A AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema realizou, no dia 30 de agosto, no Convento Ipuarana em Lagoa Seca-PB, o Encontro Territorial do Programa Cisterna nas Escolas, em sua segunda fase de execução na região. O Programa viabiliza a construção de infraestruturas de captação de água de chuva em escolas rurais de todo o Semiárido Brasileiro, e na Borborema, vem sendo executado pela AS-PTA. O Projeto é desenvolvido em parceria com as entidades da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), com recursos do Ministério da Educação (MEC) e do então Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no âmbito do Programa Água para Todos, do Governo Federal.
O encontro territorial contou com a participação de gestores das pastas da educação e da infraestrutura dos dois municípios beneficiados nesta fase, Queimadas e Solânea, animadores e coordenadores do projeto, assessores técnicos dos núcleos de recursos hídricos e infância e juventude da AS-PTA e lideranças dos sindicatos rurais que compõem o Polo da Borborema. O objetivo do encontro foi fazer uma apresentação do programa e uma contextualização do trabalho que Polo e AS-PTA vêm desenvolvendo na região, além da definição de alguns acordos entre a coordenação do projeto e o poder público municipal, necessários para seu desenvolvimento.
Roselita Vitor, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB e da coordenação do Polo da Borborema, promoveu a contextualização narrando como o movimento social que vem sendo construído há 20 anos na região e que vem fortalecendo a agricultura familiar de base agroecológica e na luta por mais direitos.
Roselita apresentou os princípios que norteiam o trabalho e suas comissões temáticas, que são grandes temas mobilizadores, entre eles o trabalho da “Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar”. A Campanha nasceu em 2002 com o propósito de trabalhar a agricultura como instrumento transformador e estimulador do aprendizado dos filhos e filhas de agricultores, a agroecologia como base para a melhoria da qualidade de vida na agricultura e a valorização do conhecimento das crianças e jovens e do lugar onde elas moram. A ação é realizada em parceria com as escolas do campo e as comunidades rurais. Além disso, ainda tem se ampliado esforços no fortalecimento da identidade dos jovens enquanto agricultores e agricultoras, em um trabalho que vem crescendo nos últimos anos. A liderança explicou que o projeto cisternas nas escolas chega para fortalecer esta ação que já existe e que além do acesso à agua, se preocupa com a educação contextualizada.
Após a apresentação, foi aberto o espaço para uma rodada de impressões. Ádria Maria Alves Viana é professora há 20 anos e Secretária de Educação de Queimadas desde janeiro de 2016. Ela afirmou que a preocupação com a educação do campo está muito presente na sua gestão: “Venho de um município de uma extensa área rural, das nossas 61 unidades escolares, 52 são da zona rural. Então nós temos um olhar diferenciado para a educação do campo. Temos uma coordenação específica para a educação do campo, dentro da coordenação pedagógica. Me sinto muito feliz de estar aqui e estamos de portas abertas para colaborar com o projeto”, disse.
Manoel Roberval da Silva, assessor técnico do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA, destacou a proposta do projeto, que vai além da garantia da segurança hídrica nas escolas: “A proposta não é simplesmente a construção da infraestrutura, embora saibamos que há estados em que ocorre o fechamento de escolas do campo devido à falta de água, o projeto vai mais além sobre os significados que tem a agricultura, o território onde as pessoas vivem. Trabalha o resgate e a valorização de saberes que nos ajudam a superar os preconceitos contra quem vem do campo e como a partir do conhecimento local, a gente pode ampliar o conhecimento dos professores e das crianças”, frisou.
“Esse projeto poderia ter chegado e só construído a cisterna, mas não, a gente vê que é uma proposta diferenciada, pois existe essa preocupação com a educação do campo. É um programa que vem beneficiar o nosso município e a intenção da nossa gestão é ajudar para que os alunos não precisem sair do campo para estudar, então estamos aí para contribuir, para o que der e vier”, afirmou Zildete Fabrício, Secretária de Educação de Solânea.
Após este momento, Nirley Lira, assessora técnica do Núcleo de Recursos Hídricos da AS-PTA e da equipe do Programa Cisternas nas Escolas, fez uma apresentação das etapas, metas, componentes e desafios do projeto que deve construir, até o final de 2016. Serão 34 cisternas de 52 mil litros em Queimadas e 10 em Solânea. Diferente da cisterna de produção do Programa Uma Terra e Duas Águas, que captam água de um calçadão ou de caixas de decantação, a cisterna na escola capta água do telhado da própria escola e exige uma gestão compartilhada e um olhar atento da comunidade rural e da gestão escolar. Também estão previstos momentos de formação para os professores e professoras das escolas do campo, merendeiras e a comunidade rural onde a escola está inserida.
Foram ainda lembrados e reafirmados os compromissos dos gestores públicos com o projeto, como a garantia da presença continuada dos educadores e funcionários das escolas nas formações, a perfuração dos buracos para construção das cisternas e seu aterramento e o espaço do terreno para a construção da infraestrutura. O próximo passo será a definição dos calendários de formações e cronograma para seleção e cadastramento, formação de pedreiros e construções. “A gente percebe que a cisterna vem muito mais como um ponto para fazer convergir a escola e a comunidade, gostaria de parabenizar vocês desde já e dizer que a prefeitura vai colaborar no que puder”, afirmou Paulo Severo, Secretário de Infraestrutura de Queimadas-PB.
Em sua primeira fase na Borborema, o Projeto atuou nos municípios de Esperança, Lagoa Seca, Remígio, Massaranduba, Algodão de Jandaíra, Montadas, Casserengue e Alagoa Grande. Foram construídas 83 cisternas nos oito municípios.