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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 672 – 02 de maio de 2014
Cidade que recebeu pesquisa com mosquitos transgênicos decreta estado de emergência de dengue
A promessa era criar mosquitos transgênicos para acabar com a dengue, mas os resultados produzidos em testes de campo em municípios do interior da Bahia não foram conclusivos e não avaliaram a relação entre redução da população de Aedes aegypti e a ocorrência da dengue. Mesmo assim a CTNBio liberou o uso comercial desses mosquitos e deu asas à promessa da empresa Moscamed, que tem parceria com a inglesa Oxitec e a Universidade de São Paulo.
Dias após os jornais divulgarem amplamente a nova arma antidengue, o prefeito de Jacobina, um dos municípios que sediou testes com o mosquito, decretou estado de emergência em razão “da situação anormal caracterizada como desastre biológico de epidemia de dengue.” Antes disso a Moscamed havia divulgado redução de 81% e 100% no registro de casos de dengue em ao menos dois bairros de Jacobina.
O Parecer crítico rejeitado pelos especialistas da CTNBio continha em sua análise informações suficientes para não fazer do decreto uma surpresa. À Anvisa cabe agora registrar e fiscalizar o uso desses mosquitos, cuja recomendação de uso da empresa implica na liberação de 10 milhões de mosquitos por semana para cada 50 mil habitantes. Só os resultados é que não se sabe quando vêm.
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Projeto de lei contra rotulagem de alimentos transgênicos volta à pauta da Câmara dos Deputados
O PL Heinze, que prevê a não obrigatoriedade de rotulagem de alimentos que possuem ingredientes transgênicos independentemente da quantidade entra e sai da pauta da Câmara. Precisamos que todos enviem o maior número de mensagens possível aos deputados utilizando a ferramenta instalada no site do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Mesmo quem já enviou pode mandar novamente, quantas vezes quiser!
No dia 29 de abril de 2014 o PL voltou à pauta por conta de uma manobra parlamentar. Um outro projeto de lei, sobre a separação de produtos transgênicos em prateleiras de estabelecimentos comerciais (cópia de uma lei estadual de São Paulo) entrou em pauta e o PL Henize voltou para a ordem do dia, por estar ligado a ele. Felizmente, graças à mobilização de organizações, consumidores e consumidoras ele não foi votado novamente.
Mas, caso o projeto de lei seja aprovado, corremos sério risco de saúde, pois compraremos alimentos como óleos, bolachas, margarinas, enlatados e papinhas de bebê sem saber se são seguros ou não. Atualmente, cerca de 92,4% da soja e 81,4% do milho do País são de origem transgênica. É essa produção crescente e acelerada que leva para a mesa do consumidor um alimento disfarçado ou camuflado que não informa sua real procedência. Nós, consumidores, temos o direito à informação (artigo 6º do CDC) sobre o que estamos adquirindo ao comprarmos e consumirmos um produto.
Entenda a campanha
No fim de 2013 o projeto de lei de autoria do deputado Luiz Carlos Heinze poderia ir à votação em caráter de urgência, a pedido do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). A ameaça não se confirmou.
Em agosto de 2012, o Tribunal Regional Federal da Primeira Região, acolhendo o pedido da Ação Civil Pública proposta pelo Idec e pelo MPF, tornou exigível a rotulagem dos transgênicos independentemente do percentual e de qualquer outra condicionante, garantindo o direito à informação e à livre escolha estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor.
A ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e a União recorreram diretamente ao Supremo Tribunal Federal (Rcl 14.873 e Rcl 14.859) e conseguiram em uma medida liminar do Ministro Ricardo Lewandowski para suspender os efeitos da decisão do Tribunal Regional Federal até o julgamento final do recurso. Até hoje não houve decisão final do Min. Lewandowski, mesmo com o parecer da Procuradoria Geral da República pela improcedência dos recursos da ABIA e da União.
Enquanto isso, corremos o risco de estarmos consumindo alimentos transgênicos sem que a informação esteja clara no rótulo, além de não termos o direito à escolha de um alimento sem qualquer presença desses organismos.
A introdução de transgênicos na natureza expõe nossa biodiversidade a sérios riscos, como a perda ou alteração do patrimônio genético de nossas plantas e sementes e o aumento dramático no uso de agrotóxicos. Além disso, ela torna a agricultura e os agricultores reféns de poucas empresas que detêm a tecnologia e põem em risco a saúde de agricultores e consumidores.
Precisamos que o maior número possível de mensagens contra esse PL chegue à Câmara dos Deputados. Eles precisam saber que nós não queremos ser enganados e iludidos. Os consumidores têm o poder de escolha e o direito à informação.
Confira a cartilha sobre alimentos transgênicos que o Idec lançou em 2010.
Envie uma mensagem agora!
IDEC, 29/04/2014
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Neste número:
1. Mais herbicidas nos EUA
2. Vermont poderá ser primeiro estado americano a rotular transgênicos
3. Embrapa inaugura terceiro maior banco genético do mundo
4. China reconhece terras agrícolas contaminadas
A alternativa agroecológica
Algodão renasce no Ceará a partir da agroecologia
Dicas de fonte de informação:
1- Entrevista de José Maria Gusman Ferraz à Tânia Rabello:
O cientista José Maria Gusman Ferraz fez parte, por três anos, da CTNBio, a comissão que libera o uso de transgênicos no País. E denuncia a displicência com que as plantas e outros organismos geneticamente modificados são aprovados na comissão. A mais recente aprovação, que Gusman Ferraz considera absurda, é a do mosquito transgênico contra a dengue.
Estadão/Blogs, 25/04/2014
2- Entrevista com Silvio Tendler: agroecologia é fundamental na produção econômica e social
O veneno está na mesa dos brasileiros, no país que mais consome agrotóxicos no mundo. Mas há alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. É essa mensagem que o novo documentário do diretor Silvio Tendler, O Veneno Está na Mesa 2, quer passar.
O primeiro filme, que não foi lançado nos cinemas e seguiu um caminho alternativo de exibição através da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, teve uma recepção surpreendente e foi visto por mais de um milhão de pessoas.
Nesta entrevista, Tendler fala do novo filme, da sua relação com os movimentos sociais e da importância da alternativa agroecológica para a sociedade brasileira.
Brasil de Fato, 16/04/2014
Evento:
Juazeiro da Bahia recebe agricultores de todo o Brasil em maio para discutir agroecologia
O III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA) será realizado de 16 e 19 de maio de 2014, em Juazeiro (BA), com o lema “Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”. Cerca de 2 mil pessoas de todo o país, dentre elas 70% agricultoras e agricultores, e diversos segmentos da sociedade, participarão de seminários, debates e atividades culturais. Encontros como este são espaço de organização e pressão política fundamentais para a expressão democrática de uma significativa parcela da sociedade brasileira.
O evento organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), com a participação de diversas entidades que compõe esta rede, além de movimentos sociais do campo, da saúde, da economia solidária e do feminismo, é o resultado de um processo de mapeamento e visita a experiências concretas por meio de Caravanas Agroecológicas e Culturais, que começaram em 2013.
Saiba mais em: Rumo ao III ENA – Articulação Nacional de Agroecologia
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1. Mais herbicidas nos EUA
Uma das principais promessas dos proponentes da transgenia era exatamente reduzir o uso de agrotóxicos nas lavouras
Os agricultores dos Estados Unidos estão tratando suas lavouras com uma gama cada vez maior de herbicidas, o que vem ajudando alguns a colher vitórias na guerra contra ervas daninhas poderosas, mas gerando novos custos e preocupações ambientais.
Por mais de dez anos, os agricultores vêm lutando contra ervas daninhas que desenvolveram resistência ao glifosato, o herbicida predominante no mercado, vendido pela Monsanto sob a marca Roundup. Agora, eles têm obtido sucesso aplicando grandes quantidades de outros herbicidas, inclusive alguns mais antigos.
Cerca de 17 milhões de hectares de soja plantados nos EUA em 2012 foram tratados com herbicidas sem glifosato, o dobro do aplicado em 2006 e equivalente a 57% do total de hectares de soja, de acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
Os agricultores estão recorrendo cada vez mais a alguns herbicidas considerados mais fortes do que o glifosato. Em 2012, eles usaram mais de 2.700 toneladas de 2,4-D, quase quatro vezes mais que em 2005, segundo dados do USDA. O uso do herbicida dicamba mais que dobrou no mesmo período, para 39,5 toneladas.
A tendência tem sido uma benção para as empresas que vendem herbicidas, incluindo Dow Chemical, BASF, Bayer AG, DuPont, Syngenta e a própria Monsanto, que também oferece produtos alternativos ao Roundup. Elas estão desenvolvendo e buscando a aprovação dos reguladores para novas formulações de antigos produtos químicos, concebidas para serem menos nocivas ao meio ambiente e usadas com sementes resistentes ao herbicida correspondente. (grifo nosso)
Graças a esse arsenal ampliado, alguns agricultores dizem agora que estão ganhando terreno na guerra contra as superervas daninhas.
“A maioria [dos produtores] sente que está vencendo ou empatando”, diz Bob Scott, professor de ciência aplicada a ervas daninhas da Universidade de Arkansas. “Eles não estão perdendo.”
Mas esse sucesso custa caro. As despesas com herbicidas de alguns agricultores dobraram ou triplicaram desde que essas ervas daninhas resistentes se proliferaram, num momento em que os preços do milho estão 38% mais baixos que o pico de 2012 e os preços da soja recuaram 16%. (grifo nosso)
Os produtores americanos de soja gastaram, em média, US$ 62 por hectare em produtos químicos para a proteção de culturas em 2012, um aumento ajustado pela inflação de 51% em relação a 2006, segundo o USDA. Os produtos químicos representaram por volta de 12% dos custos operacionais dos produtores de soja em 2012. Os agricultores americanos gastaram US$ 13,7 bilhões este ano em produtos químicos agrícolas, um recorde que supera em quase 70% o total de 2002.
A Monsanto, que é sediada no Missouri, revolucionou o negócio de pesticidas quando começou a vender sementes geneticamente modificadas, em meados da década de 90. Algumas sementes foram alteradas para resistir à aplicação de glifosato, que mata as plantas daninhas ao impedir que produzam proteína.
Os agricultores abraçaram o Roundup, da Monsanto, um herbicida capaz de destruir muitas ervas daninhas sem afetar as culturas. Entre os produtores de soja americanos, o glifosato elevou o uso de herbicidas de 15% em 1996 para 89% em 2006. Naquela época, cerca de 67% dos campos de soja dos EUA contavam unicamente com o glifosato para controlar ervas daninhas. Em 2012, o uso de glifosato como herbicida na cultura da soja caiu para 83% do total, segundo o USDA, com cerca de 42% de hectares da soja americana sendo tratados unicamente com glifosato. (grifo nosso)
A Monsanto vende US$ 4,5 bilhões ao ano em químicos para pragas, principalmente o Roundup, dizem analistas, e bilhões de dólares em sementes de milho e soja geneticamente modificadas para sobreviver ao tratamento.
Há décadas os cientistas vêm observando ervas daninhas resistentes a herbicidas, mas a aplicação de Roundup nas mesmas lavouras, ano após ano, acelerou o desenvolvimento da imunidade em algumas dessas plantas, dizem pesquisadores.
O uso mais amplo de herbicidas está revivendo as preocupações sobre seus efeitos. Duas das principais alternativas ao Roundup, ambas desenvolvidas décadas atrás, são o dicamba, que mata a planta ao estimular um crescimento incontrolável que supera a capacidade da erva de produzir nutrientes, e o 2,4-D, que afeta as células que transportam água e nutrientes.
Grupos de defesa do meio ambiente e ativistas do setor agrícola temem que o aumento da utilização de produtos químicos mais fortes possa causar doenças nas pessoas e destruir culturas mais delicadas, como a de uvas, que estejam nas proximidades. A Monsanto e a Dow afirmam que os produtos são seguros à saúde se usados corretamente, e que novas fórmulas oferecem menos riscos de afetar outras lavouras que suas versões antigas.
O glifosato é considerado o tipo mais brando. Estudos mostram que o herbicida adere fortemente ao solo e representa baixos riscos à saúde humana.
The Wall Street Journal, 29/04/2014
2. Vermont poderá ser primeiro estado americano a rotular transgênicos
O parlamento de Vermont, nos EUA, aprovou a primeira lei de rotulagem de alimentos transgênicos “sem amarras” do país. A norma ainda precisa ser assinada pelo Governador Peter Shumlin e, se assim for, entrará em vigor em 01 de julho de 2016.
Vermont agora lidera o país na luta pela rotulagem e abre a porta para a criação de um programa nacional de rotulagem obrigatória. Outros 30 estados incluindo Oregon, Havaí, Connecticut e Maine votarão neste ano projetos de lei semelhantes.
Em 24 de abril, a Senadora Barbara Boxer (da Califórnia) e o Deputado Federal Peter DeFazio (de Oregon) apresentaram um projeto de lei que determina a rotulagem de todos os alimentos transgênicos em nível federal.
Um milhão e meio de pessoas assinaram uma petição legal em 2011, que foi protocolada pela ONG Center for Food Safety junto ao FDA (Agência do governo americano responsável pelos Alimentos e Medicamentos), propondo um projeto de lei pela rotulagem de alimentos transgênicos em nível nacional.
Com informações de:
Vermont Stands on the Cusp of History With Right-to-Know GE Labeling Law – Huffington Post, 24/04/2014
Federal Legislation Introduced To Require The Labeling Of Genetically Engineered Foods – Center for Food Safety, 24/04/2014
3. Embrapa inaugura terceiro maior banco genético do mundo
Um moderno prédio de mais de dois mil metros quadrados divididos em dois pavimentos abrigará uma das maiores coleções mundiais de recursos genéticos e será a terceira maior instalação do mundo desse gênero em capacidade de armazenamento. Inaugurado na manhã do dia 24 de abril, o novo Banco Genético da Embrapa deu início às comemorações dos 41 anos da Embrapa. A cerimônia contou com o depósito do primeiro material do novo banco realizado pelo presidente da Empresa, Maurício Antônio Lopes.
As instalações compõem a infraestrutura da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e tem capacidade para abrigar até 750 mil amostras de sementes, dez mil vegetais in vitro, além das coleções mantidas a 180º C negativos por meio de nitrogênio líquido, método conhecido como criopreservação, que manterá mais de 200 mil amostras vegetais, animais ou de microrganismos. Ao todo, o prédio terá capacidade para abrigar mais de um milhão de amostras nos diferentes métodos de armazenamento. A obra envolveu investimentos da ordem de R$13 milhões oriundos de emendas parlamentares e da própria Embrapa. (…)
O prédio ainda possui um showroom com exposição permanente de tecnologias da Embrapa e da história da conservação ex-situ na empresa. Na laje, será instalada uma fábrica de nitrogênio líquido, elemento fundamental para a conservação de amostras a temperaturas ultrabaixas. (…)
As novas instalações irão disponibilizar amostras para a realização de pesquisas voltadas a diferentes aplicações como o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos, o estudo de microrganismos que podem controlar pragas e doenças das lavouras e ainda devolver ao campo espécies que foram perdidas ao longo do tempo.
Gerenciamento de dados genéticos
Os depósitos de materiais de toda a coleção genética da Embrapa serão gerenciados por um sistema de informação desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceira com a Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP). Batizado de “Alelo” o sistema indica a localização de armazenamento de cada amostra e apresenta seus dados de caracterização como, por exemplo, indicação do local e data de coleta, quantidade armazenada, etc.
De acordo com Carneiro, o sistema Alelo terá diferentes níveis de acesso a depender do usuário que acessá-lo. “Um cidadão que quiser conhecer a coleção genética terá um nível de acesso mais genérico, enquanto que um pesquisador que trabalha com o Banco contará com informações aprofundadas”, explica o gestor.
Na ocasião, também foi lançada a publicação “Histórias e memórias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia”, uma coletânea com depoimentos de 80 empregados entre pesquisadores, analistas, técnicos e assistentes que vivenciaram parte da história desse centro de pesquisa o qual completará 40 anos em novembro.
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 24/04/2014
N.E.: O Banco de Germoplasma da Embrapa constitui um enorme acervo público da diversidade genética de cultivos agrícolas, mantido com verbas públicas.
Não obstante a importância desses recursos no âmbito da conservação da agrobiodiversidade e para a segurança alimentar no país, são raros os casos de interação entre os bancos de germoplasma da Embrapa e de outros centros de pesquisa com comunidades rurais e tradicionais envolvendo a disponibilização de variedades conservadas.
O Plano Nacional de Agroecologia (PLANAPO), lançado pela Presidenta Dilma em 17 de outubro de 2013 e que reúne um conjunto de programas e ações com vistas à implementação da Política Nacional de Agroecologia (PNAPO), inclui uma iniciativa específica nesse sentido: “Regulamentar um procedimento para acesso pelos agricultores/as organizados aos bancos de germoplasma de trabalho nas diversas unidades da Embrapa”. A Embrapa é indicada como responsável pela elaboração dessa regulamentação, com meta execução para 2014.
4. China reconhece terras agrícolas contaminadas
Enfrentando a crescente indignação provocada por um ambiente tóxico, o governo chinês tornou públicas as conclusões de um estudo conduzido entre 2005 e 2013 e que indica que quase um quinto das terras agrícolas do país está contaminado por metais tóxicos.
O reconhecimento da contaminação representa uma forte condenação à industrialização irrestrita levada a cabo pelo Partido Comunista.
O informe, que era considerado tão delicado que havia sido classificado como segredo de estado, menciona os metais pesados cádmio, níquel e arsênico como os principais contaminantes.
O estudo levanta dúvidas sobre a segurança dos vegetais produzidos no país e confirma as suspeitas sobre a degradação do solo após mais de duas décadas de crescimento industrial explosivo, o uso excessivo de produtos químicos na agricultura e uma mínima proteção ambiental.
Também assinala os riscos à saúde que, no caso dos metais pesados, podem demorar décadas para aparecerem. Agentes de saúde identificaram várias “populações cancerígenas” nas China perto de fábricas suspeitas de contaminar o ambiente, onde as taxas de câncer superam a média nacional.
O estudo foi divulgado em 18 de abril pelo Ministério de Proteção Ambiental e pelo Ministério de Terras e Recursos. (…)
MDZ Online (da AFP), 21/04/2014
A alternativa agroecológica
Algodão renasce no Ceará a partir da agroecologia
A flor do mandacaru desabrocha e a vegetação da Caatinga ganha tons de um verde exuberante logo que as chuvas típicas do início do ano caem. A terra, antes seca, passa a receber esterco e palha de carnaúba: é a preparação para as sementes do algodão, uma cultura que, até o fim da década de 1950, chegou a ocupar 1,2 milhão de hectares somente no Estado do Ceará e depois minguou em razão de pragas e da falta de perspectiva econômica.
Assim como a Caatinga, que se renova após o período de chuvas, o algodão renasce como uma cultura capaz de gerar renda para as famílias do semiárido nordestino e frear o êxodo rural na região. Uma articulação entre o governo federal, ONGs e empresas privadas está permitindo a retomada da produção do algodão com base na agricultura orgânica, no plantio consorciado com alimentos e na venda da pluma seguindo os princípios do comércio justo.
Hoje, cerca de 1.000 famílias vivem do algodão cultivado com técnicas agroecológicas em cinco Estados do Nordeste – Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Ao todo, são 1.300 hectares plantados sem agrotóxicos em sistema de rotação de culturas, com técnicas de conservação do solo e da água, controle biológico de pragas, adubação verde e curvas de nível para evitar erosão.
Os números parecem modestos perto do total de 295 mil hectares de algodão que hoje são cultivados em toda a região Nordeste brasileira, mas a adoção de técnicas mais sustentáveis de plantio está ligada à reforma agrária e ao fortalecimento da agricultura familiar na região.
“No passado, o Ceará chegou a ser o segundo maior produtor de algodão do Brasil, baseado na monocultura realizada em grandes extensões de terra. O que vemos agora é a retomada da cultura pela agricultura familiar, o que traz benefícios sociais e ambientais para o semiárido”, explica o engenheiro agrônomo Pedro Jorge Bezerra Ferreira Lima, diretor adjunto do Escritório de Planejamento e Assessoria Rural (Esplar), entidade com sede em Fortaleza e responsável pela pesquisa e aplicação das técnicas agroecológicas para a cultura do algodão no semiárido.
Pedro Jorge, como é conhecido entre os produtores rurais, começou a trabalhar com agricultores da região de Tauá, no sertão cearense, ainda na década de 1990. Os primeiros plantios de algodão com técnicas orgânicas, no inicio, entusiasmaram pouco mais que uma dezena de famílias. Mas com a adesão de sindicatos rurais da região ao projeto, foi possível fazer a aquisição de maquinário para beneficiar o produto. Desta forma, a primeira safra de pluma orgânica foi comercializada ainda em 1993, para a ONG ambiental Greenpeace, que usou o algodão orgânico para confeccionar camisetas.
Mas foi somente no início da década seguinte que a produção conseguiu ganhar fôlego, quando entrou em ação o Projeto Dom Helder Câmara, uma iniciativa de combate à pobreza no semiárido vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e financiada com recursos do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Destinado a agricultores de assentamentos do governo federal, o projeto também presta assistência técnica às famílias e vem permitindo a expansão do cultivo de algodão em conjunto com culturas como milho, feijão, hortaliças e gergelim. “O algodão agroecológico é uma excelente cultura para o semiárido, pois é resistente à seca e, cultivado em consórcio com outros alimentos, permite um controle adequado de pragas”, explica Fábio dos Santos Santiago, coordenador técnico do Projeto Dom Helder Câmara. O know-how é compartilhado por outros parceiros, como a Embrapa Algodão.
De acordo com Fábio dos Santos Santiago, um dos méritos do sistema de produção de algodão com outras culturas é manter sob controle a infestação do bicudo-do-algodoeiro, principal praga que dizimou as plantações do Ceará na década de 1980.
“As técnicas agroecológicas também permitem evitar o desgaste do solo e diminuem a necessidade de abertura de novas áreas de plantio, reduzindo a pressão sobre a Caatinga”, explica Santiago. O uso de fertilizantes e defensivos naturais também ajuda a preservar os escassos recursos hídricos da região, onde só chove – e pouco – durante três a quatro meses por ano.
“Faz dez anos que não corto um só pau para lenha. Com a recuperação da mata, a gente vê os poços de água que tinham secado voltando a jorrar”, conta o agricultor João Félix, que mora no povoado de Riacho do Meio, no município de Choró, no Ceará. Assim como outras 70 famílias do povoado, Félix abraçou a cultura do algodão orgânico e produz também milho, feijão, abóbora, mandioca e hortaliças, além de criar gado e cabras.
Parte do que produz é consumido pela própria família, e o algodão complementa a renda. Beneficiado pela reforma agrária e pelo programa do governo federal de instalações de cisternas para armazenamento da água da chuva, Félix diz que a vida no semiárido melhorou nos últimos dez anos. “Nossos filhos já não pensam em ir embora do sertão”, conta ele. “Pelo contrário, estão estudando e se especializando para trabalhar com a agroecologia”, afirma o agricultor.
Além da capacitação técnica, o Projeto Dom Helder Câmara também aproxima os produtores locais, que são organizados em associações e cooperativas, dos potenciais clientes para o algodão produzido de forma ambiental e socialmente correta.
O princípio que norteia as relações é o do comércio justo, onde os produtores e os compradores negociam diretamente os preços, eliminando intermediários e garantindo um prêmio para o algodão orgânico.
Os agricultores da região de Choró hoje vendem quase toda a produção para a marca franco-brasileira de calçados Vert, que produz no Brasil tênis com apelo sustentável. François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp, sócios fundadores da empresa criada em 2004 na capital francesa Paris, viajam anualmente para o sertão do Ceará para negociar a compra da matéria-prima diretamente com os agricultores.
Graças a essa relação sem intermediários, os empresários conseguem pagar um valor acima da média de mercado para o algodão orgânico produzido na região. Só em 2013, a Vert comprou 500 quilos de pluma de algodão a um preço de R$ 7,39 o quilo – um preço 65% superior ao praticado no mercado. Atualmente, cerca de 700 famílias estão envolvidas no cultivo do algodão comprado pela empresa e para cada par de tênis produzido, cerca de R$ 1,1 é pago aos produtores de algodão.
A Vert mantém no quadro de funcionários uma engenheira agrônoma, responsável por orientar os produtores na busca pela certificação de produtos orgânicos – o selo Orgânicos Brasil – conferido pelo Ministério da Agricultura. “Nosso modelo de negócios foi construído de modo a evitar a compra de matérias-primas no tradicional sistema de commodities, que é volátil e acaba prejudicando os pequenos produtores”, diz Morillion.
Todos os calçados da marca são produzidos no Brasil, no polo calçadista de Novo Hamburgo (RS), e além do algodão orgânico na sua fabricação, é usada a borracha nativa da Amazônia, produzida por associações de seringueiros do Acre, também dentro dos princípios do comércio justo. Além da Vert, o algodão agroecológico do sertão nordestino tem como compradores marcas que apostam no nicho da moda sustentável, como Natural Fashion, Malhas Martins, Tudo Bom e a francesa Em Vao.
Valor Econômico, 24/04/2014 – via Articulação Nacional de Agroecologia
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