Chega ao conhecimento das famílias agricultoras da região do Polo da Borborema, na Paraíba, a notícia da implementação do projeto do Ministério da Integração Nacional, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), do Programa Água para Todos, do Governo Federal, para a construção de 4.000 cisternas de polietileno em 10 municípios paraibanos: Araruna, Areial, Belém do Brejo do Cruz, Cacimba de Dentro, Dona Inêz, Igaracy, Quixabá, São Sebastião de Lagoa de Roça, Lagoa e Soledade.
A notícia preocupa as famílias da região e as entidades que fazem a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba). De acordo com o José Camelo da Rocha, coordenador do núcleo de recursos hídricos da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, o governo adotou as cisternas de polietileno com a justificativa de acelerar o acesso a água para todas as famílias do semiárido, o que de fato, não vem acontecendo. Das 300 mil cisternas disponibilizadas, poucas foram instaladas e muitas já começaram a ter problemas técnicos. Além disso, a opção economicamente mais viável para a universalização é a cisterna de placas de cimento que tem um custo de R$ 2.200,00, incluindo material de construção e todo processo de mobilização e formação: “Uma cisterna de polietileno custa hoje R$ 5.090,00, só com equipamento e instalação. Se fizermos as contas 300 mil cisternas de polietileno custam aos cofres públicos R$ 1,5 bilhão, enquanto que o mesmo número de cisternas de placas custa R$ 660 milhões”, explica o coordenador.
Ainda segundo José Camelo, a defesa da cisterna de placa de cimento para a captação e armazenamento de água da chuva tem como justificativa a utilização de uma tecnologia social que além de baixo custo e comprovada eficiência no semiárido, é fácil de ser replicada. Seu sucesso é real, não só por ser mais barata, mas pelo fato de significar um processo que envolve a comunidade por inteiro, tanto na sua confecção como na sua manutenção, fazendo uso de recursos locais: “Até 2011, 7.146 famílias foram beneficiadas nos 14 municípios da região do Polo da Borborema, isso significa R$ 14 milhões injetados na economia local, se essas cisternas fossem de polietileno, este recurso iria, na sua maior parte, para uma única multinacional com sede em São Paulo”.
José Camelo comenta que os maiores beneficiários da utilização das cisternas de polietileno são os grandes fabricantes. Já as cisternas de placa beneficiam toda uma rede de interesses locais, desde o pequeno comércio de material de construção, à mão de obra ociosa e à comunidade como um todo. Ao mesmo tempo, alimentam o processo de participação cidadã e de solidariedade interna, fortalecendo os laços comunitários.
Diversos sindicatos e organizações de trabalhadores rurais têm protestado contra a decisão tomada por setores do governo federal de substituir as cisternas de placas por unidades de polietileno. Os trabalhadores alegam que, além de funcionar bem, as cisternas de placa trazem oportunidade de trabalho no campo (ao mesmo tempo em que recebe o equipamento, a família ajuda também a construí-lo). Já as cisternas de plástico poluem o meio ambiente e são menos resistentes ao intenso sol do sertão, esquentam excessivamente a água e deformam-se como provam as diversas denúncias publicadas em reportagens na grande mídia e as queixas de vários agricultores. Quando isso acontece, a comunidade fica na dependência de políticos e burocratas para substituí-las, o que leva tempo e alimenta o clientelismo. O contrário acontece com as cisternas de placas: a manutenção é barata e feita imediatamente pela própria comunidade, de forma autônoma.
Nelson Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da coordenação do Polo da Borborema diz que a comissão de recursos hídricos do Polo já se reuniu, em São Sebastião de Lagoa de Roça, um dos municípios que tem previsão de implantação de 120 cisternas de polietileno, para discutir o assunto e tirar encaminhamentos: “Vamos realizar encontros municipais e sessões públicas nas câmaras de vereadores para esclarecer as famílias agricultoras e chamar a atenção das autoridades para essa questão. Também vamos tratar deste assunto no próximo encontro da ASA Paraíba para traçar estratégias coletivas para fazer frente às cisternas de plástico, pois o prejuízo não é só econômico, mas também político para o modelo de convivência com o semiárido que a gente vem construindo”, afirma.
A Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) lançou em novembro de 2011 a campanha Cisterna de Plástico/PVC – Somos Contra! em Salvador-BA, durante a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O objetivo da campanha é alertar a sociedade brasileira sobre o impacto e efeitos negativos da disseminação dessas cisternas para o fortalecimento da estratégia de convivência com o Semiárido, no qual as organizações que fazem a ASA têm investido seus esforços nos últimos anos.
Conheça o material da campanha:
– Panfleto 1 – Cisternas de Plástico/PVC – Somos contra!
– Panfleto 2 – ASA Semenado Cidadania no Semiárido
Matéria do Globo Rural sobre os problemas com as cisternas de plástico:
http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2012/07/cisternas-dao-problema-e-dor-de-cabecas-agricultores-do-pi.html