Durante muitos anos, o plantio do algodão foi uma das principais culturas geradoras de renda na região semiárida. Por ser uma planta que resiste a seca e se reproduz principalmente nos períodos do verão (estação seca), fez com que a produção fosse crescente em meados do Século XX. Porém, na década de 1980 com a chegada da praga do bicudo e da decadência dos mercados, o plantio de algodão na região reduziu drasticamente, levando muitos agricultores/as a abandonaram seus plantios.
Na Paraíba, o resgate da produção do algodão se deu a partir da observação e experimentação de agricultores familiares interessados em reintroduzir a cultura nos sistemas produtivos. A partir de pesquisas participativas e da iniciativa de Organizações Não governamentais, a exemplo da AS-PTA, Polo da Borborema e Arribaçã e instituições de pesquisa como a Embrapa Algodão, foi se estruturando uma rede de agricultores experimentadores do algodão agroecológico, na região da Borborema. Essa iniciativa estimulou também a criação da Rede Paraíba de Algodão Agroecológico que articula as outras regiões do Estado. Como parte das estratégias da Rede, os agricultores/as experimentadores/as tem se organizado para comercializar o algodão diretamente com as indústrias têxteis que tem como foco o trabalho com fibras orgânicas, conseguindo um preço mais compensador e de maior reconhecimento ao trabalho realizado.
A reintrodução do algodão agroecológico nos roçados da região do Polo da Borborema tem sido uma das formas de fortalecer a diversificação nos sistemas de produção familiar, possibilitando o aumento na renda e a garantia de colheita no período seco. A época do plantio é determinante para que a cultura do algodão se estabeleça. No caso da Borborema, os meses de Maio e Junho são os mais apropriados, pois as chuvas já diminuíram de intensidade e os solos ainda estão com um bom teor de umidade.
O manejo dos roçados com o algodão agroecológico tem como base a diversidade de culturas, para isso, é necessário que os agricultores/as adotem as práticas agroecológicas, como: a conservação do solo, o uso de adubação e de sementes orgânicas, aplicação de biofertilizantes enriquecido e caldas naturais, manejo ecológico de insetos, preparo do solo com tração animal, tratos culturais, capinas manual e capinas com bois de cultivadores, e colheita 100 % manual. Esse sistema de produção vem sendo aprimorado a cada ano, possibilitando o aumento na produção do algodão e das outras culturas do consórcio.
Os agricultores estimam que esse ano a colheita seja de aproximadamente 100 toneladas de algodão em rama, que serão comercializadas para as indústrias têxtil dos estados da Paraíba, Pernambuco e São Paulo. De acordo João Macêdo, Assessor Técnico da AS-PTA na Paraíba, o algodão plantado pelos agricultores do Polo da Borborema tem sido reconhecido internacionalmente. Certificado pelo Instituto Biodinâmico de São Paulo (IBD), o algodão agroecológico tem recebido os selos orgânicos Brasil (BR), Europa (EU) e o selo NOP (EUA), maior nível de qualidade do algodão. Devido, as certificações, muitos agricultores da região tem tido um acréscimo de até 20% no preço final, gerando conseqüentemente um aumento significativo em suas rendas.
Os mais de 50 agricultores que fazem parte do processo de plantio do algodão agroecológico são estimulados a participar de intercâmbios para a troca de experiências, reuniões de preparação para implantação das áreas de plantio, participação em seminários de âmbito Regional e Internacional, aprimorando os debates sobre a produção e comercialização. As experiências práticas contribuem para que os agricultores/as se sintam estimulados a produzir com qualidade e conseguir preços justos pela produção. Esse é um trabalho que vem dando certo e propiciado aos agricultores/as familiares do semiárido uma perspectiva de voltar a produzir o algodão em um novo modelo que permite a integração entre mercado e família, assim como, uma produção com base nos princípios da agroecologia.