A cidade de Esperança, no agreste da Paraíba, parou neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, para assistir a III Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, realizada na manhã de hoje pelas agricultoras ligadas aos sindicatos e organizações que compõem o Polo da Borborema. A marcha reuniu mais de 1500 mulheres da região.
A concentração ocorreu em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança, no centro da cidade. Antes de sair em marcha, as mulheres assistiram ao espetáculo “A vida de Margarida – parte II”, encenado pelos atores e atrizes do Grupo de Teatro do Polo da Borborema. A peça mostrou em sua primeira parte, as situações de violência vividas por Margarida dentro da sua própria família, encenada na segunda edição da Marcha em 2011. Desta vez, a personagem Margarida enfrenta as discriminações que ainda estão presentes nas várias instituições da sociedade como a igreja, sindicato, associação.
Anailde Pereira, do Sítio Veloso, no município de Casserengue, deu seu depoimento no palco montado na concentração da marcha: “Fui vítima de violência, eu e meus filhos convivemos sete anos com um homem violento, que me ameaçava de morte e quebrava as coisas dentro de casa, até que eu não aguentei mais e tive forças para sair e me separei dele”, contou. Anailde também falou sobre a importância de momentos como o da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia: “A marcha é uma forma da gente se expressar, da gente se unir, quantas mulheres aqui já não passaram pelo que eu passei?”.
Um momento marcante durante o percurso foi o ato público em memória das 25 mulheres assassinadas na Paraíba só neste ano. 25 cruzes brancas, contendo os nomes de cada uma das vítimas, simbolizaram a indignação diante dos índices crescentes de violência contra a mulher. Uma homenagem especial foi feita a artesã da cidade de Esperança que produzia bonecas, conhecida como “Menininha”, brutalmente assassinada pelo marido em 2002. O momento foi encerrado com um grande “apitaço”, como forma de denunciar e exigir novas posturas diante da violência e políticas públicas que protejam a vida das mulheres e valorizem a sua contribuição na construção da agricultura familiar de base agroecológica.
A marcha seguiu pelas ruas centrais da cidade com cânticos, aplausos e palavras de ordem. Segurando bandeiras, estandartes e faixas, as trabalhadoras rurais distribuíram panfletos e dialogaram com a população sobre o significado de marchar em um dia de luta como deve ser o 08 de março. Maria do Céu Silva, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Solânea, fez uma avaliação positiva da marcha em 2012: “tenho certeza de que todas as mulheres vão voltar pra casa se sentindo com mais forças pra lutar pelos nossos direitos, a continuar a marcha pelos nossos sindicatos, pelas nossas associações, a ideia da marcha é justamente essa”, disse.
Ao final do evento as participantes puderam visitar uma feira montada na Praça da Cultura com a exposição dos produtos do trabalho das mulheres da região. Também houve a apresentação musical das “Três Ceguinhas de Campina Grande”, que com seus ganzás, animaram os momentos finais da marcha. No ato de encerramento, as agricultoras de todas as caravanas selaram compromisso de voltarem para suas cidades com esperanças e energias renovadas para construírem seus caminhos de superação das desigualdades entre homens e mulheres.
A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia é organizada pelo Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema – um fórum de sindicatos e organizações da agricultura familiar que articula 15 municípios e mais de 5 mil famílias do Agreste da Borborema com a assessoria da AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar.
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