###########################
POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
###########################
Agrotóxicos podem ter matado crianças no Paraguai
Número 680 – 28 de julho de 2014
Car@s Amig@s,
Uma criança de três anos e um bebê de apenas seis meses faleceram esta semana no assentamento Húber Duré, em Canindeyú, Paraguai. Para a Federación Nacional Campesina as mortes estão ligadas à aplicação de agrotóxicos as plantações vizinhas de soja. A FNC exige que o ministério da Saúde assista a população e esclareça a causa dessas mortes.
As duas crianças eram irmãs e filhas de Fabiola Cabrera e Benito Álvarez, agricultores que vivem nesse assentamento com cerca de outras 300 famílias.
Outros dois filhos do mesmo casal seguem internados no hospital de Curuguaty, junto com mais 15 adultos e outras 18 crianças do assentamento, que apresentam sintomas de vômitos e diarreia.
A FNC também denuncia que a bebê de 6 meses faleceu em casa após ter recebido alta do hospital de Curuguaty por “não ter nada”. O diretor interino do hospital doutor Euribiades Riquelme informou que as mortes foram causadas por insuficiência respiratória e broncopneumonia. Disse ainda que as demais pessoa internadas apresentam o mesmo quadro, e não sintomas de intoxicação.
Na última safra, os sojicultores brasileiros que plantam no entorno do assentamento pulverizaram e colheram suas plantações com proteção policial devido aos casos anteriores de conflito com as famílias do assentamento.
—
Fonte: www.fnc.org.py e Rádio 970 AM, via Boletín de la Rallt
*****************************************************************
Neste número:
1. Milho que deveria resistir a pragas traz problemas para produtores do MS
2. Projeto proíbe venda de sementes de plantas transgênicas tolerantes a herbicidas
3. Pesticidas que matam insetos também estão diminuindo a população de aves, alerta estudo
4. Guardiões de sementes enriquecem experiências pessoais
A alternativa agroecológica
Experiências e aportes para o Bem Viver, por Cipca, Bolívia.
*****************************************************************
1. Milho que deveria resistir a pragas traz problemas para produtores do MS
E ainda há quem, como a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), insista em defender que o milho transgênico reduz o uso de agrotóxicos. “O fato incontestável é que as lavouras transgênicas são manejadas usando menos defensivos agrícolas”, atestou a ruralista em artigo na Folha de São Paulo três dias após publicação da matéria que segue.
—
Lavouras com variedades transgênicas têm grande infestações.
Saída foi aumentar o número de aplicações de defensivos.
Os produtores de milho de Mato Grosso do Sul estão preocupados. Eles investiram em sementes de variedades transgênicas resistentes ao ataque de lagartas, só que a infestação nas lavouras é grande. A saída foi aumentar o número de aplicações de defensivos.
O agricultor Edemilson Vincenzi cultiva 830 hectares de milho em uma propriedade no município de Maracaju. Há sete anos, ele investe em uma variedade transgênica, por ser mais resistente às pragas, mas nas últimas safras, a eficiência tem diminuído e o produtor precisou aumentar o número de aplicações de defensivos. O resultado foi o aumento no custo de produção.
A lavoura recebeu três aplicações de inseticidas e ainda assim é possível ver espigas danificadas. Em uma delas, a lagarta do cartucho come os grãos a vontade. O agricultor explica que em espigas como esta, a produção pode cair pela metade.
A tecnologia utilizada nessas variedades transgênicas promete maior resistência das plantas às pragas, como lagartas e percevejos, mas para maior eficiência é preciso sempre reservar uma área para o plantio do milho convencional, a chamada área de refúgio, que deve ser de 5% a 10% da área total.
A técnica do refúgio não é obrigatória, apenas uma recomendação, e, por isso, nem sempre é praticada por todos os produtores, conforme explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), especialista em combate de pragas, Crébio José Ávila.
Em outra lavoura, também em Maracaju, foram cultivados 850 hectares com milho com a mesma tecnologia e outros 260 hectares com o tipo convencional. Mesmo seguindo todas as recomendações, as aplicações de inseticidas foram necessárias, como conta a agricultora Renata Azambuja.
O pesquisador explica que o problema não é visto apenas em Mato Grosso do Sul, produtores de outros estados também tem enfrentado a mesma situação. “É um problema generalizado no Brasil porque essa não-adoção da área de refúgio, principalmente, contribuiu para o desenvolvimento da resistência”, diz Crébio.
G1, 02/07/2014.
2. Projeto proíbe venda de sementes de plantas transgênicas tolerantes a herbicidas
A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 6432/13, do deputado Ivan Valente (Psol-SP), que proíbe no território nacional a venda, o cultivo e a importação de sementes de plantas alimentícias transgênicas com tolerância a herbicidas (substâncias usadas na destruição de ervas daninhas).
A proposta também proíbe a importação de produtos alimentícios in natura ou industrializados obtidos dessas plantas. Pelo texto, o Poder Executivo regulamentará a medida no prazo de 180 dias.
“Os agricultores podem levar uma vantagem operacional utilizando cultivares tolerantes a herbicida, mas, para o consumidor dos produtos alimentícios derivados delas, não há nenhuma vantagem”, explica Valente.
“As plantas transgênicas tolerantes a herbicida não morrem com a aplicação do defensivo, mas o absorvem, aumentando o nível de resíduo dessa substância no produto que será utilizado como alimento pelo consumidor”, complementa. Para o parlamentar, isso pode ser nocivo à saúde humana.
3. Pesticidas que matam insetos estão também diminuindo a população de aves, alerta estudo
Cientistas holandeses mostraram que número de espécies diminuiu, com o aumento do uso de neonicotinoides
Um polêmico pesticida que se tornou um dos mais utilizados no mundo foi, pela primeira vez, associado diretamente à redução do número de aves em áreas agrícolas. Cientistas mostraram que a população de 15 espécies que se alimentam de insetos, como andorinhas e estorninhos, têm diminuído significativamente na Holanda, ao longo dos últimos 20 anos, com o aumento do uso de pesticidas neonicotinoides, ou neônicos, que começaram a ser utilizados nos anos 1990.
Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que os neonicotinoides, que também são associados à diminuição do número de abelhas e outros insetos polinizadores, pode ter impactos ainda mais negativos sobre o meio ambiente, em relação ao que já se acreditava.
O estudo é o primeiro a encontrar uma correlação direta entre o produto, fabricado pela empresa alemã Bayer Cropscience, e o declínio de aves. A expectativa é que os resultados aumentem a pressão sobre o governo do Reino Unido para mudar sua postura tolerante em relação a neonicotinoides, considerados, até então, seguros para o meio ambiente.
Ecologista da Universidade de Radboud, na Holanda, Caspar Hallmann disse que havia uma ligação forte e estatisticamente significativa entre os níveis de concentrações de uma substância química chamada imidacloprida, encontrada em águas de superfície, e o registro de diminuição de diversas espécies de aves, como a toutinegra, cotovias e tordos, compilado anualmente por ornitólogos.
– Em locais onde a concentração de imidacloprida na água passa de 20 nanogramas por litro, as populações de aves tendem a diminuir em 3,5%, em média, a cada ano. Isto significa que, dentro de dez anos, 30% da população dessas aves estaria em declínio – disse ele. – Esta não é, definitivamente, a prova de que o produto causa as mortes. No entanto, há uma linha de evidência sendo construída para explicar o que está acontecendo. Sabemos que o número de insetos também caiu nestas áreas e que os mesmos são um alimento importante para estas aves.
No mês passado, um grupo de pesquisadores analisou centenas de estudos publicados sobre neonicotinoides e descobriu que estavam ligados ao declínio de uma grande variedade de vida selvagem – de abelhas a minhocas e borboletas – que não são as pragas-alvo dos inseticidas.
O estudo mais recente, publicado na revista Nature, procurou analisar as variações das populações de uma grande variedade de espécies de aves em diferentes zonas da Holanda, antes e depois da introdução do imidacloprida em 1995.
– Também levamos em consideração outros fatores que possam estar relacionados ao declínio destas aves. Mas nossa análise mostra que o imidacloprida foi de longe o melhor fator explicativo para as diferentes tendências registradas nas áreas – disse o professor Hans de Kroon of Sovon, do Centro Holandês para Campo Ornitologia, que supervisionou a pesquisa.
– Os neonicotinóides sempre foram considerados toxinas seletivas. Mas nossos resultados sugerem que eles podem afetar todo o ecossistema. Este estudo mostra o quão importante é ter bons dados de campo, e analisá-los com rigor – disse o professor de Kroon.
Os pesquisadores não conseguiram encontrar um declínio comparável em aves antes da introdução do imidacloprida e não foram capazes de vincular os declínios em aves a mudanças nos métodos de cultivo ou uso da terra. Eles acreditam que a explicação mais provável é que os neonicotinóides estão causando escassez de alimentos para as aves que comem insetos, especialmente quando estão alimentando seus filhotes.
A União Europeia introduziu uma moratória de dois anos sobre determinados usos de neonicotinóides. No entanto, estes pesticidas são amplamente utilizados no tratamento de sementes para cultivos aráveis. Eles são criados para serem absorvidos pela muda em crescimento e são tóxicos para o sistema nervoso central de pestes que prejudicam o plantio.
Ao comentar o assunto, representantes da Bayer disseram que a pesquisa não apresenta argumentos aceitáveis.
O Globo, 10/07/2014.
4. Guardiões de sementes enriquecem experiências pessoais
Evento na sede da Embrapa Clima Temperado reuniu guardiões de espécies vegetais e animais
“Descobri naquele momento que aquela era a minha cota com a humanidade”, descreve agricultor Juarez Felipi Pereira, do município de Barra do Ribeiro. Ele conta que há 12 anos se identifica com uma responsabilidade e viveu um momento especial na sua vida ao se dar conta desse papel.
Após trabalhar por 30 anos na atividade agrícola convencional, passou por um período de reeducação alimentar e converteu a produção para o cultivo orgânico. Na tentativa de resgatar variedades crioulas, como o arroz farroupilha presente em sua família por mais de 80 anos, conta ter tido uma especial lembrança do que já fazia com sete anos de idade. Foi então que desabafou com os olhos cheios d’água a citação do início desta matéria. “Foi um momento fantástico, cheio de vida”, completa Juarez.
Hoje com 56 anos, mantém 36 variedades de arroz crioulo, 12 com destino comercial em feiras. O autoconhecimento fez com que o agricultor agisse imitando um pesquisador, fazendo relatórios dos seus cultivos sem saber se um dia seriam vistos e sem imaginar que, mais tarde, seria chamado de guardião de sementes crioulas de arroz.
Segundo o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Irajá Antunes, as sementes crioulas são as adaptadas ao ambiente específico de determinado local ao longo de muitos anos. Cada uma adquire características regionais e culturais, contribuindo com a biodiversidade e segurança alimentar das famílias mantenedoras, já que se tornam mais resistentes e menos dependentes de insumos.
Os chamados guardiões são vistos atualmente praticamente como heróis, já que preservam o patrimônio cultural das espécies, proporcionam segurança alimentar para a humanidade e por toda a dedicação a que se submetem.
(…)
Políticas Públicas
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentados pelo diretor da Conab, João Marcelo Intini, os melhores rendimentos econômicos estão concentrados nas menores propriedades, ou seja, na agricultura familiar.
Nos próximos dez anos a demanda por alimentos crescerá 20% e caberá ao Brasil atender 40% desse crescimento, grande parte pelas propriedades familiares. O constante avanço do país em produção de alimentos aponta que vamos continuar aumentando a produção e a exportação.
“Já comemos em quantidade suficiente, mas não na qualidade em que gostaríamos, e, apesar de ainda não ser o suficiente, avançou-se muito nos últimos anos nesse sentido”, afirma Intini, remetendo os resultados às políticas públicas que aproximaram o governo do diálogo com a sociedade no campo.
Para ele, um exemplo disso é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que está em 3.915 municípios do Brasil, envolvendo 185.979 famílias de quilombolas, indígenas e agricultores familiares. O diretor da Conab apresentou no Seminário um decreto que deve ser publicado nos próximos dias sobre o PAA Sementes, que irá disponibilizar R$ 16 mil por DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf), exigindo 5% das compras do PAA para sementes, sendo que hoje essas ocupam apenas 1,42%.
A nova resolução também propõe veto aos transgênicos, cadastro de ofertantes e novas demandas. Segundo o coordenador estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA/SC), Anderson Munarini, seria necessário uma política pública específica para sementes, já que o PAA tem resoluções específicas para alimentos e não são praticáveis para o grupo de guardiões. “Só os guardiões sabem da dificuldade de manter essas sementes”, declara Anderson, referindo-se aos danos por contaminação por agrotóxicos e transgênicos nas propriedades vizinhas, que geram perdas e retrocesso ao trabalho dos guardiões.
Já para Alcemar Inhaia, presidente da Bionatur em Candiota, a expectativa com o PAA Sementes é grande para avançar em compras públicas que promovam segurança alimentar. Ele conta que graças às políticas públicas ampliou as variedades crioulas e varietais, passando de três para 40 crioulas e 110 espécies no total. Atualmente, beneficiam 20 toneladas de sementes por ano, produzidas em assentamentos, e ofertam kits de hortaliças a preço de R$ 64,00, que rendem em R$ 1.500,00 em alimentos para quem planta.
Diário Popular (Pelotas), 16/07/2014.
A alternativa agroecológica
Experiências e aportes ao Bem Viver, por Cipca, Bolívia
http://www.youtube.com/watch?v=PIhsiwHWS48&index=1&list=PLS1DBM7meWZRz7eSa_99_mh9TljNlzzbM
*********************************************************
Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.
Para os números anteriores do Boletim, clique em: https://aspta.org.br
Participe! Indique este Boletim para um amigo e nos envie suas sugestões de notícias, eventos e fontes de informação.
Para receber semanalmente o Boletim, escreva para [email protected]
AS-PTA: Tel.: (21) 2253 8317 :: Fax (21) 2233 8363
Mais sobre a AS-PTA:
twitter: @aspta
facebook: As-pta Agroecologia
Flickr: http://www.flickr.com/photos/aspta/
*********************************************************