Na cidade do Rio de Janeiro, as escolas da oitava Coordenadoria Regional de Educação (CRE), na zona oeste, estão promovendo uma ação inovadora ao fomentar a aquisição de alimentos da agricultura tradicional da cidade do Rio de Janeiro por meio do Programa Aquisição de Alimentos (PAA). As escolas de Realengo vêm adquirindo caqui e banana agroecológicos dos agricultores e agricultoras organizados na Associação dos Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata).
Rita Caseiro é presidente da Agroprata e conta sobre a importância do caqui para a região: “O caqui é um fruto importante para a economia não só para os produtores, mas também para toda uma rede de moradores, responsáveis desde a colheita, o encaixotamento até o transporte para as feiras, mercados locais, e agora, para as escolas”. Segundo ela é na época do caqui, que os agricultores recebem o “décimo terceiro”, demonstrando a importância econômica do fruto para a região.
O caqui faz parte da tradição local, as primeiras mudas foram trazidas no inicio do século XX, pelo português Tiago dos Santos e logo foram distribuídas entre os agricultores do Maciço; hoje estão entre os maiores produtores do estado. E para comemorar e valorizar o trabalho dos agricultores e agricultoras, dois eventos fazem parte da agenda: o Tira Caqui e a Festa do Caqui, que contam com a exposição dos produtos, música e gastronomia local.
A produção familiar agroecológica também enfrenta muitos desafios. Mesmo estando dentro do município do Rio de Janeiro, que é considerado 100% urbano pelos planos de desenvolvimento da cidade, as roças existem e estão localizadas em áreas distantes, em terrenos bem acidentados e os caquizeiros são muito altos, o que dificulta a colheita e coloca riscos de acidentes. Antônio Cardoso Paiva, Alberto Carlos Macedo e Jorge Fernandes Pereira, agricultores que realizaram a venda de caqui para as escolas, contam como se dá o trabalho: “Para colheita subo no pé com um balde, desço, coloco na caixa, subo de novo; é assim, né? Depois então, a gente coloca a caixa no burrico e desce até a sede da associação”. Antônio Cardoso ainda acrescenta que demora até 2 horas para ir do seu sítio até a associação.
Na sede da Agroprata o caqui é levado para as estufas, sendo colocado para maturar de forma natural sem o uso de carbureto, como ressaltam Antônio, Alberto e Jorge. Quando atinge o ponto, os frutos são embalados colocando “estrela com estrela” para não estragar.
Além de todos esses desafios para a produção, colheita, beneficiamento e transporte, os agricultores precisam enfrentar a dificuldade de obtenção do Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), documento requerido para as vendas institucionais. Aos poucos os agricultores da Agroprata vão organizando suas DAPs, com muito apoio e envolvimento da Rede Carioca de Agricultura Urbana, transformando essa luta num momento importante de aprendizado coletivo. Agora o desafio é a organização de uma DAP jurídica para facilitar as vendas institucionais.
Para Rita Caseiro, a entrega da alimentação escolar é importante para a história dos produtores, para a sua permanência no campo e para o reconhecimento da sociedade sobre a importância dessa agricultura que passa por invisível para os gestores públicos: “Acreditamos que a venda dos produtos do Maciço para as escolas da região é uma oportunidade de garantirmos o conhecimento de que dentro do parque, a maior floresta urbana do mundo, se produz alimento; um alimento saudável, um alimento de qualidade e que está chegando à mesa dos alunos! Queremos que os alunos também conheçam a história desses alimentos, como esse produto chegou lá, que ele não caiu da torneira, não chegou da caixinha, mas que é um alimento que tem história, uma história de luta, a história de perseverança que cada agricultor aqui são os reais preservadores dessa região.”