A ocasião é de resgate e valorização da importante contribuição das famílias camponesas para a diversidade das sementes, moedas de um patrimônio genético que por séculos foi cultivado, selecionado, aprimorado e ajustado às realidades ecológicas locais e às preferências culturais. A festa é o momento de reverenciar esse incessante processo de estudo e seleção, que sem dúvida concede autonomia às famílias no uso de suas sementes, na produção de alimentos e na geração de riquezas.
A realização da festa é ainda de enorme relevância em função da atual conjuntura, em que os riscos de contaminação e de erosão genética desse patrimônio aumentam, seja pela liberação de variedades comerciais de milho e de algodão transgênico ou pela distribuição de poucas variedades de sementes pelos programas governamentais, o que gera a indesejável homogeneização.
Foi diante desse contexto que a ASA Paraíba decidiu dividir o encontro em dois momentos. No primeiro dia, 18 de março, em Lagoa Seca, cerca de 200 agricultoras e agricultores participarão de uma oficina de formação, que tem como objetivo abrir um espaço para a construção coletiva de uma critica ao conjunto de forças e fatores que ameaçam a agrobiodiversidade e a autonomia das famílias agricultoras. Nesta edição, o foco será os efeitos da introdução dos transgênicos no Mundo e no Brasil, com ênfase no impacto sobre o semiárido. Por meio de um mapeamento do trabalho realizado junto a famílias guardiãs das sementes, será feita uma avaliação e seleção das melhores variedades locais de milho.
Também será tema de debate e reflexão o conjunto das políticas de sementes incidentes sobre o semiárido. A ideia é elaborar estratégias comuns para enfrentar essas ameaças a partir de trabalhos em grupos representando cada região. Ao final, os grupos socializarão as propostas que servirão de base para definir prioridades para 2010.
O coordenador do Programa Paraíba da AS-PTA, Luciano Silveira, expõe os principais objetivos do evento: A importância de momentos como esse é fazer com que as famílias agricultoras resgatem e valorizem seu papel de guardiãs de um vasto patrimônio genético, que está sendo ameaçado por uma campanha para a disseminação de variedades transgênicas no País. Ao optarem por práticas agroecológicas e de preservação das sementes tradicionais, essas famílias formam um movimento de resistência em defesa da agricultura familiar camponesa, que luta por um modelo de desenvolvimento mais justo e ambientalmente sustentável. Prova disso, é o número de bancos de sementes familiares e comunitários que não para de crescer em toda a Paraíba, o que garante maior autonomia às famílias, que não precisam ficar comprando sementes e outros insumos a cada safra.
No dia seguinte, 19 de março, em Campina Grande, será celebrado por todos os participantes da festa o dia de São José, aguardado com ansiedade e devoção por agricultoras e agricultores de todo o semiárido paraibano por ser o prenúncio do inverno. Nesse dia, procuram o céu para ver se o tempo será seco, nublado, chuviscado ou molhado, elementos fundamentais do cálculo da meteorologia tradicional para saber se as chuvas virão em abundância ou não. E, depois de ler o tempo, as famílias agricultoras de todo Nordeste plantam o milho no dia de São José para comemorar a safra no dia de São João.
A data do padroeiro não poderia ser mais propícia para realizar a caminhada Em defesa da Agricultura Familiar Camponesa: por uma Paraíba Livre de Transgênicos e Agrotóxicos. Durante a marcha, serão distribuídos panfletos como forma de sensibilizar os consumidores quanto aos riscos à saúde e à soberania alimentar decorrentes da liberação das sementes transgênicas, de propriedade de um número reduzido de grandes empresas transnacionais. Haverá também a montagem da Feira de Sementes, Saberes e Sabores, fazendo alusão à toda riqueza proporcionada pelas sementes locais, que se traduz em valioso conhecimento transmitido de geração para geração. Será um momento de celebração, resistência e afirmação do modelo de produção camponês baseado na Agroecologia.
Após a caminhada, será realizado um Ato Público, com diversas atividades, como teste de contaminação de cultivos tradicionais por sementes transgênicas, depoimentos de agricultores, dramatização sobre os riscos à saúde das famílias e dos consumidores e falas de representantes de órgãos governamentais. No encerramento será feito um gesto simbólico de bênção das sementes.
A expectativa é que a Festa sensibilize gestores públicos e a sociedade quanto ao direito de milhares de famílias agricultoras a continuar preservando e manifestando sua paixão pelas sementes tradicionais, por sua terra, pela Natureza, pela biodiversidade e por sua autonomia.