Mais de cinco mil mulheres jovens, idosas, brancas, negras, do campo e da cidade, marcharam juntas neste dia 08 de março pelas ruas do município de São Sebastião de Lagoa de Roça-PB, na edição 2018 da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. O evento acontece há nove anos organizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema, o Agreste da Paraíba.
Antes de sair em marcha, sem se importar com o sol forte do Semiárido Paraibano, as milhares de mulheres assistiram à apresentação da peça “Família, lugar de amor”, encenada pelo grupo de teatro amador do Polo da Borborema. O espetáculo, trouxe a discussão sobre dois temas que preocupam as mulheres da região: a questão da diversidade sexual e a divisão justa do trabalho doméstico. Na peça, um jovem homossexual sofre violência por parte de sua família, que o discrimina por sua orientação sexual. O espetáculo também tratou como é injusta a divisão de trabalho doméstico, naturalizado como algo de que só as mulheres devem se encarregar e que é invisível aos olhos da sociedade.
Em 2018, o tema trabalhado nos momentos preparatórios da marcha foi a onda conservadora que o país enfrenta e de que forma ela recai sobre a vida das mulheres. Ligória Felipe dos Santos se emocionou com a encenação do teatro: “A peça foi feita pra mim, eu me vi ali”, conta a agricultora do município de Esperança-PB, que viu o filho homossexual deixar a casa por desentendimentos com o pai.
O evento foi ainda escolhido como local para o lançamento oficial da Marcha das Margaridas 2019: “O lançamento do processo preparatório para as próxima Marcha das Margaridas começa hoje e vai até o mês de agosto de 2019. Nós não vamos mais levar uma pauta para o Governo Federal. Vamos sim, esse ano, mostrar a todas as camponesas quem são os ‘inimigos das margaridas’ que não podem voltar ao congresso nacional, aos governos e às casas legislativas estaduais”, falou Beth Cardoso, da coordenação da Marcha das Margaridas e integrante do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT Mulheres da ANA). A Marcha das Margaridas é uma manifestação realizada desde 2000 por trabalhadoras rurais do Brasil e é um importante instrumento de luta por mais políticas públicas para as mulheres do campo.
As menções aos sucessivos cortes de programas sociais do Governo Federal, fechamento de ministérios importantes para as políticas de inclusão social e para as populações do campo também fizeram parte de um ato político durante uma parada no trajeto da caminhada. Um ‘Vampirão’, em alusão à fantasia de um personagem apresentado pela escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti, vice-campeã do Carnaval do Rio, leu um “Pronunciamento” voltado às mulheres, onde dizia que elas são fundamentais para verificar os desajustes de preços nos supermercados. Jovens segurando cartazes com os nomes de políticas públicas importantes para a vida das mulheres, tiraram então as mordaças que traziam nas bocas e se levantaram gritando palavras de ordem.
Alimentos beneficiados, hortaliças, artesanato e outras produções fruto do trabalho das camponesas fizeram parte de um feira que ocupou um grande espaço anexo ao local do evento, onde foram comercializados os produtos e houve espaço para a troca de experiências. A animação final ficou por conta da cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá que se apresentou momentos antes da caminhada e encerrou o evento com uma bonita ciranda. “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Amanhã começa a nossa preparação para a nossa próxima marcha. E que o movimento sindical seja autêntico, com a força das mulheres!”, se despediu Giselda Beserra, da coordenação do Polo da Borborema.
“Essa marcha para o Polo da Borborema, significa justiça. Quando os sindicatos têm como sua missão o princípio de defender a justiça, a igualdade, é uma obrigação também fazer a luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres no movimento sindical, no mundo camponês. O nosso papel enquanto movimento que tem construído a agroecologia, é esse, essa é a nossa missão. A opressão que as mulheres vivem, a carga de trabalho que elas enfrentam, faz com que a gente repense como estão se dando estas relações para que a gente almeje o que tanto queremos uma sociedade mais justa e solidária”, avalia Roselita Vitor, liderança da coordenação do Polo e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Remígio.
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