Um grupo de 24 mulheres agricultoras do Polo da Borborema participou na manhã desta quarta-feira, 18 de novembro, de uma oficina com a chef de cozinha Lia Quinderé, especialista em confeitaria. O evento aconteceu na cozinha do Centro Diocesano do Tambor, em Campina Grande e teve como objetivo promover um intercâmbio entre as práticas e os saberes tradicionais das mulheres agricultoras da Borborema e o conhecimento técnico da chef de cozinha, qualificando o trabalho de ambas.
A ideia da oficina surgiu da parceria entre a chef de cozinha e as mulheres da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, que resultou na produção do vídeo “Da dureza à doçura”, sobre a experiência do Grupo de Mulheres “As Margaridas”, de Remígio-PB, que foi apresentado por Lia em um congresso de gastronomia em São Paulo, em outubro deste ano.
Lia conheceu o trabalho que o Polo da Borborema, com a assessoria da AS-PTA, vem realizando desde 2003, de valorização das práticas e dos conhecimentos das mulheres agricultoras, tirando o seu trabalho da invisibilidade ao mesmo tempo fortalecendo a sua autonomia e a sua liberdade e procurou as mulheres para uma parceria: “Eu queria que o conhecimento que eu adquiri pudesse de alguma forma contribuir com o trabalho de vocês. Eu estou aqui, mas não significa que eu saiba mais do que vocês, eu espero aprender com vocês também. E eu acho que o conhecimento é uma coisa que ninguém nunca pode tirar de você”, disse.
As participantes da oficina são agricultoras que produzem doces, compotas, sucos, polpas, bolos e tapiocas para a venda nas feiras agroecológicas, para vizinhos e, mais recentemente, para os programas governamentais de compra direta como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do Governo Federal. “Nesse trabalho a gente vem, desde o início do ano, investindo forte em ações de formação e troca de experiências que ajudem as mulheres a melhorar suas práticas de beneficiamento, com isso aumentando a qualidade do seu produto, a sua segurança alimentar e consequentemente, a sua renda”, explicou Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que assessora o trabalho com as mulheres.
Durante a oficina as mulheres aprenderam uma receita de um coockie (biscoito) de goiabada e aprenderam técnicas de preparo para melhorar a consistência, qualidade e durabilidade de alguns doces. “O meu objetivo aqui é dividir um pouco do meu conhecimento com vocês, no caso, uma técnica que vocês vão adaptar para os ingredientes que vocês têm no seu quintal. Eu estudei na França, mas sempre tive uma cabeça muito voltada para os ingredientes regionais, então na receita de uma torta, eu sempre vou pensar nas frutas, alimentos que eu tenho na minha terra, que é o Ceará”, disse Lia, na abertura da oficina.
As mulheres também levaram doces feitos por elas para que a chef experimentasse. A exemplo de Vanderli Florentino da Cruz, agricultora do Assentamento Corredor, em Remígio-PB, que levou um doce feito de abóbora forrageira, alimento até então desconhecido por Lia. “Esse doce é cozido no fogo de lenha, leva coco, rapadura, cravo, erva-doce. A receita foi eu que inventei mesmo, porque eu acho que a gente que é agricultora, tem mais é que aproveitar mesmo o que a gente tem, o que a gente planta, para se alimentar, alimentar a nossa família e as pessoas da cidade”, disse Vanda, ao ensinar o preparo do doce para a chef e suas companheiras.
Adilma Fernandes, uma das integrantes do Grupo As Margaridas, avaliou de forma positiva a oficina e disse que mal pode esperar para colocar em prática os conhecimentos que aprendeu: “Eu vou testar tudo, com certeza, vai ser um sucesso, pode apostar, eu vou saber pelo sorriso das crianças, meu sobrinho é um, que quando a gente vai fazer alguma coisa, corre pra cozinha pra provar”, disse.
Assista: Da dureza à doçura