foi muita alegria ver aquele barreiro cheinho, pois garantiu água para a gente e para os bichos.
Mesmo com o barreiro, a família ainda bebia uma água que não era de qualidade. Foi quando pegamos um crédito do fundo rotativo do Caatinga e fizemos a nossa primeira cisterna de placas em 1998. Aí, sim, começamos a beber uma água boa, ficamos muitos satisfeitos. Depois que pagamos a primeira cisterna, pegamos outro crédito e fizemos outra cisterna. Então ficamos com mais água ainda para garantir para a família durante a seca, complementa a agricultora.
Em uma visita de intercâmbio que fez na Paraíba, dona Maria conheceu a tecnologia da barragem subterrânea e, logo que retornou, demarcou o local para construir uma em sua propriedade. Hoje produzimos quase o ano todo, o capim elefante, o sorgo, o milho, o feijão, a macaxeira, além das fruteiras, como a goiaba, a manga, a acerola, a pinha, e as hortaliças, como o tomate, o alface, o coentro, o pimentão, a salsinha. Em 2007, nessa barragem subterrânea, a família colheu três safras de milho e guardou toda a palhada para os animais.
Para manejar seus roçados, hortas e pomares, a família emprega práticas agroecológicas, como o uso do fermentado biológico, a cobertura morta, a diversificação de culturas, a adubação orgânica e o inseticida natural feito com extrato de nim (Azadirachta indica). A criação de animais é outra importante atividade econômica da propriedade. A alimentação regular do rebanho de 15 bovinos, 70 ovelhas e 70 caprinos é assegurada pela adoção de práticas de estocagem de forragem, principalmente a silagem e a palha de milho, além do plantio de palma forrageira e capim.
Guardando sementes e melhorando a terra
Francisco de Assis Teixeira (seu Assis) e Inocência Valério (dona Sinhá) residem no Sítio Angico, em Ouricuri (PE) com seus três filhos e duas filhas. A família foi uma das primeiras da região do Araripe a enfrentar o desafio de transformar seu sistema de produção em um sistema de base ecológica. Seu Assis tem hoje toda a segurança para indicar o uso de três práticas em seus roçados: a seleção de sementes, especialmente de feijão, milho e sorgo; a adubação orgânica com esterco das vacas e das ovelhas que cria; o controle de pragas e doenças das plantas por meio da diversificação de cultivos e do uso de defensivos naturais. Combinadas, essas três práticas garantem: O feijão para o gasto da casa durante todo o ano. Assim, a gente tem tranquilidade porque sabe que terá o principal alimento de uma família agricultora, o ano inteiro, afirma seu Assis.
A produção de sementes selecionadas já é realizada há mais de 20 anos e, desde então, deixaram de comprar sementes e de depender das que o governo distribui. Para assegurar seus estoques, a família mantém um banco de sementes em casa. Segundo a visão de seu Assis, as sementes selecionadas fazem muita diferença, pois as plantas já nascem fortes e são mais produtivas. Além disso, há mais de dez anos a família melhora a terra com o emprego do esterco de curral um pouco antes das chuvas. Isso é feito de três em três anos, e a terra está cada vez melhor. Mesmo com plantas mais fortes por conta das sementes melhoradas e do solo bem cuidado, seu Assis ensina que é preciso ter atenção com o aparecimento de uma ou outra praga. Para controlá-las, utiliza um produto que ele mesmo inventou elaborado à base de extratos das folhas de maniçoba, de pinha e de nim. As três espécies são facilmente encontradas no local, e o produto é preparado no período de inverno, quando as plantas estão enfolhadas, podendo ser guardado por até dois anos sem perder o efeito. Seu Assis observou que nenhuma praga atinge essas três plantas porque são tóxicas para insetos. Achamos por bem juntar tudo e fazer o defensivo mesmo sabendo que quando usamos durante muito tempo os insetos se acostumam. Ele iniciou a experimentação em 1999, e a primeira aplicação foi em lagarta e pulgões de feijão. Quando eu vi dando certo, comecei a incentivar outras pessoas a usar também.
A família de Assis e Sinhá produz o suficiente para o consumo da casa e vende o excedente. Mas isso só tem sido possível porque o solo está melhorando a cada ano, o que faz com que não seja necessário mais brocar nem queimar parte da caatinga para o plantio. Outras famílias vizinhas já adotam essas práticas e também estão contentes com os resultados.
Estoques e agrofloresta em pleno semiárido
Adão Oliveira e sua esposa Fabiana moram na Agrovila Nova Esperança em Ouricuri/PE com seus dois filhos pequenos. Para garantir a alimentação do rebanho de ovelhas e cabras de lei- te, a família desenvolveu uma estratégia de estocagem de forragens com base na silagem do capim elefante e da palhada de milho e sorgo. “A silagem é a melhor forma de armazenar forragem”, afirma Adão. A cada ano, o casal estrutura dois silos: um, na roça, perto de onde as ovelhas pastam; outro, no quintal da casa, para facilitar o trabalho de Fabiana quando Adão tem que sair. Eles também fazem fenação com a palhada do sorgo e de plantas da caatinga, como a maniçoba, além de estocar a palha de feijão e milho que é oferecida aos animais nos períodos secos do ano.
Na vazante da barragem comunitária, as famílias da comunidade plantam espécies forrageiras que são cortadas frescas, assegurando alimentação de boa qualidade para os animais. Nesse espaço, Adão planta capim elefante e vários tipos de plantas alimentícias, como batata-doce, sorgo, milho, feijão e hortaliças. Segundo ele: “No ano que a barragem enche, nós não temos problemas de falta de forragem para os bichos.”
Adão cria cabras porque tem duas crianças e sabe que esse leite é de boa qualidade. Depois que comecei a criar minhas três cabras, a situação mudou muito: delas eu tiro o leite das crianças e ainda sobra para fazer uma vitamina para os adultos da família. Hoje meus filhos têm leite na hora que eles querem a um custo baixo, afirma.
Além de adotar essas práticas de armazenagem de forragens, Adão e Fabiana entenderam que podem contar com estoques vivos para obter recursos forrageiros e para alimentar a família e gerar produtos comercializáveis. Foi esse o raciocínio que os levou a estruturar uma agrofloresta em sua propriedade, integrando o plantio diversificado, a conservação de matéria orgânica, o cultivo de frutíferas (como umbu nativo, umbu cajá, cajarana, siriguela, entre outras), de grãos (feijão, guandu, milho) e de plantas forrageiras para os animais. Para Adão: Uma agrofloresta é um sistema de cultivo que ataca de uma vez só todos os problemas que a gente vive na agricultura familiar, com venenos, queimadas, problemas de insetos, problemas de produção, etc. Ele acredita que a agrofloresta: Melhora a terra cada vez mais. Porém, como as terras são poucas, é preciso também fazer um trabalho de prevenção do enfraquecimento das terras e proteção do solo, destaca.
CONCLUSÕES E APRENDIZAGENS
Já existem muitas famílias e comunidades rurais que mudaram de vida a partir do estabelecimento de relações mais harmoniosas com a natureza. Suas experiências demonstram que a degradação ambiental não é uma consequência incontornável da agricultura familiar no semiárido. As pessoas não degradam porque querem. Pelo contrário: continuam a ser incentivadas por muitas políticas públicas e agentes dos mercados a adotar práticas degradadoras que as colocam em situação de grande vulnerabilidade diante do contexto de risco de secas. Além disso, grande parte das famílias não teve ainda a oportunidade de desenvolver iniciativas inovadoras funda- mentadas no princípio da convivência com o semiárido em suas propriedades.
As experiências desenvolvidas na região do Araripe revelam que existe uma grande sensibilidade e receptividade às novas abordagens de manejo baseadas nos princípios da Agroecologia. Mas há um conjunto de obstáculos que dificulta a generalização dessas práticas. Como revelam as iniciativas familiares aqui apresentadas, a inovação local é uma condição essencial para que essas práticas sejam desenvolvidas e ajustadas às condições específicas de cada família e comunidade. Isso exige mobilização e organização social para que se cultivem ambientes favoráveis à produção e à socialização de conhecimentos agroecológicos. E essa mobilização é condição fundamental para que se exerça influência sobre os gestores públicos e formuladores de políticas. Assim sendo, faz-se necessário que a luta pela consolidação do desenvolvimento sustentável seja contínua e permanente, construindo conhecimentos de forma dialógica e comprometida politicamente com uma sociedade justa, economicamente viável, ambiental- mente equilibrada e fraterna.
Pela dimensão dos impactos positivos das experiências já existentes de convivência com o semiárido, podemos afirmar que o desenvolvimento ambientalmente sustentável e social- mente inclusivo é possível na região. Porém, é preciso envolver mais pessoas, organizações e redes da sociedade civil para que sejam mantidas e ampliadas as dinâmicas de construção de conhecimentos agroecológicos, mobilizando e reunindo forças para alcançar as mudanças sólidas e concretas nas políticas de Estado e, finalmente, no modelo de desenvolvimento rural na região.
O Caatinga tem dado sua contribuição nesse processo, atuando como organização estimuladora da construção de novos conhecimentos junto a famílias agricultoras, comunidades, redes e articulações, bem como influenciando os espaços de elaboração de políticas públicas em conjunto com organizações e movimentos sociais. Há um caminho sendo construído com força e esperança rumo a uma grande mudança, que tem como meta fundamental: “garantir vida digna e justa para as atuais e futuras gerações”.
Paulo Pedro de Carvalho
agrônomo e coordenador geral do Caatinga, Ponto Focal Nacional da Sociedade Civil na Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação
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Baixe o artigo completo:
Revista V9N3 – A convivência com o semiárido como estratégia para o combate à desertificação: uma experiência no Sertão do Araripe