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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Revista Veja sai em defesa dos agrotóxicos
Número 569 – 13 de janeiro de 2012
Car@s Amig@s
A revista Veja da última semana publicou uma matéria buscando “esclarecer” os brasileiros sobre os alegados “mitos” que vêm sendo difundidos sobre os agrotóxicos desde a divulgação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no início de dezembro último, dos dados do PARA – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos referentes ao ano 2010. A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa.
Os entrevistados são todos conhecidos defensores dos venenos agrícolas, em sua maioria professores universitários, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo – como é o caso do Prof. José Otávio Menten, da ESALQ/USP, em Piracicaba, que já foi diretor executivo da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), que reúne as empresas fabricantes de veneno (vínculos como esses não são explicitados na matéria). A única exceção entre os entrevistados é Luiz Cláudio Meireles, gerente geral de toxicologia da Anvisa, cuja fala aparece imediatamente contestada por outro especialista.
A revista começa por afirmar que chamar os venenos da agricultura de “agrotóxicos” seria uma imprecisão ultrapassada e injustamente pejorativa, alertando os leitores que “o certo” seria adotar o termo (supostamente mais técnico) “defensivos agrícolas”. Não menciona que a própria legislação sobre a
matéria (tanto a lei federal 7.802/89 como todas as leis estaduais) refere-se aos produtos como agrotóxicos mesmo – uma denominação de fato precisa e importante para alertar os manipuladores dessas substâncias dos ricos que apresentam.
A matéria passa então para a relativização dos resultados apresentados pelo relatório do PARA, elaborado pela Anvisa, fundamentalmente minimizando a gravidade da presença de resíduos de agrotóxicos acima dos limites permitidos. Para isso, cita especialistas alegando que os limites seriam “altíssimos”, e que, portanto, quando “um pouco ultrapassados”, não representariam qualquer risco para a saúde dos consumidores.
A verdade, lamentamos dizer, é que a ciência que embasa a determinação desses limites é imprecisa e fortemente criticada. Evidência disso é o fato de os limites comumente variarem ao longo do tempo – à medida que novas descobertas sobre riscos relacionados aos produtos são divulgadas, os limites tendem a ser diminuídos. Os limites “aceitáveis” no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa (isso pra não dizer que aqui ainda se usa produtos já proibidos em quase todo o mundo).
A revista também relativiza os riscos de longo prazo para a saúde dos consumidores, bem como os riscos para os trabalhadores expostos aos agrotóxicos nas lavouras. Segundo a Veja, não haveria comprovações científicas nesse sentido (ora, seria desnecessário dizer que o que não falta são referências científicas relacionando a exposição aos agrotóxicos aos mais variados agravos de saúde).
A reportagem termina tentando colocar em cheque as reais vantagens do consumo de alimentos orgânicos. Apresenta afirmações confusas sobre os elementos químicos como o enxofre ou sua formulação na calda bordalesa, ou fertilizantes a base de sulfato de potássio, permitidos na agricultura orgânica, e questiona a eficácia dos sistemas de certificação de produtos orgânicos. Por fim, menciona os “riscos” do consumo de orgânicos, que “podem ser contaminadas por fungos ou por bactérias como a salmonela e a Escherichia coli.” Só não esclarece que, ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos – que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento.
Da revista Veja, sabemos, não se poderia esperar nada diferente. Trata-se do principal veículo de comunicação da direita conservadora e dos grandes conglomerados multinacionais no País. Mas podemos destacar que publicação desse suposto “guia de esclarecimento” revela que o alerta sobre os impactos do modelo da agricultura industrial está se alastrando e informações mais independentes estão alcançando cada vez mais setores da população – ao ponto de merecerem tentativa de desmentido pela Veja e pela indústria.
Mudança de normas para esconder contaminação
O Ministério da Agricultura vem se movimentando no sentido de reverter ou minimizar o mal estar gerado, ano após ano, com divulgação pela Anvisa dos dados de contaminação dos alimentos por agrotóxicos.
Uma das irregularidades recorrentemente encontradas é a presença de resíduos de venenos não autorizados para as culturas em questão. Trata-se, na maioria dos casos, de agrotóxicos autorizados para grandes culturas como soja, milho ou algodão, que são utilizadas irregularmente em hortaliças como o pimentão ou o morango – as chamadas minor crops (em inglês, culturas menores).
Matéria publicada hoje (13/01) pelo Valor Econômico mostra que o Ministério da Agricultura publicou norma buscando facilitar a extrapolação do registro de agrotóxicos autorizados para as grandes culturas para as culturas menores de mesma família botânica.
Luís Eduardo Rangel, coordenador-geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, afirmou ao Valor que já foram protocoladas cerca de 20 solicitações de extrapolação de registro e citou pedidos de empresas como a Syngenta, a Basf e a FMC. Segundo o coordenador, as primeiras aprovações são esperadas para março ou abril.
A medida lembra um pouco a imagem de empurrar a sujeira para baixo do tapete: em vez de se estimular os agricultores a adotar melhores práticas de manejo, regulariza-se a utilização de produtos químicos perigosos que, na prática, já são aplicados. Mais ou menos o que aconteceu com a soja transgênica no Brasil, que foi autorizada pelo governo porque já era um fato consumado, e não porque estudos científicos tivessem demonstrado sua segurança (estudos esses não realizados até hoje).
Como resultado da nova norma das minor crops, na próxima avaliação da Anvisa provavelmente teremos muito menos amostras de alimentos classificadas como insatisfatórias. Infelizmente, não estarão menos contaminadas.
Maiores informações sobre os agrotóxicos e sobre o Programa de Monitoramento da Anvisa podem ser encontradas no livro “Agrotóxicos no Brasil – um guia para ação em defesa da vida”, de Flavia Londres.
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Neste número:
1. Empresa é multada por omitir presença de transgênico em farinha
2. Cuscuz transgênico
3. União Europeia reabre debate sobre proibição de transgênicos
4. Marcha de Nova York a Washington: Queremos apenas um rótulo!
5. A Bayer continua matando abelhas em todo o planeta
6. Fungicida ameaça venda de suco de laranja brasileiro nos EUA
7. ADM demite mil. Cargill demitiu 2 mil
A alternativa agroecológica
A experiência do Grupo Agroextrativista do Cerrado com plantas medicinais
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1. Empresa é multada por omitir presença de transgênico em farinha
Produto teria 22% de milho geneticamente modificado, segundo o DPDC. Fabricante pode recorrer da decisão.
A empresa paranaense Zaeli Alimentos foi multada nesta quinta-feira (5) pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, por deixar de informar, no rótulo de sua farinha de milho, a existência de ingrediente transgênico.
A multa, de R$ 548 mil, deve ser depositada em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. A empresa pode recorrer da decisão.
Segundo o DPDC, a análise de laboratório confirmou a presença de 22% de milho geneticamente modificado na Farinha de Milho – Fubá Mimoso, fabricada pela Zaeli. O órgão do ministério da Justiça informa que, de acordo como Código de Defesa do Consumidor, “é obrigatório informar no rótulo do alimento a presença de mais de 1% de ingredientes transgênicos”.
Procurada pelo G1, a Zaeli Alimentos informou que estranha a decisão do DPDC e que irá recorrer da decisão. Segundo a empresa, os testes não seguiram os procedimentos legais. “Além disso, não foi dada a oportunidade de realização de uma contraprova do exame em questão”, afirma a companhia em nota.
Fonte: G1, 05/01/2012.
2. Cuscuz transgênico
Aumenta o leque de alimentos a base de milho rotulados como transgênicos no mercado. Nem o tradicional cuscuz nordestino escapa mais. Veja fotos do cuscuz transgênico da Quaker no blog Em Pratos Limpos e fique atento ao T dentro triângulo amarelo
nas embalagens dos produtos que consome.
3. União Europeia reabre debate sobre proibição de transgênicos
A Dinamarca apresentou em 19 de dezembro as principais linhas de sua política ambiental da próxima presidência da União Europeia, que voltará a debater a proibição dos polêmicos transgênicos, juntamente com a eficiência energética e a luta contra as mudanças climáticas.
A ministra do Meio Ambiente, Ida Auken, assinalou em entrevista coletiva que uma de suas prioridades será voltar a debater a possibilidade que cada país tenha mais liberdade para proibir o cultivo dos transgênicos.
A Comissão Europeia propôs no ano passado mudar as políticas sobre o assunto. Seis países aplicam restrições contra o cultivo – França, Grécia, Alemanha, Luxemburgo, Áustria e Hungria – enquanto que no outro extremo estão os sete membros que exploram comercialmente esses cultivos.
Espanha está no último grupo e é, concretamente, o país com maior superfície de transgênicos e o produtor de 80% do milho transgênico cultivado na União Europeia.
Auken adiantou que o debate será complicado, já que continua havendo uma minoria de países que bloqueiam a aprovação dessa medida e favoráveis a que decisões sobre estes produtos continuem sendo tomadas em nível comunitário.
Atualmente, na União Europeia pode-se cultivar dois tipos de transgênicos: uma linhagem de milho e outra de batata.
Outras prioridades da presidência dinamarquesa serão reforçar as infraestruturas energéticas e abordar questões como o conteúdo de enxofre nos combustíveis das embarcações.
Fonte: Estadao.com.br, 19/12/2011.
N.E.: Vale destacar que a batata transgênica autorizada para cultivo comercial na Europa não se destina à alimentação e sim ao uso industrial (como a fabricação de papel). Segundo dados da própria indústria, em 2010 foram cultivados apenas 245 hectares dessa variedade. Ainda conforme os dados da indústria, o milho transgênico europeu está fortemente concentrado na Espanha (84%), onde ocupava, em 2010, 24% da área plantada com milho. Em 2010, a área total de milho transgênico na Europa não chegou a 100 mil hectares.
4. Marcha de Nova York a Washington: Queremos apenas um rótulo!
Terminou em 21 de dezembro de 2010 a marcha Right2Know (Direito de Saber), quando manifestantes chegaram à Casa Branca, em Washington (EUA) exigindo a rotulagem dos alimentos produzidos a partir de ingredientes transgênicos. Os manifestantes caminharam de Nova York até Washington e, após chegarem à Casa Branca, dirigiram-se para a manifestação que aconteceu nos arredores do Parque Lafayette, onde ouviam-se os gritos “Queremos apenas um rótulo”.
Leia mais sobre a manifestação, sobre as sementes transgênicas e sobre a Monsanto em DW-WORLD.DE.
5. A Bayer continua matando abelhas em todo o planeta
Enquanto a companhia alemã Bayer continuar fabricando e vendendo agrotóxicos neonicotinóides, populações de abelhas no mundo todo serão mortas.
“É responsabilidade da Bayer o fenômeno conhecido como transtorno do colapso de colônias (CCD)” – problema da mortalidade de colônias de abelhas – declaram os membros da Coalizão contra os perigos da Bayer, um grupo com sede na Alemanha.
Philipp Mimkes, porta-voz do grupo, revelou que o imidacloprido (Gaucho) e a clotianidina (Poncho) são os inseticidas mais vendidos da Bayer, apesar destes produtos, conhecidos como neonicotinóides, estarem ligados à morte de colônias de abelhas.
Em 2010, as vendas do Gaucho alcançaram a cifra de US$ 820 milhões e do Poncho US$ 260 milhões. Gaucho ocupa o primeiro lugar entre os agrotóxicos vendidos pela Bayer, enquanto o Pancho está em sétimo lugar. “Esta é a razão da Bayer, apesar dos graves prejuízos ambientais, lutar com unhas e dentes contra qualquer proibição na aplicação dos neonicotinóides”, afirma Mimkes.
Na Europa, em vários países o uso dos neonicotinóides foram proibidos. Na Alemanha, Itália, França e Eslovênia o Gaucho foi proibido no tratamento das sementes de milho, que é sua principal aplicação. No entanto, sua utilização é livre em vários países, incluindo os EUA, onde desde 2006, um terço da população de abelha já morreu.
As abelhas polinizam mais de 70 entre as 100 culturas que fornecem 90% de alimentos do mundo. Entre frutas e vegetais, estão, por exemplo, as maçãs, laranjas, morangos, cebolas e cenouras. O declínio na população de abelhas tem efeitos devastadores para a segurança alimentar e é meio de subsistência dos agricultores. Além disso, pode afetar o valor nutricional e a variedade de nossos alimentos.
Um estudo recente das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) descreveu que os pesticidas da Bayer imidacloprido e clotianidina colocam em risco diversos animais como gatos, peixes, ratos, coelhos, pássaros e minhocas. “Os estudos de laboratório demonstraram que estes produtos químicos podem causar a perda de direção, afetar a memória e o metabolismo cerebral e levar à mortandade”, revela o informe da Pnuma.
Devido ao seu alto grau de persistência, os neonicotinóides podem permanecer no solo durante vários anos. Os cultivos onde foram utilizados agrotóxicos anteriormente podem levar as toxinas para o solo através de suas raízes.
Pressão para deter os neonicotinóides
Segundo Mimkes, o grupo “está fazendo campanha contra os neonicotinóides desde 1997, quando os riscos ainda eram praticamente desconhecidos pelo grande público. É preciso pressionar para que a Bayer pare a fabricação e comercialização desses pesticidas, que são responsáveis pelos danos causados ao meio ambiente e por prejuízos econômicos.
A novidade mais importante é que hoje em dia há milhares de informações, artigos e estudos do mundo todo sobre a correlação da exposição aos agrotóxicos, tais como os imidacloprido e clotianidina, e o declínio geral das abelhas.
Os ativistas recolheram 1,2 milhões de assinaturas para exigir que a clotianidina fosse retirada do mercado e elas foram apresentadas ao diretor geral da Bayer durante uma reunião de acionistas. O abaixo-assinado foi em função de uma nota interna dos EUA – agência de proteção ambiental (EPA) – que confirmou o risco que o agrotóxico representa para as abelhas e descreve que a Bayer apresentou estudos insuficientes.
Em 2003 a EPA solicitou que a Bayer apresentasse um estudo do ciclo de vida e os efeitos da clotianidina sobre as abelhas. A Bayer pediu mais tempo para terminar a pesquisa, continuou vendendo o produto e somente em 2007 apresentou o estudo.
Um memorando vazado diz que a EPA concedeu permissão a Bayer para realizar estudo sobre o óleo de canola, em vez do milho, uma distinção crucial já que a canola é um cultivo menor em comparação ao milho. Os testes foram realizados em terrenos pequenos e próximos uns aos outros.
Extraído e adaptado de: Coalizão Contra os Perigos da Bayer, 23/12/2011 (via Em Pratos Limpos).
6. Fungicida ameaça venda de suco de laranja brasileiro nos EUA
O anúncio de que os Estados Unidos detectaram um fungicida em suco de laranja importado do Brasil gerou temores de que as vendas do produto brasileiro possam ser afetadas em seu principal mercado no exterior.
Segundo a Agência Americana de Drogas e Alimentos (FDA, na sigla em inglês), uma empresa americana detectou baixas quantidades do fungicida carbendazim em suco de laranja concentrado comprado do Brasil.
O uso da substância é proibido em produtos cítricos nos EUA, mas é permitido no Brasil e empregado no combate à “pinta-preta”, um tipo de fungo comum em pomares de laranja. A FDA afirmou que os níveis de carbendazim detectados não eram nocivos à saúde e que não pretendia fazer um recall do produto brasileiro, mas que intensificaria os testes e bloquearia todos os carregamentos que apresentassem altas quantias do fungicida. A agência não determinou, no entanto, qual será o limite tolerado do produto.
Em nota, a Associação Nacional de Exportadores de Cítricos (CitrusBR) afirmou que a utilização do carbendazim é permitida no Brasil e nos outros principais mercados consumidores do suco brasileiro (União Europeia, Japão e Canadá), e que os EUA aceitam o uso do fungicida em vários outros produtos alimentícios.
Segundo a assessoria de imprensa da associação, os produtores brasileiros estão em contato com a FDA para se adequar às normas americanas, sem que haja a interrupção nas vendas. A CitrusBR diz ainda aguardar que a FDA defina um nível máximo de carbendazim para o suco de laranja. (…)
Fonte: BBC Brasil, 11/01/2012.
7. ADM demite mil. Cargill demitiu 2 mil
A Archer Daniels Midland (ADM), uma das maiores companhias de agronegócio do mundo, anunciou que vai cortar em 3% sua força de trabalho nos países em que atua, o que significará a eliminação de 1.000 empregos.
A CEO da companhia, Patricia Woertz, afirmou que a medida é necessária para manter a competitividade da empresa no mercado. “Essas ações vão nos ajudar a ampliar nossa produtividade e nossa capacidade de gerar ganhos”, disse a executiva. Para ajudar a atingir essa redução, a ADM vai oferecer um programa de aposentadoria voluntária. Quando totalmente implantado, o programa deve resultar na redução das despesas anuais da empresa (antes de impostos) em mais de US$ 100 milhões.
O anúncio da ADM acontece um mês depois que a também americana Cargill anunciou corte de 2 mil pessoas, o equivalente a 1,5% de sua força de trabalho global.
Valor Econômico, 12/01/2012 (via IHU Unisinos).
A alternativa agroecológica
A experiência do Grupo Agroextrativista do Cerrado com plantas medicinais
O trabalho com plantas medicinais é um dos grandes destaques do Grupo Agroextrativista do Cerrado. O coletivo é constituído por 12 famílias agricultoras residentes no assentamento agroextrativista “Americana”, no município de Grão Mogol, norte de Minas Gerais.
Seu João Altino Neto, um dos membros do grupo, deve ao pai, de quem herdou a tradição de “raizeiro”, o grande conhecimento que tem das plantas medicinais do Cerrado. Maria Elei Souza, atual presidente do grupo, também já tinha adquirido muitos conhecimentos em um curso promovido no município de Porteirinha pela Associação Casa de Ervas Barranco de Esperança e Vida (ACEBEV), há cerca de 13 anos.
Quando a terra do assentamento foi conquistada, há cerca de seis anos, estes agricultores começaram a organizar o grupo para, entre outras atividades, manejar, coletar e produzir plantas medicinais para a fabricação artesanal de remédios. À ocasião, além dos agricultores, outros dois raizeiros do assentamento foram identificados e aderiram à iniciativa.
Mas embora houvesse entre os agricultores muitos conhecimentos sobre as propriedades medicinais das plantas da biodiversidade local, foi através da assessoria de Honório Dourado, técnico do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), que eles aprenderam técnicas de processamento das ervas para a fabricação de tinturas, xaropes, pomadas, chás, além de cuidados com a coleta e a secagem das plantas. Novas propriedades farmacêuticas de diversas plantas também foram aprendidas, tanto com Honório como nos diversos eventos dos quais membros do grupo têm participado.
O trabalho com plantas medicinais é todo feito de forma coletiva pelo grupo: desde a coleta das plantas “no mato” até o processamento e envase. Através de projeto aprovado com a ajuda do CAA-NM, conseguiram comprar equipamentos como armário, caldeirão, tacho, vidros, isopor, botas, luvas e toucas. Além da extração de nativas, cujo cronograma também é organizado coletivamente, as famílias cultivam diversas espécies de ervas medicinais.
Entre as plantas nativas coletadas no assentamento estão a cagaita, pau-terra, carqueja, salva-vida, pacari, arnica, umburana, angico-vermelho, aroeira, barbatimão, malva-rosca, rufão, canguçu, velame-branco, carapiá, assa-peixe branco, jatobá do campo, quina-de-papagaio, violeiro, unha d’anta, alecrim-da-vargem, chá-podre, quina-de-vara, papaconha, raízes-de-perdizes, trucisco, barrigudinha, miroró, braço-forte, ruibarbo, gonçalo-alves, ipê-amarelo ipê-roxo, cura-olho e pequi.
Entre as plantas medicinais cultivadas estão 3 variedades de hortelã, poejo, capim-santo, erva-cidreira, alfavaca, alfavacão, alecrim, gergelim, girassol, calêndula, babosa, boldo-do-chile, arruda, chá-da-índia e sálvia.
Hoje o grupo produz mais de 40 tipos de remédios formulados, alguns dos quais combinando várias plantas medicinais.
Os remédios são usados pelas famílias que compõem o grupo e comercializados em feiras e encontros. Há também pessoas que vão ao assentamento para comprá-los diretamente dos agricultores.
Eles calculam que a comercialização dos medicamentos caseiros renda uma média de R$ 300,00 por mês, que são distribuídos entre as 12 famílias do grupo. Mas ressaltam que o lucro maior que têm é não mais gastarem dinheiro nas farmácias: muito raramente compram remédios industrializados.
Eles ainda destacam que o conhecimento adquirido e cultivado pelas famílias do grupo tem ajudado a preservar o cerrado. Por exemplo, na região usava-se tradicionalmente a raiz da arnica para fins medicinais. A planta tinha que ser arrancada para a obtenção da raiz e a espécie estava sumindo. Através dos cursos e intercâmbios os agricultores aprenderam a usar a parte aérea da planta e com isso a espécie está sendo preservada. Outro valor observado sobre o trabalho em grupo é que os conhecimentos sobre as plantas medicinais está sendo repassado para os filhos e familiares dos agricultores e difundido pela comunidade.
Em breve, tanto as plantas medicinais como as frutas também coletadas e produzidas pelo grupo começarão a ser processadas na Unidade Multiuso de Beneficiamento de Frutos do Cerrado, obra já em andamento viabilizada através de projetos aprovados com a Fundação Banco do Brasil, o Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS) e a Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço).
Fonte: Agroecologia em Rede, 2010.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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