O seminário ocorrerá em Curitiba (PR), entre os dias 9 e 12 de novembro, integrando a programação do VI Congresso Brasileiro e do II Congresso Latino-Americano de Agroecologia, e este ano será promovido por uma parceria inédita entre a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e a Emprapa, que proporcionou os recursos para viabilizar deslocamentos e acomodações dos participantes.
Enquanto instituição científica, a ABA-Agroecologia tem assumido como parte de sua missão a identificação, o acompanhamento, a difusão e a interação dos métodos voltados à construção do conhecimento agroecológico que vêm sendo aplicados em escolas das ciências agrárias, cursos técnicos e de pós-graduação, instituições de pesquisa agrícola e assistência técnica e extensão rural (Ater). Já a ANA, por sua característica de congregar os setores da sociedade civil organizada, atua mais no campo da incidência política. Por meio de seu Grupo de Trabalho (GT) de Construção do Conhecimento Agroecológico, vem buscando influenciar a criação de políticas públicas que fomentem a incorporação e a disseminação da perspectiva agroecológica nas instituições de educação, pesquisa e Ater. A Embrapa, enquanto órgão governamental, veio fortalecer essa parceria por meio de seu projeto Rede Transição Agroecológica, mostrando que a combinação sociedade civil, instituições de ensino e governo pode ser decisiva para a consolidação da Agroecologia como enfoque orientador de um novo projeto de desenvolvimento rural para o Brasil.
A motivação desta terceira edição do seminário está na constatação de que, embora já exista um número bastante expressivo de iniciativas em instituições de ensino, pesquisa e Ater cujos conceitos e métodos de ação seguem os princípios da Agroecologia, grande parte delas vem se desenvolvendo de forma muito isolada entre si. Diante disso, como forma de dar sequência ao esforço de identificar e apoiar a sistematização de experiências significativas de construção do conhecimento agroecológico, a ABA-Agroecologia vê no seminário uma oportunidade de favorecer a interatividade entre os grupos envolvidos nessas iniciativas (tanto os profissionais da educação, da pesquisa e da Ater como agricultores e agricultoras familiares).
Outra novidade deste ano foi a descentralização do processo preparatório do evento, que contou com seis comissões regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, Amazônia Oriental e Amazônia Ocidental). Cada região ficou encarregada de selecionar 12 experiências concretas que ilustrassem avanços significativos na articulação entre instituições científico-acadêmicas, sejam elas governamentais ou não, e organizações de agricultores familiares e camponesas. Um representante de cada uma das experiências (totalizando 72 no país) participou de uma oficina de capacitação sobre sistematização, de modo a nivelar e padronizar as informações que mais tarde seriam apresentadas nos seminários regionais. Essas apresentações levaram a um rico debate sobre como as diversas práticas e métodos de construção do conhecimento agroecológico estão progredindo, assim como quais as suas fragilidades e desafios. Após os seminários regionais, cada comissão indicou duas experiências mais significativas para serem apresentadas no seminário nacional.
Segundo Paulo Petersen, da AS-PTA e um dos membros de diretoria da ABA e da coordenação do GT de Construção do Conhecimento Agroecológico da ANA: O seminário será um espaço de análise da situação com base em experiências concretas. Um dos critérios para a seleção dessas experiências foi a efetiva participação das famílias agricultoras. Afinal, queremos ressaltar justamente as iniciativas de parceria, de verdadeiro diálogo de saberes, principal eixo da Agroecologia.
A experiência do Pólo da Borborema foi uma das escolhidas pela Comissão do Nordeste e retrata como a rede de agricultores experimentadores vem protagonizando e aprimorando suas práticas ao interagir com diversas instituições, como a AS-PTA, principal assessora, a Embrapa algodão, a UFPB e a UFPE. A ideia é demonstrar como a metodologia de troca de agricultor a agricultor, por meio de sistematizações, produção de boletins e promoção de visitas de intercâmbios, está sendo fortalecida por essa parceria do Pólo com instituições acadêmicas e assessoras nos últimos dez anos. Além das 12 selecionadas no Brasil, o evento contará com quatro experiências de países latino-americanos, mais uma novidade em relação às edições anteriores e que abre a expectativa de uma maior integração regional.
Outro instrumento que visa consolidar esse movimento de aproximação entre os países latino-americanos é o Agroecologia em Rede (www.agroecologiaemrede.org.br). Trata-se de um banco de dados de experiências agroecológicas, que primeiramente era alimentado por iniciativas brasileiras. Agora o banco foi adaptado para receber informações de outros países, apresentando inclusive uma versão em espanhol.
Isso faz parte de nossa estratégia de identificação de experiências agroecológicas, que a partir de agora será ampliada para outros países da América Latina, por meio do convite feito pela ABA à Sociedade Latino-Americana de Agroecologia (Socla). Para se ter uma ideia, a partir desse instrumento, já conseguimos verificar que existem no Brasil quase 100 cursos oficiais de enfoque agroecológico, do nível técnico ao doutorado. É um grande mutirão que visa fazer um mapeamento das experiências, com o objetivo de fomentar a troca e o aprendizado mútuo entre os diversos atores participantes, explica Paulo Petersen.
As experiências cadastradas no sistema Agroecologia em Rede não precisam estar sistematizadas. O usuário tem apenas que preencher informações básicas, como localização, atores dos envolvidos, temas trabalhados, etc. A proposta é que a identificação e sistematização com base em experiências concretas seja uma lógica também adotada pela Socla, de modo a formar um fórum interativo e em permanente atualização que não dependa só de eventos presenciais.
O seminário será um momento oportuno para reflexão sobre os caminhos abertos pela perspectiva agroecológica rumo a um novo projeto de desenvolvimento rural para a América Latina. E as experiências concretas identificadas e sistematizadas comprovam que o conhecimento agroecológico não se produz, mas se constrói, conclui Paulo Petersen.
O III SNCCA também será marcado pelo lançamento da edição especial da Revista Agriculturas, com o tema “Agricultura Familiar Camponesa na construção do futuro”, que em breve estará disponível em versão on-line na página http://www.agriculturas.leisa.info/.
Para saber mais sobre o VI CBA e o II CLA, acesse
http://www.agroecologia2009.org.br/.
Para obter mais informações sobre a Associação Brasileira de Agroecologia, visite http://www.aba-agroecologia.org.br/.
Contato: [email protected]