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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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41% dos estadunidenses terão câncer ao longo da vida, e 21% morrerão da doença. Os agrotóxicos estão entre os fatores de risco.
Número 543 – 22 de junho de 2011
Car@s Amig@s,
Entre setembro de 2008 e janeiro de 2009 o Painel sobre Câncer dos EUA (espécie de Conselho assessor do Presidente da República) convocou quatro encontros para avaliar o estado atual da pesquisa, política e programas sobre o câncer provocado por fatores ambientais. O Painel recebeu o testemunho de 45 especialistas convidados da academia, governo, indústria e grupos ligados a pessoas com câncer e ao meio ambiente. Em abril de 2010 foi publicado o relatório sintetizando as conclusões do Painel, baseadas nos testemunhos recebidos e em informações adicionais.
O documento enfatiza que as crescentes evidências relacionando a doença à exposição a fatores ambientais e ocupacionais têm tornado o público cada vez mais consciente do quanto tais riscos poderiam ser prevenidos através de medidas governamentais apropriadas.
Foi analisada uma ampla gama de fatores ambientais relacionados ao risco de câncer, incluindo as exposições industriais, ocupacionais e na agricultura, além das exposições relacionadas à prática médica, atividades militares, estilo de vida moderno e fontes naturais.
Uma das principais preocupações apresentadas no relatório é a constatação de que o peso dos fatores ambientais indutores de câncer foram até hoje grosseiramente subestimados. Há atualmente cerca de 80 mil químicos no mercado dos EUA, muitos dos quais são usados por milhões de estadunidenses em suas vidas diárias e são pouco ou não estudados, além de não monitorados — ou seja, a exposição a potenciais carcinogênicos ambientais está amplamente disseminada. Um dos exemplos mencionados é o Bisfenol A (BPA), componente de plásticos e outros materiais ainda encontrado em muitos produtos destinados aos consumidores, e que permanece no mercado do país sem qualquer tipo de regulamentação apesar das crescentes evidências que relacionam a substância a várias doenças, incluindo cânceres (o BPA também é amplamente usado no Brasil em plásticos e no verniz interno de latas que acondicionam alimentos e bebidas; já é sabido que a substância pode migrar dos recipientes para o alimentos). Mas enquanto o BPA tem recebido considerável atenção da imprensa, o público continua a ignorar muitos outros carcinogênicos ambientais comuns.
O relatório destaca ainda que a pesquisa sobre as causas ambientais do câncer foi até hoje limitada pela baixa prioridade e pelo “financiamento inadequado”.
Como resultado, o quadro de oncologistas ambientais é relativamente pequeno e as consequências da exposição cumulativa ao longo da vida a carcinogênicos conhecidos, bem como a interação de contaminantes ambientais específicos, continuam muito pouco estudadas. “Falta ênfase na pesquisa ambiental como um caminho para a prevenção do câncer, comparando-se, em particular, com a ênfase dada a pesquisas sobre os mecanismos genéticos e moleculares da doença”, diz o documento.
Os pesquisadores ressaltam ainda que os atuais testes de toxicidade e métodos usados para estabelecer os níveis aceitáveis de exposição às substâncias não são capazes de representar com exatidão a natureza das exposições humanas a químicos potencialmente perigosos. Segundo eles, “os atuais testes de toxicidade se baseiam fundamentalmente em estudos com animais que utilizam doses substancialmente maiores do que aquelas às quais os humanos são normalmente expostos. Estes dados — e os limites de exposição extrapolados a partir deles — não levam em conta os efeitos danosos que podem ser provocados apenas por doses muito baixas. Além disso, como regra, os químicos são administrados quando os animais de laboratório estão em sua adolescência, um método que não dá conta de avaliar os impactos no útero, na infância e nas exposições cumulativas ao longo da vida. Mais ainda, as substâncias são testadas isoladamente e não em combinação”.
Outro aspecto de grande importância ressaltado no relatório é que a abordagem da regulamentação adotada nos EUA é “reacionária” e não “precaucionária”. Ou seja, ao invés de adotar medidas preventivas quando há existência de incerteza acerca do potencial dano que um químico ou outro contaminante ambiental pode provocar, uma evidência de dano precisa ser incontestavelmente comprovada antes que possa ser tomada qualquer medida restritiva. Além disso, ao invés de exigir que a indústria ou outros proponentes da liberação comercial de químicos, utensílios ou atividades comprovem sua segurança, é o povo quem arca com o ônus de provar que uma dada exposição ambiental é prejudicial. Como exemplo, o relatório cita que apenas algumas centenas dos mais de 80 mil químicos em uso nos EUA tiveram sua segurança testada.
Observe-se que esta “abordagem reacionária” é a mesma adotada no Brasil, tanto para a liberação de agrotóxicos como de sementes transgênicas. Os estudos para atestar a segurança dos produtos são apresentados pelas próprias empresas proponentes. E caso os órgãos reguladores (Anvisa, Ministério da Agricultura e Ministério do Meio Ambiente, no caso dos agrotóxicos; e CTNBio no caso dos transgênicos) não comprovem, cientificamente, a existência concreta de danos, o produto caminha naturalmente para a autorização.
Na próxima edição deste Boletim: Contaminantes provenientes da agricultura e recomendações
Fonte:
Reducing Environmental Cancer Risk – What We Can do Now
2008-2009 Annual Report / The President’s Cancer Panel, April 2010 – U.S. National Cancer Institute / National Institutes of Health / Department of Heath and Human Services.
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Neste número:
1. Agricultor contaminado com grandes quantidades de agrotóxico
2. RS: Transgênico avança no Troca-Troca
3. Eucalipto transgênico volta ao centro do debate
4. Nova parceria entre Embrapa e Basf
5. Brasil vai fazer balanço sobre cumprimento da Convenção de Roterdã
A alternativa agroecológica
Associação para o Desenvolvimento de Alternativas de Geração de Trabalho e Renda São Benedito – Santa Catarina
Dica de fonte de informação:
Os Agrotóxicos e as Sementes Transgênicas, artigo do Prof. Athen Teixeira Filho, da UFPEL-RS.
“Agrotóxico’ é um tema sobre o qual poderíamos debater horas ou dias, manifestar opiniões favoráveis ou contra, recomendar o uso ou não, entretanto, independente deste fato, eles são o que são; venenos sintéticos de alta potencialidade produzidos pelo homem para ‘matar pragas’. Aliás, como negar o óbvio expresso no próprio nome? São biocidas – matam tudo o que tem vida!”
Eventos:
7o Encontro Regional das Agrárias – UFPA Marabá
Agroecologia: o papel dos profissionais das Ciências Agrárias no desenvolvimento sustentável
III Seminário de Integração de Bolsista de Pesquisa e Desenvolvimento
II Seminário de Iniciação Científica da FCAM
Local: Universidade Federal do Pará – Campus de Marabá
Data: 27 de junho a 01 de julho de 2011
Contatos: (94) 9172-9451 / 8138-6266
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1. Agricultor contaminado com grandes quantidades de agrotóxico
Tradução de Antonio Andrioli
Cientistas de Leipzig descobriram teores elevados do herbicida glifosato em um fazendeiro da Saxônia. A quantidade encontrada é mil vezes superior à média de outras amostras, afirmou a veterinária e microbiologista Monika Krueger, da Universidade de Leipzig, para a revista Exakt, da rede MDR de notícias.
A professora Monika Krueger considera que os índices encontrados na urina do agricultor são preocupantes.
O glifosato é o herbicida mais utilizado mundialmente no controle de ervas daninhas. Milhares de toneladas são pulverizadas nos campos, só na Alemanha. Organizações ambientalistas vêm alertando há anos para potenciais problemas de saúde provocados pelo glifosato e seus aditivos.
A consultora de Preservação Ambiental e Transgênicos da NABU (Sociedade de Preservação Ambiental da Alemanha), Steffi Ober, avalia o uso do glifosato como sendo uma espécie de “teste cego em toda a população.”
Especialistas suspeitam que o envenenamento com glifosato abre um perigoso caminho para bactérias causadoras de botulismo; bactérias que normalmente não prejudicam seres humanos saudáveis. O referido agricultor, no caso, vem sofrendo há algum tempo intensos distúrbios nervosos (causados pela toxina de uma bactéria, Clostridium botulinum).
Os sintomas do agricultor agora podem ser esclarecidos como sendo decorrentes de uma intoxicação causada pela toxina botulínica simultânea à contaminação com glifosato. Segundo a Prof. Monika Krüger “Esta é nossa primeira hipótese: de que se trata de um efeito resultante da ação do glifosato.”
Os cientistas agora estão analisando mais pessoas com relação a possíveis efeitos do herbicida.
Fonte: Exakt (Alemanha), 25/05/2011.
2. RS: Transgênico avança no Troca-Troca
Dados preliminares divulgados nesta quinta-feira (16) pela Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo do Rio Grande do Sul apontam que 182,5 mil agricultores solicitaram 316,3 mil sacas de 20 kg de sementes de milho por meio do Programa Troca-Troca. Deste total, 5,8% correspondem a material transgênico.
O secretário, Ivar Pavan, explica que o período para realização de pedidos encerrou na segunda-feira, mas os dados poderão ser enviados até a próxima terça-feira. É que aproximadamente 30 entidades ainda não enviaram as solicitações devido a problemas na transmissão dos dados pela Internet. Apesar disso, a secretaria mantém a previsão de distribuir as sementes nos municípios a partir do mês de julho.
Mesmo sem concluir o levantamento, é possível perceber que o percentual de solicitação de materiais transgênicos aumentou em relação ao ano passado. Em 2010, o governo estadual distribuiu 348 mil sacas por meio do programa, sendo 2% delas geneticamente modificadas. A cultivar, resistente à lagarta [em verdade, a planta é inseticida: a lagarta morre após ingeri-la], também é mais cara que a utilizada habitualmente. O valor da saca de semente de milho híbrido é de R$ 88,00. Já o custo da saca de 20kg de semente transgênica é de R$ 178,00. Por isso, o agricultor interessado nessa variedade deve pagar a diferença de R$ 90,00 por saca de 20 kg, no ato do pedido.
Fonte: Correio do Povo, 17/06/2011
3. Eucalipto transgênico volta ao centro do debate
Tema que já gerou muita polêmica nas últimas décadas, a transgenia voltou com força à pauta da indústria de base florestal. Na próxima semana, biotecnologia e a utilização de organismos geneticamente modificados nessa área – com destaque para o eucalipto – serão temas de dois eventos, igualmente importantes para as empresas que usam a madeira como matéria-prima, que ocorrem em pontos opostos do globo. A proposta é retomar os debates em torno do uso de árvores transgênicas inteiras, rumo à possível adoção dessa tecnologia em escala comercial.
Na Malásia, o FSC (do inglês Forest Stewardship Council), principal órgão certificador de manejo florestal sustentável do mundo, promoverá sua assembleia geral com o objetivo de debater as quase duas décadas de atuação do órgão. Na ocasião, o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), apoiado por Suzano Papel e Celulose, Duratex e pela Organização de Produtores Florestais da Nova Zelândia (NZFOA), levará à votação uma moção na qual sugere que se acelere o debate sobre o cultivo de florestas transgênicas. No Brasil, Porto Seguro (BA) sediará a conferência internacional da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), na primeira vez em que o evento ocorre na América Latina. Fibria; Veracel, produtora de celulose instalada no sul da Bahia e que tem como sócia a sueco-finlandesa Stora Enso; Klabin e International Paper patrocinam o encontro.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, é chegada a hora de avançar no debate sobre a aplicação da transgenia em florestas de eucalipto. “Há argumentos fortes para que esse assunto seja retomado”, defende. Filiada ao FSC, a Bracelpa tem o direito de voto nos temas debatidos ao longo do evento. “Acreditamos que a agência certificadora deve liderar as discussões”, afirma Elizabeth.
O debate sobre a exploração de árvores transgênicas pouco evoluiu nos últimos três ou quatro anos, embora as pesquisas tenham avançado de forma significativa, especialmente nos Estados Unidos. Um dos principais obstáculos tem sido a falta de consenso. O próprio FSC, em sua atual política, aprovada em 2000, proíbe o uso de organismos geneticamente modificados em áreas certificadas. “Um dos desafios está no FSC”, conta a coordenadora técnica do Programa Cooperativo em Certificação Florestal (PCCF), do Ipef, Luciana Antunes. “Mas o mundo mudou de lá para cá e é necessário que exista mais diálogo sobre o assunto.”
Atualmente, não existem florestas comerciais de eucalipto transgênico, embora inúmeras empresas, incluindo as grandes produtoras de celulose sediadas no país, e universidades – ou organismos vinculados – já tenham autorização concedida para o plantio com fins de pesquisa. Dentre os benefícios que a transgenia poderia gerar à cultura de eucalipto estão a redução de lignina, o que facilitaria a extração da celulose. Hoje, o Brasil já é reconhecido mundialmente como um dos líderes em termos de produtividade florestal e a adoção de árvores transgênicas deverá ampliar esses índices. “Há escassez de madeira no mundo”, alerta a presidente da Bracelpa. “Nesse cenário, torna-se ainda mais importante que se volte a falar em transgenia em árvores.”
Para Luciana, do Ipef, é possível que em quatro ou cinco anos essa prática já seja comercial. Embora os Estados Unidos liderem as pesquisas no setor, outros países, como Canadá, Nova Zelândia e alguns latino-americanos também encamparam pesquisas e poderão ocupar posição de destaque nas discussões internacionais.
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011.
4. Nova parceria entre Embrapa e Basf
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a companhia química alemã Basf anunciaram hoje, em São Paulo, uma parceria para desenvolver novos produtos biológicos para as culturas de cana-de-açúcar e soja. (…)
De acordo com Eduardo Leduc, vice-presidente sênior da Unidade de Proteção de Cultivos para a América Latina da Basf, a importância de ambas as culturas para a pauta das exportações agrícolas brasileiras determinou a escolha dos dois projetos iniciais da parceria, que terá duração de cinco anos, mas que poderá ser renovada depois desse período.
A parceria, contudo, é mais ampla e envolve pesquisa e desenvolvimento nas áreas de biotecnologia, melhoramento genético, fertilidade, mecanização de solos, proteção de plantas e fisiologia vegetal.
De acordo com Filipe Geraldo Teixeira, chefe da Assessoria de Inovação Tecnológica da Embrapa, será criado um comitê gestor para levantar as demandas de pesquisa e desenvolvimento nas quais ambas as empresas vão trabalhar. Leduc, da Basf, não revelou quanto a companhia vai aplicar na iniciativa. “Os investimentos estão sendo levantados e serão feitos conforme os projetos se desenvolverem”, disse.
No caso da pesquisa que ajudará a cana a fixar nitrogênio no solo, a pesquisadora responsável pelo projeto, Verônica Reis, da Embrapa Agrobiologia, revelou que o produto deverá estar disponível no prazo de 18 meses a dois anos. Quanto ao porcentual de fixação, ela explicou que o potencial depende da variedade da cana e da região de plantio.
Com relação ao controle biológico da ferrugem da soja, Teixeira, da Embrapa, explicou que existem duas moléculas que atualmente são base dos fungicidas usados no controle da doença, mas uma delas está perdendo a eficiência. “A ideia é que tenhamos uma terceira classe de produto que ajude a combater a ferrugem”, afirmou o pesquisador. Embora existam pesquisas sobre semente de soja resistente à ferrugem, inclusive na Embrapa, ele disse que a estratégia mais rápida no momento é o controle biológico.
Ambas as empresas desenvolvem produtos em conjunto desde 1996, quando iniciaram as pesquisas do sistema de produção Cultivance, que envolve uma semente de soja transgênica tolerante a herbicidas que não sejam o Roundup Ready (RR). O sistema estará disponível no mercado brasileiro na safra 2012/2013. Neste projeto, a Basf investiu US$ 20 milhões, segundo Leduc. Embrapa e Basf esperam que a semente torne-se uma alternativa para rotação entre sementes de soja, já que 80% das variedades cultivadas pelos brasileiros é tolerante ao herbicida RR. (…)
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011.
5. Brasil vai fazer balanço sobre cumprimento da Convenção de Roterdã
O Ministério do Meio Ambiente promove, entre os dias 5 e 7 de julho, uma consulta nacional sobre o cumprimento das tarefas assumidas pelo Brasil na Convenção de Roterdã, que regulamenta o comércio internacional de produtos químicos perigosos. Entre os principais alvos do tratado estão substâncias usadas na composição de agrotóxicos.
Serão três dias de encontro, em Brasília, com representantes das principais instituições envolvidas com o compromisso firmado pelo Brasil em Roterdã. (…)
O encontro de julho vai tratar de assuntos como Sistema Integrado de Comércio Exterior, Sistema Nacional de Informação sobre Tóxico-Farmacológicos, controle de importações nas aduanas, fiscalização de uso dos produtos e medidas regulatórias.
Entre as principais tarefas já cumpridas pelo Brasil para o controle de produtos químicos perigosos está a Lei de Agrotóxicos, regulamentada pelo Decreto 4.074/02.
Para atender compromissos firmados nesse tipo de tratado, a sociedade participa das decisões, inclusive com representantes da indústria, importadores e produtores.
Entre os órgãos de governo que se destacam como responsáveis pelas tarefas a serem executadas estão o MMA, o Ibama e o Ministério das Relações Exteriores. Também tem especial papel o Ministério da Agricultura e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Embora a Convenção de Roterdã não tenha o poder de banimento de substâncias em seus 140 Países signatários, a inclusão delas em sua lista de perigosas serve como alerta sobre regras de fabricação e de comércio.
A partir dessa inclusão, por exemplo, empresas exportadoras deverão obrigatoriamente informar as leis que regem a substância em seu próprio País, advertindo compradores sobre quaisquer restrições. Já existem 40 substâncias nesse rol.
Porém, o fato de Roterdã não ter poder de banimento, também não significa que determinado produto químico escape de proibições. O endosulfan, que faz parte desse tratado, acabou sendo proibido no Brasil por força da Lei dos Agrotóxicos.
Foi ainda condenado pela quinta Conferência das Partes (COP 5) da Convenção de Estocolmo, em abril. (…)
Fonte: Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente, 14/06/2011 (via JusBrasil).
A alternativa agroecológica
Associação para o Desenvolvimento de Alternativas de Geração de Trabalho e Renda São Benedito – Santa Catarina
Frente ao contexto histórico do Planalto Serrano de Santa Catarina de expropriação das famílias agricultoras de suas terras e meios de produção, as mulheres da comunidade de Beneditos, no município de Cerro Negro, iniciaram, em 2004, a organização de um grupo com o objetivo de buscar alternativas de renda.
Este processo organizacional teve apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Anita Garibaldi, município vizinho, através de ações regionalizadas. Em sua fase inicial, o grupo obteve apoio através do projeto “Combate à Pobreza Rural no Sul do Brasil”, coordenado pelo Centro de Elaboração, Assessoria e Desenvolvimento de Projetos (CESAP) e pelo Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais (DESER). As ações visaram desenvolver atividades manuais como pintura, crochê, confecção de acolchoados de lã e confecção de roupas – todas realizadas de forma coletiva como alternativa na busca de renda. Através deste projeto, o grupo recebeu assessoria para a formação da associação, cursos para as atividades manuais, assim como máquinas de costura.
Com este processo de organização, em 2005 o grupo se inseriu na Rede de Agroecologia do Território Serra Catarinense, que naquele momento estava elaborando projetos de apoio às organizações a ela vinculadas através do Pronaf Infraestrutura. Buscava-se adquirir máquinas e equipamentos para os grupos que desenvolviam atividades de agroindustrialização e artesanato. A demanda levantada à ocasião foi a estrutura física para o grupo desenvolver suas atividades artesanais e abrigar suas máquinas.
Em 2006, através de uma parceria com o STR e o Centro Vianei de Educação Popular, iniciou-se um trabalho de produção agroecológica, visto que as mulheres do grupo eram agricultoras e também desenvolviam atividades de produção juntamente com seus familiares. A produção ecológica começou com o milho e o feijão, na maioria dos casos em áreas arrendadas.
Posteriormente, visando diminuir os custos de produção e a dependência de insumos externos, principalmente no que tange a produção de sementes, começou-se um trabalho de resgate e melhoramento de sementes de milho crioulo. O grupo participou de um projeto da Rede de Agroecologia proposto pela Cooperativa Ecológica Ecoserra para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para compra e doação simultânea de sementes. Através desta parceria, foram produzidas 6 toneladas de sementes de 09 variedades crioulas de milho.
Ainda em 2006, o grupo foi beneficiário de outro projeto através da Rede de Agroecologia: o Programa de Promoção da Igualdade de Gênero Raça e Etnia (PPIGRE). Através deste projeto, o grupo recebeu máquina de bordado, máquina de costurar couro e teares. Paralelamente, o grupo envolveu-se em ações de formação de um outro projeto chamado “Gênero, Agroecologia e Educação Popular”. Através deste projeto, as agricultoras receberam assessoria do Centro Vianei para a formação de Agentes em Gênero.
Posteriormente, em 2008, o grupo assumiu o desafio de instalar um pequeno quintal agroflorestal de forma comunitária para desenvolver práticas de produção agroecológica. A iniciativa teve o apoio do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), do Ministério do Meio Ambiente, e foi motivada pela preocupação com a segurança alimentar e com a restrição das áreas destinadas ao autoconsumo em função da construção de novas moradias.
O espaço de quintal foi cedido por uma das mulheres do grupo. Anteriormente, a pequena área era destinada à manutenção de um cavalo usado pela família. Devido às dificuldades financeiras para cercar o espaço com tela, as mulheres usaram uma técnica de isolamento com a reciclagem de garrafas PET.
Nesta área as mulheres produziram uma diversidade de produtos como cenoura, beterraba, couve, almeirão, milho, feijão-de-vagem, ervilha, couve-flor, salsa, cebola verde, abobrinha, tomate, brócolis, pepino, moranga, entre outras. Além das espécies hortícolas, avaliou-se a importância de se plantar em consórcio outras espécies frutíferas, com ênfase para as nativas da região como, por exemplo, uvaia, pitanga, cereja e guavirova. Valorizou-se ainda nesse sistema agroflorestal a presença do pinheiro-brasileiro (Araucária angustifolia). Esta estratégia buscou aliar também a adequação ambiental, visto que as moradias se localizam em áreas de preservação permanente (margens de rios). Através do projeto PDA, o grupo recebeu mudas de espécies nativas, hortaliças e sementes.
Como resultado da primeira safra, o grupo conseguiu colher alimentos não somente para o autoconsumo: o excedente foi fornecido para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), gerido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), totalizando uma receita de R$ 10.500,00. O programa previa a compra e doação simultânea dos alimentos para pessoas com risco de insegurança alimentar, e os produtos foram entregues na própria comunidade, dando prioridade às famílias com idosos e crianças.
Aliadas à produção, ocorreram também atividades de educação alimentar visando melhorar a saúde e consequentemente a qualidade de vida das famílias agricultoras através do cultivo dos alimentos ecológicos.
Atualmente, todas as mulheres do grupo estão procurando desenvolver a produção em seus pequenos espaços de quintal com o intuito de garantir a alimentação familiar, mas também de dar continuidade ao fornecimento para o PAA e comercializar em uma feira local, que está sendo articulada no município com as organizações da Rede de Agroecologia. O início do funcionamento da feira está previsto para dezembro de 2010.
Como resultado de sua organização, o grupo aponta a importância de hoje possuir um espaço próprio para suas atividades artesanais, muito bem equipadas. As mulheres se reúnem uma vez por semana para desenvolver estas atividades, que além de gerarem uma renda extra, são momentos de trocas, de lazer e de reforço dos laços afetivos e comunitários.
O envolvimento com agroecologia proporcionou o resgate da produção para o autoconsumo, a inserção no mercado e mais uma fonte de renda. Mais que isso, entretanto, promoveu o reconhecimento e a valorização da organização em nível local e regional, através do exercício da cidadania. Essas mulheres hoje fazem o gerenciamento de suas atividades, intervêm nas tomadas de decisões e se relacionam com o mercado através da economia solidária, preservando sua identidade e tradições culturais.
Fonte: Agroecologia em Rede.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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