No dia 24 de agosto, aconteceu na sede da AS-PTA agricultura Familiar e Agroecologia, em Esperança-PB, uma Oficina sobre Identidade Racial. Facilitada por Rafaela Carneiro da Secretaria Estadual da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH), a oficina contou com a participação de lideranças do movimento de mulheres e de jovens do Polo da Borborema, além de assessores técnicos da AS-PTA. Essa oficina inaugura a construção da pauta da décima edição da Marcha Pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que em 2019, voltará ao município de Remígio, onde aconteceu sua primeira edição, em 2010. O Polo da Borborema é uma articulação de sindicatos rurais que atua há mais de 20 anos na região da Borborema com a assessoria da AS-PTA.
A Oficina começou com a contextualização histórica das desigualdades sociais. Rafaela trouxe para a reflexão a conexão entre a questão agrária e a questão da racial no Brasil, explicitando como o trabalho escravo foi o motor do desenvolvimento do capitalismo no país. Mas também, foi construído com os participantes como que o racismo é questão estruturante da desigualdade social brasileira.
Ao ser pedido para ler um texto sobre transição capilar do site Geledés, muitas mulheres sentiram-se motivadas a contar suas próprias experiências. Vitória Barbosa, que trabalha na secretaria do Polo da Borborema, contou sobre o quanto fazer a transição não foi importante só para ela, mas para sua própria mãe. “Para mim, deixar meu cabelo natural foi mais do que um ato particular. Vi que minha mãe também ficou feliz por acreditar que naquele ato, eu também estaria a aceitando como ela é. Todos que me conhecem sabe que eu gosto muito de tirar fotos, e não entendia porque minha mãe não gostava que tirasse fotos dela. Só depois disso que fui entender que ela não gostava da sua própria imagem, por tudo que ela já viveu na vida. Sei que ao assumir meu cabelo, também estou fortalecendo minha mãe”, contou.
Foi a partir de histórias como a de Vitória que Rafaela tratou sobre identidade negra e como construir essa identidade de forma positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina aos negros que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmos. Para problematizar o racismo institucional, o grupo assistiu a um vídeo produzido pelo governo do Paraná sobre um teste de imagens com dois grupos diferentes que analisaram fotos idênticas em conteúdo, porém com modelos negros e brancos. O vídeo ajudou os participantes entenderem melhor o mito da democracia racial e de que forma a sociedade tende a naturalizar os espaços e os trabalhos subordinados aos negros, diminuindo a percepção que temos das relações de poder entre a população branca e negra.
Por fim, a oficina trouxe ao relevo como o racismo afeta de maneira mais profunda a vida das mulheres negras. Ao se analisar os indicadores de educação, emprego, trabalho, moraria e outros, observa-se que existe uma imensa desvantagem para as mulheres negras. A trabalhadora negra, por exemplo, é aquela que se insere mais cedo e é a última a sair do mercado de trabalho, ganhando, na maior parte das vezes, metade do que uma mulher branca recebe pelo mesmo trabalho.
Ao final da oficina, avaliou-se a importância desse momento para a trajetória do Polo da Borborema e para o amadurecimento da ação sindical. “Precisamos promover a continuidade dessa reflexão junto à Coordenação Ampliada do Polo para que possamos enfrentar as questões do racismo institucional”, avaliou Gizelda Beserra, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema.
“Momentos como esses são determinantes para a construção da identidade negra e da construção de uma nova visão de mundo”, avalia Rafaela, afirmando que o Brasil ainda não assumiu que é um país racista. Novos debates como esse serão multiplicados no processo de preparação da X Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Ações afirmativas são necessárias para oferecer igualdade de oportunidades a todos e com certeza, construir a agroecologia no território.