A região da Borborema na Paraíba possui uma grande quantidade de cajueiros dispersos em sua paisagem. A planta é muito bem adpatada ao clima do local e é bastante valorizada pelas famílias agricultoras por ser uma planta de “sombra fria”, por ajudar a fortalecer o solo, além de produzir frutos, muito apreciados na região. Os frutos são largamente utilizados no consumo humano e animal, sendo apenas a castanha separada para a venda. A coleta e comercialização da castanha historicamente foi um trabalho associado às crianças ou às mulheres que na safra, juntam os frutos para serem vendidos à atravessadores, um trabalho grande com pouco resultado financeiro.
Foi para mudar essa situação mulheres e jovens estão se mobilizando para organizar uma nova forma de produção e comercialização da castanha de caju. Após uma visita de intercâmbio ao município de Serra do Mel, noroeste do Rio Grande do Norte e referência na produção de caju, 19 agricultores e agricultoras, sendo 12 só do município de Massaranduba, aprenderam com a experiência das unidades familiares de beneficiamento de castanha de caju. “Lá eles mesmos fazem todos os equipamentos, a máquina de corte, o cesto de cozimento e as estufas. São mais de 100 famílias envolvidas com o trabalho de beneficiamento”, explica Ivanilson Estevão da Silva, técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que acompanhou a visita e assessora as famílias agricultoras neste processo.
Para tentar implementar uma experiência como a das famílias de Serra do Mel, foi promovida uma Oficina de Beneficiamento de Castanha, realizada no início de fevereiro, na sede da Associação dos Moradores do sítio Cachoeira de Pedra D’água, em Massaranduba. A oficina contou com a participação do agricultor e produtor de castanha José Inácio Medeiros, de Serra do Mel. Ele compartilhou a sua experiência no beneficiamento e ensinou como são feitas todas as etapas do processo: seleção , corte, cozimento, despeliculagem , estufagem e torragem das castanhas.
Participaram da oficina cerca de 20 pessoas. Amanda Pereira da Silva tem 18 anos, mora em Cachoeira de Pedra D’água e foi com a mãe, Amélia Pereira da Silva, participar da oficina. Sua família foi beneficiada com equipamentos para montar uma unidade de beneficiamento em casa. Ela conta que saiu muito animada para o trabalho: “Gostei muito dessa iniciativa, nunca pensei que a gente fosse ter essa oportunidade, antes a gente não vendia a castanha, só consumia aqui mesmo, e agora a gente vai poder levar pra feira e vender, já e uma renda a mais”, conta.
Maria Leônia Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e da coordenação do Polo da Borborema, explica que famílias das comunidades de Cachoeira de Pedra D’água e Aningas foram escolhidas inicialmente para experimentar os equipamentos e montar a sua unidade familiar de beneficiamento, um total de 5 unidades, por serem áreas de grande produção de caju e por terem muitas mulheres e jovens envolvidos nesta produção. Além disso, estas seriam comunidades de grande vulnerabilidade social: “Aqui na produção de castanha a presença de atravessadores é muito forte e o preço é super desvalorizado. Com esta experiência, vimos que com uma pequena estrutura as famílias podem gerar uma renda a mais com algo que já têm na sua propriedade, em um trabalho envolvendo, sobretudo os jovens e as mulheres das comunidades”.
A experiência de criação de unidades familiares para o beneficiamento de castanha de caju é parte do Projeto Terra Forte, desenvolvido pela AS-PTA em parceria com o Polo da Borborema e apoiado pela Manos Unidas e cofinanciado pela União Europeia.