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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Apesar de ineficaz, milho transgênico da Monsanto desenvolvido para tolerar seca é autorizado nos EUA
Número 572 – 03 de fevereiro de 2012
Car@s Amig@s,
No final de dezembro de 2011 o Departamento de Agricultura do governo dos EUA (USDA, na sigla em inglês) autorizou o plantio comercial de uma variedade de milho da Monsanto geneticamente modificada para suportar condições de seca.
O fato é de grande importância: trata-se da primeira autorização para uma variedade transgênica teoricamente envolvendo uma característica complexa. Ao contrário das plantas transgênicas já cultivadas, em que a inserção de um gene foi responsável pela expressão de uma característica (para citar o que há de fato no mercado: tolerância a herbicida e/ou produção de uma toxina inseticida), a tolerância à seca depende de um complicado processo envolvendo vários genes. E, na verdade, controlar processos complexos assim é algo que muitos cientistas consideram ainda estar longe do
alcance dos biotecnólogos.
Com efeito, tudo indica que o tal milho da Monsanto não funciona mesmo. A Avaliação Ambiental Final do USDA sobre o milho MON 87460, publicada em novembro de 2011, afirma que “Além disso, é prudente reconhecer que a redução de perda de produtividade da variedade MON 87360 não excede a variação natural observada em variedades regionalmente adaptadas de milho convencional (Monsanto, 2010). Assim, variedades de milho igualmente resistentes à seca produzidas através de técnicas convencionais de melhoramento genético estão prontamente disponíveis
e podem ser cultivadas no lugar da variedade MON 87460.” (p.33)
Ou seja, nas áreas do cinturão do milho dos EUA em que a deficiência hídrica ocorre, os melhoristas convencionais já desenvolveram variedades que toleram a falta de água tão bem quanto a variedade transgênica da Monsanto (observe-se que, em ambos os casos, trata-se de moderada falta de água).
A autorização para a comercialização da variedade modificada tão tolerante à seca quanto as similares convencionais que já existem poderia parecer inócua não fosse um pequeno detalhe: a empresa detém o quase monopólio do mercado de sementes. Desse modo, na prática, a introdução da
nova semente transgênica levará, invariavelmente, a duas situações: em primeiro lugar, as variedades convencionais tolerantes à seca já disponíveis, e que não são patenteadas e nem implicam no pagamento de royalties, logo não estarão mais tão acessíveis. Assim como tem acontecido não só nos EUA, mas em todos os países onde a empresa conseguiu impor sua tecnologia, as variedades convencionais vão sumindo do mercado, sendo ofertadas em seu lugar apenas as transgênicas – muito mais caras e com restrições de uso impostas pelas patentes. Em algumas regiões do próprio cinturão do milho americano os agricultores relatam que não conseguem comprar sementes de milho que não sejam Bt, ou seja, geneticamente modificadas para matar lagartas.
A segunda implicação da nova autorização é uma sutil derivação dessa primeira, relacionada à estratégia de marketing e relações públicas da empresa: à medida que a oferta de sementes tolerantes à seca se reduza à nova opção transgênica e, consequentemente, sua adoção se generalize, a Monsanto começará a anunciar o “sucesso” de sua tecnologia”: se não conferissem vantagens, os produtores não as adotariam maciçamente. Omite que a adoção maciça é decorrente justamente da falta de opções no mercado.
Essa situação também ajudará a Monsanto a rebater a crítica de que, passados quase vinte anos desde que as sementes transgênicas começaram a ser cultivadas, a chamada “engenharia genética” conseguiu consolidar apenas duas características agronômicas: a tolerância à aplicação de herbicidas, que beneficia basicamente as empresas de sementes e agrotóxicos e já começa a deixar de funcionar (há cada vez mais registros de espécies de mato capazes de driblar a tecnologia), e a produção, pelas lavouras, de toxinas inseticidas, cuja eficácia é passageira e altamente questionada (comumente a redução no uso de inseticidas acaba sendo negativamente compensada por outros problemas que começam a surgir). As famosas plantas transgênicas mais produtivas, mais nutritivas e, sobretudo, tolerantes aos solos salinos e à seca até hoje nunca saíram do discurso.
Bem… como acabamos de ver, estão começando a sair. E, funcionando ou não, a nova variedade, logo que adotada em alguma escala, permitirá à Monsanto alardear os supostos benefícios da biotecnologia para a produção de alimentos, ou, mais ainda, para a humanidade em tempos de mudanças climáticas.
Extraído e adaptado de:
USDA Greenlights Monsanto’s Utterly Useless New GMO Corn, byTom Philpott – Mother Jones, 23/01/2012.
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Na nota publicada pelo USDA em 21 de dezembro em que são divulgadas notícias relacionadas à regulamentação de produtos biotecnológicos consta também que o órgão deu início ao processo de autorização para o milho transgênico da Dow tolerante ao herbicida 2,4-D, ingrediente do famoso agente laranja, utilizado durante a Guerra do Vietnã para desfolhar florestas e cujas dioxinas provocaram milhares de mortes e o nascimento de mais de 500 mil crianças com sérias malformações.
No Brasil a CTNBio já autorizou, em junho de 2009, o plantio experimental da “soja laranja”, também da Dow e também tolerante ao 2,4-D.
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Neste número:
1. Poder corporativo
2. Embrapa quer transgênicos tolerantes a longas secas
3. Após bloqueio dos EUA, indústria do suco admite mudar fungicida
4. Aumenta venda de aviões no campo em 2011
A alternativa agroecológica
Controle alternativo de pragas e doenças
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1. Poder corporativo
Diagrama elaborado pela Geke.us revela os nomes de 15 representantes do alto escalão do governo norte-americano (atuais e passados) e suas fortes ligações com a Monsanto. A imagem elucida a estratégia adotada por empresas do ramo para influenciar o governo dos EUA e definir (ou derrubar) as regras e normas para o controle e avaliação de risco dos transgênicos. Para encobrir a “porta giratória”, através da qual altos executivos circulam entre cargos no governo e nas empresas, essas mesmas corporações investem rios de dinheiro em publicidade. Anunciam revoluções tecnológicas, novos produtos, grandes avanços científicos. De quebra se auto-intitulam empresas das “ciências da vida”.
2. Embrapa quer transgênicos tolerantes a longas secas
Após o grave problema da seca na região Sul, causado pelo fenômeno La Niña, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está acelerando os estudos genéticos para o desenvolvimento de variedades transgênicas de cana, soja e milho resistentes à estiagem prolongada.
A estatal quer se concentrar em 2012 nas pesquisas de aumento da produtividade dessas três culturas, que têm baixo rendimento em algumas regiões devido a características climáticas.
Os melhores resultados até agora foram conseguidos com a cana. “Dentre várias amostras testadas, uma delas já mostrou tolerância maior ao clima seco. Não é uma pesquisa de curto prazo, mas estamos fazendo progressos”, disse o diretor-presidente da estatal, Pedro Arraes, ao Valor. A preocupação do governo é aumentar a produção para evitar, no futuro, uma redução maior da oferta de etanol no mercado doméstico. (…)
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2012 (via Em Pratos Limpos).
N.E.: Lá vem de novo o marketing dos transgênicos salvadores em tempos de mudanças climáticas… Ainda que fosse possível encontrar um gene responsável pela resistência à seca, de que valeria a tecnologia se as práticas insustentáveis permanecessem?
3. Após bloqueio dos EUA, indústria do suco admite mudar fungicida
Os EUA barraram cinco cargas de suco de laranja brasileiro com teor acima do permitido de um produto usado para combater doenças nos pomares. O fungicida carbendazim é liberado no Brasil, mas não em solo americano. (grifo nosso)
A agência que supervisiona alimentos e remédios nos EUA (FDA) está recolhendo amostras de cargas de suco importadas desde o início do mês, após o alerta de uma empresa local sobre o fungicida.
De 80 cargas avaliadas, 11 apontaram a presença de carbendazim acima do limite de 10 partes por bilhão (ppb), ou 10 gramas do fungicida para mil toneladas de suco.
Dessas, cinco partiram do Brasil. Cada carga representa um navio, que pode transportar entre 15 mil e 40 mil toneladas do produto.
As outras seis cargas reprovadas são do Canadá, que compra suco do Brasil para revendê-lo após misturas.
No nível encontrado, o carbendazim não prejudica a saúde, mas em doses altas pode causar danos ao fígado.
Os importadores terão 90 dias para exportar ou destruir o produto rejeitado. Segundo a FDA, 29 cargas passaram no teste, sendo duas do Brasil.
Os testes continuarão para autorizar a entrada do suco no país. O mercado continua aberto para o Brasil, mas, na prática, poucas cargas poderão entrar no país, pois todos os produtores usaram o fungicida na última safra.
Diante da possibilidade de ter mais cargas detidas, a indústria brasileira foi aos EUA propor um limite maior para o fungicida, de 55 a 60 ppb. “Pedimos que o suco concentrado seja avaliado na mesma proporção que o suco consumido”, diz Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR (Associação dos Exportadores de Sucos Cítricos).
O setor também já admite a substituição do carbendazim por outra substância. “Mas precisamos de 18 meses para garantir que não haverá mais resíduos”, diz Lohbauer.
Sem divulgar estimativa para o impacto econômico dessa devolução, a indústria minimiza os efeitos do problema nos EUA, que em 2011 compraram US$ 344 milhões em suco brasileiro. “Eles representam 13% de nossas exportações”, diz Lohbauer.
Mas grandes indústrias brasileiras estão instaladas nos EUA, o que faz daquele país um mercado estratégico.
Além disso, muitos países seguem os americanos nesse tipo de decisão. Desde o início dos testes pela FDA, a CitrusBR tem sido procurada para prestar esclarecimentos. A União Europeia, principal destino do produto, é um dos mercados que avalia o tema.
“Os países serão cada vez mais exigentes em relação aos resíduos”, diz Maurício Mendes, presidente da Informa Economics FNP.
O mercado respondeu à devolução das cargas. Na contramão das demais commodities, o primeiro contrato de suco subiu 2% em Nova York.
Fonte: Folha de S. Paulo, 28/01/2012 (Via IHU-Unisinos).
4. Aumenta venda de aviões no campo em 2011
O bom momento vivido pelo campo esquentou os negócios na aviação voltada para o agronegócio. Os dados da Embraer mostram que a indústria obteve o quarto melhor ano de vendas nos 40 anos da empresa. Os aviões da Embraer são usados para a pulverização de lavouras. (…)
Em 2011, a Embraer vendeu 56 aviões do tipo Ipanema, destinados à pulverização. Desse número, 44 são movidos a álcool. O Ipanema ocupa 75% das vendas do mercado nesse segmento.
O pico de vendas tinha ocorrido em 1975 e 1976, quando a empresa havia comercializado 71 e 79 aeronaves. (…)
Fonte: Folha de São Paulo, 30/01/2012 (via Clipping Conab).
N.E.: Segundo diversas pesquisas realizadas pela Embrapa Meio Ambiente, em média apenas metade dos agrotóxicos pulverizados atinge o alvo. A parte que se perde no solo ou é carregada pelo vento pode comumente ultrapassar 70% do produto aplicado (Chaim, 2003). Esse fenômeno é chamado na agronomia de “deriva”: as micropartículas de veneno são carregadas pelo vento, às vezes a longas distâncias, e acabam contaminando áreas vizinhas, florestas, cursos d’água e até mesmo zonas residenciais.
Esses riscos justificariam a proibição total da pulverização aérea de agrotóxicos em âmbito nacional – a exemplo da União Europeia, onde a prática é proibida desde 2009.
A alternativa agroecológica
Controle alternativo de pragas e doenças
Conheças as cartilhas elaboradas pela PESAGRO-RJ com receitas e modo de uso de produtos alternativos para o controle de pragas e doenças:
DEFENSIVOS ALTERNATIVOS – 23p.
URINA DE VACA: ALTERNATIVA EFICIENTE E BARATA – 12p.
PRODUÇÃO DE TOMATE ORGÂNICO – 40p.
CONTROLE DE PRAGAS DE HORTAS E DE AMBIENTE DOMÉSTICO – 21p.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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