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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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O feijão transgênico está na mesa
Car@s Amig@s,
A decisão foi tomada ontem, por 15 pessoas. Não por acaso, quinze também foi o número de membros da CTNBio que endossaram abaixo-assinado na internet que circulou nas últimas semanas pedindo a liberação comercial do feijão transgênico. O autor da petição on-line é o representante do Ministério das Relações Exteriores na Comissão, também relator do processo.
A legislação brasileira estabelece que o envolvimento profissional ou pessoal enseja impedimento em votações nas matérias de interesse, sob possibilidade de perda de mandato. Aquilo que deveria ser entendido como falta de isenção foi defendido juridicamente pela consultoria especializada do Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta que abriga a CTNBio, segundo seu presidente, Edílson Paiva. Ao final da sessão, Paiva informou que um procurador da República estava no ministério reunido com os advogados do órgão. A Articulação do Semiárido, a AS-PTA, o Idec e a Terra de Direitos haviam protocolado no MPF representação alertando para o fato.
Cinco integrantes da CTNBio votaram pela diligência, argumentando pela realização de mais estudos. Entre eles estava o representante do Ministério da Saúde, que defendeu que com as informações disponíveis será inviabilizada a criação de um sistema de vigilância em saúde que possa identificar potenciais efeitos adversos da nova semente quando cultivada e consumida em escala. Foi voto vencido, assim como os que questionaram a validade dos estudos sobre saúde baseados em apenas 3 ratos de laboratório de uma única espécie, número pequeno demais para se extrair conclusões estatisticamente válidas. Mesmo assim, nesses 3 animais identificou-se tendência de diminuição do tamanho dos rins e de aumento do peso do fígado. Por que? O produto foi liberado sem essa resposta. Apesar dos alertas, a aprovação também ocorreu com a dispensa da exigência legal de estudos em duas gerações de animais e em animais prenhes.
Francisco Aragão, o pesquisador que desenvolveu o feijão modificado, afirmou aos jornais que “foram realizados testes de 2004 a 2010” (Folha de São Paulo, 16/09), que “Fizemos estudos entre 2005 e 2010” (O Estado de São Paulo, 16/09) e que “as pesquisas em campo foram feitas desde 2006” (O Globo, 16/09). Quem abrir o processo enviado à CTNBio, assinado por Aragão, verá, logo nas páginas 17-19, que “os ensaios foram realizados em casa de vegetação e campos cultivados por um período de 2 anos”. A Seção VII do dossiê “Avaliação de risco ao meio ambiente” apresenta dados referentes a 2008 e 2009. Só.
A viabilidade da tecnologia e a durabilidade da resistência ao vírus patogênico também foram colocadas em questão. A primeira geração de sementes originadas do feijão transgênico apresentou até 36% de plantas suscetíveis ao vírus (p. 143 do processo). O que ocorrerá com as sementes comerciais a serem vendidas, também derivadas de matrizes transgênicas? O processo foi aprovado sem essa resposta. A presença de plantas vulneráveis ao ataque do vírus pode acelerar o desenvolvimento de resistência.
Quem estudou o assunto também sentiu falta de uma referência bibliográfica no processo, de 2008, de pesquisadores italianos que estudam tomates com o mesmo enfoque de transformação genética aplicada ao feijão da Embrapa. Lucioli e colaboradores concluem que novas estratégias de engenharia genética são necessárias para controlar o vírus, já que suas pesquisas apontaram para o rápido desenvolvimento de resistência e mutação do vírus. Na mesma revista Nature Biotechnology (dezembro de 2009), Aragão defendeu seu projeto por meio de réplica publicada na seção “carta ao editor”, que foi respondida pela equipe de Lucioli reafirmando, com apoio em outras referências, que a metodologia empregada tem um “calcanhar de Aquiles” que a torna vulnerável.
Já no processo do feijão da Embrapa, protocolado na CTNBio em dezembro de 2010, lê-se que “Não há na literatura nenhum estudo sobre o efeito de uma planta GM semelhante” (p. 329).
Questões apresentadas em audiência pública não foram devidamente respondidas, lembrando que o evento foi realizado na sede da empresa proponente. O mesmo tratamento foi dispensado à análise independente de geneticistas da Universidade Federal de Santa Catarina, encaminhada à CTNBio. Esta, entre outros, aponta genes em duplicidade e critica a apresentação de dados sem a respectiva análise estatística: “Fica claro que a empresa proponente não se porta adequadamente, pois até os estudantes de iniciação científica não ousariam fazer as mesmas conclusões”.
O ministro Aloizio Mercadante chancelou o procedimento. Desconsiderou manifestação do CONSEA e do MPF e alertas de organizações da sociedade civil. Seu representante na CTNBio ouviu exposição detalhada relativa às falhas do processo e aos atropelos às regras da Comissão. Não se manifestou, absteve-se de votar e deixou a reunião em seguida.
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Neste número:
1. Marie-Monique Robin lança seu novo filme: “O veneno nosso de cada dia”
2. Projeto torna crime hediondo a violação de regras sobre agrotóxicos
3. Campanha Contra os Agrotóxicos realiza segundo encontro de formação no Rio
4. Justiça do Chaco, Argentina, põe limites às pulverizações de agrotóxicos
5. Cresce oposição à liberação de salmão transgênico no Congresso americano
6. Anvisa proíbe venda e fabricação de mamadeiras com bisfenol no Brasil
7. Comissão da Câmara aprova convênio para presídio comprar produtos da agricultura familiar
A alternativa agroecológica
Convivência com as pragas do algodoeiro no Curimataú paraibano
Dica de fonte de informação:
Clomazone e o perigo dos agrotóxicos – Entrevista especial de Darci Bergmann ao Instituto Humanitas Unisinos
“O receituário agronômico virou uma mera formalidade, pois no cenário das lavouras as coisas acontecem de outra forma, principalmente quando os agrotóxicos são aplicados por aeronaves agrícolas”, denuncia o engenheiro agrônomo Darci Bergmann. Em incursões pela zona rural da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, Bergmann tem constatado situações de impactos ambientais e mau uso dos agrotóxicos nas lavouras agrícolas. Na entrevista, ele comenta os efeitos do herbicida clomazone, utilizado com frequência nas lavouras de arroz irrigado, fumo e cebola. “As sementes de arroz são tratadas com um produto químico, que é uma espécie de antídoto ao próprio clomazone. Assim, podem ser usadas doses maiores da formulação comercial, muito acima daquelas recomendadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”.
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1. Marie-Monique Robin lança seu novo filme: “O veneno nosso de cada dia”
No auditório lotado da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, na Fiocruz, a diretora de “O Mundo Segundo a Monsanto”, Marie-Monique Robin, lançou no dia 12/09 seu mais novo filme: “O veneno nosso de cada dia”. Desta vez, ela tentou desvendar como são calculados os valores de IDA – Ingestão Diária Aceitável – para diversos produtos como agrotóxicos, resíduos de plásticos e o aspartame.
O evento contou ainda com a presença do diretor Sílvio Tendler, cujo mais novo documentário – O veneno está na mesa – fora exibido no mesmo local dias antes. Ambas exibições fazem parte do “Ciclo de debates sobre a Rio+20: quem sustenta o desenvolvimento sustentável?”, cujo objetivo é preparar a Fiocruz para um posicionamento institucional em relação ao encontro que ocorrerá no ano que vem.
A Ingestão diária aceitável – IDA – é um valor numérico, medido em mg/kg, que determina a quantidade que se pode consumir de uma substância durante todos os dias, com segurança, por toda a vida.[1] Na prática, para os agrotóxicos, por exemplo, determina qual limite máximo de resíduo aceitável em um alimento. Era de se esperar que este índice fosse calculado com um alto grau de rigor científico, para que em nenhum momento colocasse a vida dos consumidores em risco.
Mas Marie-Monique nos mostra justamente o contrário. No mesmo estilo investigador de “O Mundo Segundo a Monsanto”, a diretora percorre centros de pesquisa e agências reguladoras em vários países tentando descobrir como este índice é definido. E ela não deixa dúvidas: através de estudos científicos pagos pelas empresas, e com a ajuda diretores de agências reguladoras com ligações com a indústria, os próprios fabricantes das substâncias é que definem o nível aceitável.
Após a exibição, Marie-Monique disse que o filme foi como uma continuação de “O Mundo segundo a Monsanto”. O trabalho de pesquisa impecável fez com que a gigante multinacional não movesse sequer um processo contra ela. Nada foi dito sem que houvesse comprovação. E da mesma forma foi feito em “O veneno nosso de cada dia”, que acompanha um livro de 400 páginas. O objetivo é mostrar que a Monsanto não é uma exceção: diversas outras multinacionais utilizam os mesmos métodos – tráfico de influência, corrupção, fraude científica – para lucrar às custas da vida da população.
Ela revelou ainda que apenas 10% das substâncias que estão presentes no nosso dia-a-dia foram testadas. E mesmo assim, esses testes sempre foram feitos com forte influência dos fabricantes. Representantes da indústria química chegaram a dizer que “o livro envenena a indústria química”. De fato, a análise incomoda tanto a indústria quanto as agências reguladoras. (…)
O caso da EFSA, agência européia, foi o mais emblemático. Após várias tentativas negadas, ela ameaçou dizer no filme que agência havia se recusado a falar. Então eles aceitaram, mas se prepararam bem: passaram “O Mundo Segundo a Monsanto” para todos os funcionários, para que se preparassem para o tipo de pergunta. E durante a sua visita, foi seguida de perto por vários seguranças, que filmaram todos os seus passos. Mesmo assim, o representante entrevistado fica mudo quando ela mostra, através de documentos da própria EFSA, a fragilidade científica sob a qual é baseado o IDA. Já a Organização Mundial da Saúde, órgão da ONU, respondeu simplesmente: “É o melhor que podemos fazer.” (…)
E para não terminar de forma tão trágica, a diretora já anunciou que seu próximo filme e livro será sobre a resistência agroecológica que vem se fortalecendo no mundo inteiro. E afirmou: “Gostaria muito de contar com a presença do MST, que é uma referência mundial no trabalho e na promoção da agroecologia”.
Extraído: MST Rio, 13/09/2011.
2. Projeto torna crime hediondo a violação de regras sobre agrotóxicos
A Câmara analisa o Projeto de Lei 1811/11, do deputado Amauri Teixeira (PT-BA), que caracteriza como crime hediondo a produção, a comercialização, o transporte e a destinação de agrotóxicos ou de seus componentes em descumprimento às exigências legais.
A lei atual (7.802/89) penaliza com dois anos de prisão em regime inicialmente fechado, além de multa, quem descumprir as normas sobre agrotóxicos. Ao tornar essas condutas crimes hediondos, o autor quer dar a elas tratamento mais severo. Os crimes hediondos são inafiançáveis e não podem ser objeto de graça, anistia ou indulto.
Teixeira argumenta que a falta de controle na manipulação dos agrotóxicos e de seus componentes tem efeitos graves na população. Segundo ele, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) registram cerca de 20 mil mortes por ano nos países em desenvolvimento causadas pela manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas.
“O uso negligente de agrotóxicos tem causado diversas vítimas, além de abortos, fetos com má formação, suicídios, câncer, dermatoses e outras doenças”, justifica o deputado.
Hoje, a legislação determina que todos os agrotóxicos e componentes só poderão ser utilizados se registrados em órgão federal, cumprindo exigências dos ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura. A norma proíbe o registro de defensivos e componentes para os quais não haja antídoto ou que causem danos à saúde ou ao meio ambiente.
Tramitação
A proposta será analisada pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, será votada no Plenário.
Fonte: Agência Câmara de Notícias, 08/09/2011.
3. Campanha Contra os Agrotóxicos realiza segundo encontro de formação no Rio
O comitê do Rio de Janeiro realizou no dia 11 de setembro o segundo encontro de formação da Campanha Contra os Agrotóxicos. Depois de debater o modelo de agricultura baseado nos agrotóxicos, o tema desta vez foram os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente. Os convidados para facilitar o estudo foram Denis Monteiro, da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia, Gabriel Fernandes, da AS-PTA e André Burigo, da EPSJV/Fiocruz. O encontro ocorreu na ocupação Manoel Congo, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM – no Centro do Rio.
Os 20 militantes que dispuseram o domingo para o encontro deram uma mostra da grande abrangência da Campanha. Tivemos a presença de estudantes da Universidade Rural do Rio de Janeiro, militantes da Rede Alerta contra o Deserto Verde, do Sindicato dos Químicos, do MST, pesquisadores da UFRJ, comunicadores populares, entre outros. O material que serviu de apoio para o debate pode ser encontrado no blog Pratos Limpos. (…)
O encontro foi finalizado com uma avaliação e um debate sobre os rumos da campanha. Os participantes foram convidados a integrar o comitê da campanha no Rio, para auxiliar nas ações contra os agrotóxicos no estado. O próximo encontro, em outubro, terá como tema “As doenças causadas pelos agrotóxicos”. Ainda estão programados mais três encontros: um sobre Agroecologia, e duas visitas a campo: em áreas que utilizam agrotóxicos e que fazem o manejo agroecológico. Acompanhe as atividades do comitê RJ pelo blog Pratos Limpos.
Fonte: MST Rio, 12/09/2011.
4. Justiça do Chaco, Argentina, põe limites às pulverizações de agrotóxicos
Pela primeira vez a máxima instância judicial de uma província argentina se pronunciou sobre a utilização de agrotóxicos. A sentença do Superior Tribunal de Justiça do Chaco proíbe a pulverização terrestre a menos de mil metros de moradias, escolas e cursos d’água. Se a pulverização for aérea essa distância aumenta para 2 mil metros.
A decisão ressaltou a vigência do princípio de precaução (ante a possibilidade de prejuízo ambiental irreversível é necessário tomar medidas protetoras), priorizou a saúde em relação à rentabilidade, chamou a atenção sobre a responsabilidade dos funcionários e exortou os municípios a darem respostas urgentes à população.
O processo judicial foi travado entre empresas arrozeiras, que utilizam altas quantidades agrotóxicos (sobretudo endossulfam e glifosato), e dos municípios La Leonesa e Las Palmas, situados a 60 km de Resistencia, capital da província. Nas duas primeiras instâncias de julgamento houve decisões favoráveis aos moradores. As empresas recorreram, alegando “inconstitucionalidade e inaplicabilidade” da lei. Pediram a modificação da medida cautelar para reduzir os limites impostos às pulverizações e apresentaram como argumento possíveis prejuízos econômicos.
Em sua decisão definitiva, o tribunal máximo da província confirmou as decisões anteriores e recordou que “os valores que estão em jogo são a saúde e a vida”, enfatizando o princípio precautório vigente na Lei 25675: “Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a ausência de informação ou certeza científica não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes, em função dos custos, para impedir a degradação do meio ambiente”.
Alejandra Gómez, assessora jurídica dos moradores e da Rede de Saúde Popular, comemorou a sentença: “A decisão do Superior Tribunal é muito valiosa não somente porque é de uma instância superior, mas por oferecer um marco de proteção aos moradores cujas reivindicações foram ignoradas pelos prefeitos e pelo governo provincial”
Extraído de: Página 12, 30/08/2011.
5. Cresce oposição à liberação de salmão transgênico no Congresso americano
Membros do Congresso americano pressionam a agência de fiscalização de medicamentos e alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) a interromper a aprovação de um salmão geneticamente modificado no país, sob a alegação de que não há conhecimento suficiente sobre o peixe e que ele pode prejudicar os negócios do segmento nos Estados costeiros.
A polêmica surgiu no ano passado, quando emergiu a possibilidade de o FDA aprovar rapidamente o salmão transgênico. A resistência do Congresso e a falta de ação do FDA, porém, podem significar que o peixe não estará nas mesas de jantar do país no curto prazo.
O salmão geneticamente modificado, que cresce duas vezes mais rapidamente que a variedade convencional, foi desenvolvido pela AquaBounty, uma companhia de Massachusetts, há mais de 15 anos, mas ainda não foi autorizado no mercado. Caso o governo o aprove, será o primeiro aval à comercialização de um animal transgênico.
No Congresso, a oposição ao peixe geneticamente modificado é liderada por representantes da bancada do Alasca. Eles enxergam o salmão transgênico como uma ameaça à indústria do peixe convencional naquele Estado.
Em junho, a Câmara aprovou uma emenda do deputado republicano Don Young, do Alasca, impedindo o FDA de gastar qualquer quantia na aprovação do peixe. A emenda foi aprovada sem objeções em votação oral. A senadora republicana Lisa Murkowski, também do Alasca, disse na semana passada que vai tentar adicionar a mesma emenda na versão do projeto de lei no Senado. “Tenho a triste sensação de que estamos mexendo no belo trabalho que a Mãe Natureza fez em relação ao salmão”, afirmou.
Enquanto a oposição de Murkowski segue a linha de interesse da indústria de pescados de seu Estado, outros senadores demonstraram preocupação com os riscos para a segurança alimentar e ambiental. Mais de uma dúzia de senadores escreveram para o FDA sobre processo de aprovação e os riscos para a segurança alimentar e ambiental. (…)
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2011 (via e-Pharma).
6. Anvisa proíbe venda e fabricação de mamadeiras com bisfenol no Brasil
Químico usado na fabricação do plástico e de latas é associado a doenças como câncer, obesidade, diabetes infantil e distúrbios neurológicos; proibição vale a partir de janeiro de 2012
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou a proibição, em todo o Brasil, da venda e da fabricação de mamadeiras de plástico que contenham bisfenol A (BPA). A medida entra em vigor a partir de janeiro de 2012. O principal argumento da instituição é que estudos realizados com animais mostraram que o BPA pode causar problemas neurológicos, sobretudo em crianças expostas à substância química nos primeiros anos de vida.
O bisfenol A é uma substância química usada na fabricação do plástico e no revestimento interno de latas de bebidas e de alimentos. Segundo pesquisas, pode provocar puberdade precoce, câncer, alterações no sistema reprodutivo e no desenvolvimento hormonal, infertilidade, aborto e obesidade. Por conta disso, já foi proibido na União Europeia, no Canadá, na China, na Malásia e na Costa Rica. Onze estados americanos também já vetaram o BPA em mamadeiras e copos infantis.
A decisão da Anvisa vem ao encontro da lei sancionada no ultimo dia 3 de setembro em Piracicaba, interior de São Paulo, onde já está proibida a comercialização de mamadeiras e copos de bico fabricados com BPA. A lei proposta pelo vereador Capitão Gomes e sancionada pelo prefeito Barjas Negri, ex-ministro da Saúde, fez de Piracicaba o primeiro município brasileiro a combater os perigos do bisfenol com medidas legais e estimulou outras cidades como Campinas, Americana, Tupã, Sorocaba, Indaiatuba e Rio Claro a desenvolverem iniciativas que vão além do tema das mamadeiras e que propõem a proibição imediata também em latas de refrigerantes, alimentos e em demais embalagens plásticas.
Além desses municípios, existe um movimento que reúne vereadores de todo o Brasil e que, neste momento, soma mais de 50 projetos de lei em diversas cidades e também na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, através do deputado José Bittencourt. Na Câmara dos Deputados, o parlamentar Alfredo Sirkis apoia a luta oficialmente desde o começo do ano, quando protocolou seu próprio Projeto de Lei que proíbe o bisfenol A em qualquer produto fabricado e vendido em território nacional. Ainda no Congresso Nacional, um outro projeto do senador Gim Argello também busca proibir a substância química em mamadeiras e copos de bico.
O site O Tao do Consumo, que foi criado há 18 meses justamente para promover um debate público nacional sobre o tema do BPA, parabeniza a Anvisa pela sua acertada decisão e agradece ao Grupo de Estudos de Desreguladores Endócrinos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, regional São Paulo, pela parceria nesta luta que vem registrando importantes avanços nos últimos meses. Sabemos que a proibição em mamadeiras representa um primeiro passo para eliminar esse perigo que é o bisfenol A, mas com o apoio da SBEM-SP e a conscientização dos políticos e da população, estamos confiantes de que é uma luta que vale a pena.
Fonte: O Tao do Consumo, 15/09/2011.
7. Comissão da Câmara aprova convênio para presídio comprar produtos da agricultura familiar
A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural aprovou ontem o Projeto de Lei 669/11, do deputado Weliton Prado (PT-MG), que obriga os presídios a comprarem no mínimo 40% da sua demanda por alimentos de produtores da agricultura familiar.
O relator, deputado José Nunes (DEM-BA), acrescentou uma emenda para determinar que os presídios poderão celebrar convênios com órgãos responsáveis por programas de aquisição de alimentos da agricultura familiar. O objetivo é facilitar a operação de compra dos produtos.
O deputado destacou a importância do projeto para os pequenos agricultores. “A medida dinamiza o setor ao promover a criação de emprego e renda”, afirmou. Nunes acrescentou que a compra direta elimina os custos associados à participação de terceiros no processo de comercialização, com benefícios para as administrações prisionais e os produtores rurais.
Tramitação
A proposta, que tramita em caráter conclusivo, será analisada ainda pelas comissões de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Íntegra da proposta: PL-669/2011
Fonte: Agência Câmara de Notícias, 15/09/2011.
A alternativa agroecológica
Convivência com as pragas do algodoeiro no Curimataú paraibano
A Cultura do Algodão é historicamente uma cultura importante para o nordeste brasileiro, sendo responsável por grande parte da renda gerada na região, especialmente no semiárido, chegando a ocupar cerca de 50% de sua mão de obra e utilizar uma área de 3,1 milhões de hectares.
Cultivado tradicionalmente em policultivos, o algodão arbóreo era plantado junto com uma diversidade de espécies: era consorciado com as leguminosas feijão-de-corda (Vigna unguiculata) e feijão-de-arranque (Phaseolus vulgaris) e, na roça, era intercalado o milho, o jerimum, o cará, a macaxeira, entre outras espécies alimentares. O sistema de plantio e o próprio algodão arbóreo integravam uma estratégia multifuncional, característica da agricultura familiar: as leguminosas promoviam o aporte de nitrogênio ao sistema, as ramas (folhas verdes) do algodão eram utilizadas como alimento para os animais; das sementes era extraído o azeite empregado nos candeeiros; e a torta do algodão, alimento de qualidade, era fornecido às vacas de leite. Além disso, o sistema prestava um importante serviço ambiental na medida em que as fileiras de algodão arbóreo, que chegavam a atingir cinco a sete metros de altura, funcionavam como uma cortina quebra-ventos, promovendo a economia da água do sistema.
Porém, após a década de 1980, devido a mudanças políticas e econômicas, a decadência da cultura no país impactou fortemente a região, tanto em termos sociais quanto ambientais. Por um lado, o mercado ficou ruim para boa parte dos agricultores, mas mesmo assim muitos continuaram plantando ou mantendo suas culturas, visto que elas proviam renda monetária e também autossuficiência em vários aspectos. Por outro lado, as profundas mudanças de natureza técnico-agronômicas incorporadas pela lógica da revolução verde adotada pela agricultura brasileira levaram a uma ruptura nos sistemas tradicionais de cultivo do algodão no semiárido brasileiro: as espécies herbáceas, menos adaptadas ao clima semiárido, acabavam tendo seu cultivo associado a um pacote tecnológico, que aumentava os custos de produção e demandava o plantio em monocultivos, aumentando as populações de pragas do algodão, em especial a do bicudo (Anthonomus grandis).
Em busca de alternativas ao sistema monocultural de plantio do algodão e de alternativas de manejo do bicudo, técnicos da Embrapa e das ONGs Arribaçã e AS-PTA identificaram, em 2004 e 2005, as iniciativas e soluções desenvolvidas pelos agricultores da região do Curimataú paraibano. Através da Metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo, foram identificadas as estratégias implementadas por estes agricultores, buscando-se entender os mecanismos ecológicos que permitiam a convivência com os insetos-praga.
Uma das estratégias adotadas pelos agricultores é o aumento do espaçamento do plantio. Utilizando o espaçamento de 1,10mx0,40m, ao invés do indicado pela Embrapa (1,00mx0,20m), as condições ecológicas da lavoura são alteradas, propiciando uma maior mortalidade natural do bicudo. Além disso, o aumento do espaçamento entre as linhas do plantio permite o consórcio com culturas alimentares (feijões e coentro), a colheita manual e facilita os tratos culturais (capina, catação de botões florais, amontoa e aplicação de defensivos naturais).
Outra estratégia adotada pelos agricultores é o atraso do plantio. Apesar da recomendação oficial para que o plantio aconteça no início das chuvas (abril), estes agricultores iniciam o plantio apenas entre a segunda quinzena de maio e a primeira quinzena de junho. Com isso, o desenvolvimento do algodão (floração e frutificação) ocorre após os meses de junho e julho, que devido à menor temperatura do ano, é a época de maior incidência do bicudo. Mais integrada com a lógica de funcionamento da unidade produtiva familiar, esta estratégia, desenvolvida pelos agricultores, permite o melhor aproveitamento da mão de obra disponível no tempo, visto que, com ela, a colheita passa as ser feita no fim das chuvas, quando a disponibilidade de mão de obra é maior.
Aliada ao maior espaçamento e à mudança da época de plantio, a rotação de culturas, a utilização como forragem dos restos culturais do algodão, a consorciação com coentro, feijão, sorgo e girassol e a catação de botões florais complementam o grupo de estratégias de convivência com o bicudo empregadas nos roçados de algodão das famílias agricultoras.
Com solos em acentuado grau de degradação, outro desafio encontrado pelas famílias do Curimataú para o cultivo do algodão é a incidência de formigas cortadeiras. A solução veio das trocas de experiências, viagens de intercâmbios com outros agricultores da região e de outros estados: entre as práticas experimentadas e disseminadas destacam-se a utilização de folhas nim (Azadirachta indica) sobre os formigueiros e nos caminhos das formigas; o emprego de folhas de maniçoba (Manihot glaziowii Mull.) como isca para despistar as formigas das culturas plantadas; a utilização da água do agave (Agave sisalana Perrine) resultante do processo de beneficiamento da planta; e a utilização da manipueira fresca (no máximo dois dias após o beneficiamento da mandioca).
A experiência do cultivo de algodão sem veneno começou a ser articulada a partir de um grupo de agricultores do Assentamento Queimadas, no município de Remígio (PB), e de uma família do município de Solânea. O interesse se deu inicialmente pela preocupação com a saúde das famílias e com a necessidade de produzir com baixos custos. Com o tempo e a evolução das experiências, as famílias envolvidas começaram a valorizar também os aspectos relacionados à sustentabilidade ambiental e financeira do conjunto de seus lotes.
Além das organizações que deram início à experiência, essa atividade, denominada Projeto Escola Participativa do Algodão, conta atualmente com a participação de sindicatos de trabalhadores rurais, dos escritórios da Emater dos municípios de Remígio e de Casserengue, assim como de associações comunitárias. Estão diretamente envolvidas na experiência 50 famílias de agricultores de assentamentos e comunidades dos municípios de Remígio, Casserengue, Solânea e Juarez Távora.
Em um seminário sobre algodão agroecológico do Nordeste, realizado no segundo semestre de 2006, em Lagoa Seca (PB), foi criada uma rede destinada a favorecer intercâmbios dos ensinamentos técnicos e de acesso a mercados que vêm sendo construídos pelos diferentes grupos envolvidos na produção agroecológica do algodão.
Assim com para o caso das formigas, as estratégias preventivas para a convivência com o bicudo empregadas pelos agricultores no Curimataú são hoje referendadas em diversas publicações científicas. Resultado do aprendizado coletivo e da troca de conhecimentos entre agricultores experimentadores, o principal aprendizado foi o de que o objetivo do manejo não é o de eliminar por completo as formigas ou o bicudo, mas saber conviver com eles.
Entre outros aspectos relevantes, estas experiências demonstram que não é necessário o uso de técnicas de alto risco ambiental e elevado custo, tais como a transgenia, para que os agricultores possam conviver com os insetos-praga, e oferecem importantes pistas a pesquisadores, técnicos e agricultores para que novas pesquisas e experimentações sejam realizadas.
Fonte: Agroecologia em Rede.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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