Com capricho nos detalhes e programação, a 12ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia manteve aceso o fogo da revolução
Com alegria, cantoria e amor é que se faz uma marcha virtual com as mulheres. Porque as mulheres, quando se juntam para defender a vida, vibram no amor, na alegria e na solidariedade. Foi assim que a 12ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia aconteceu no entardecer do dia 8 de março de 2021, no Dia Internacional das Mulheres, no território da Borborema, no Semiárido paraibano.
Não teve pandemia, nem baixa cobertura de internet na zona rural que impediram as mulheres agricultoras de dizerem ao mundo o que elas querem para si, para suas famílias, para as comunidades rurais, para todas as mulheres do planeta.
As diversas vozes femininas anunciaram que querem vacina para todas as pessoas e rápido. Querem respeito às suas vidas. Querem a divisão justa do trabalho doméstico com seus companheiros. Querem o fim da violência doméstica. Querem educação contextualizada do campo. Querem o SUS forte. Querem o auxílio emergencial para as famílias agricultoras. Querem produzir e vender os alimentos agroecológicos. Querem solidariedade. Querem construir uma sociedade mais humana, mais justa, mais fraterna, entre tantos outros quereres.
Como todos os anos acontece nas edições da Marcha, o Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema preparou uma encenação, que foi gravada e mostrada em vídeo para todo mundo. Na peça, a personagem Margarida era requisitada o tempo todo, por todo mundo da família, para servir. O marido exigiu a presença dela na roça. O sobrinho, que voltou pro sítio porque sua mãe se desempregou e na cidade é muito mais difícil de viver, a chamou quando teve problema com a internet e não entendeu como fazer a tarefa. A mãe idosa pediu sua ajuda para ir ao banheiro. E Margarida ainda tinha que dar conta de suas tarefas no arredor de casa, cuidar dos animais, cozinhar, limpar a casa… E isso tudo sem ter nenhum dedinho de prosa com as vizinhas, nenhum momento de descanso.
A denúncia da sobrecarga de trabalho é uma realidade na vida das mulheres do campo e da cidade, principalmente, agora quando o país contabiliza mais de 11 milhões de casos de Covid confirmados. “Sofremos mais com a falta de medidas de combate à pandemia porque estamos no centro de sustentação da vida. Assumimos a função de cuidados dos nossos doentes. Nós, mulheres, temos um papel fundamental nos cuidados com a alimentação, com a agroecologia. Contribuímos com a segurança alimentar e nutricional no campo e na cidade”, assegurou Mazé Morais, secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
Se a pandemia trouxe muita coisa ruim, ela também desafiou as mulheres a abrirem outras frentes de comercialização dos alimentos tirados de seus quintais, cultivados sem veneno, com sementes livres de transgenia. Marlene Henriques, agricultora familiar agroecológica e sindicalista de Lagoa Seca, deu seu testemunho a respeito das vendas pela internet, o que ela chamou de “aprender a conviver com o mercado”.
Ao final de seus minutos de fala, Marlene conclamou as mulheres agricultoras como ela: “São tempos difíceis e vemos que as coisas não estão mudando. Por isso, temos que continuar fazendo a nossa agroecologia”.
Um dos momentos altos da live foi a participação das mulheres desde as suas comunidades. A primeira comunidade a contagiar com entusiasmo as espectadoras da live foi o Sítio Palma, em Solânea. “Não importa o que aconteça. Se tem pandemia, ou se não tem, as mulheres continuarão marchando”, afirmou a jovem Joana D’Arck Pê de Nero.
E assim se sucederam as imagens, cantorias, gritos de guerra e palavras de ordem de comunidade em comunidade. Entre uma e outra, o canto era essa marchinha: “Ô abre alas que as mulheres vão chegar. Com esta marcha muita coisa vai mudar. Nosso lugar não é no fogo ou no fogão. A nossa chama é o fogo da revolução”.
As falas eram todas fortes, sentidas, vindas do coração. Não eram palavras soltas ao vento. Elas tinham o poder de tocar cada uma que lá estava. Um termômetro disso foi a enxurrada de comentários no Youtube. Mesmo em tempos de lives esvaziadas, a Marcha virtual chegou a ter mais de 200 computadores e celulares conectados. Sabendo que nas comunidades, a transmissão era acompanhada por várias mulheres, o alcance da live foi surpreendente.
“Ficamos imensamente surpreendidas com a capacidade de superação das mulheres em suas comunidades. Por um lado, o reencontro era muito desejado, por outro, tínhamos o imenso desafio da inclusão digital. Criamos um grupo de WhatsApp com 250 mulheres lideranças de várias comunidades e a partir dali, fomentamos nas últimas duas semanas a energia da Marcha. Foram mais de 1345 mensagens no chat do Youtube, outras tantas nos Facebooks do Polo da Borborema e da AS-PTA por onde conseguimos ter um total de 1253 engajamentos com a publicação. A Marcha acabou chegando para as nossas mulheres, lá nas comunidades”, comenta Adriana Galvão Freire, assessora do movimento de mulheres.
Se a live foi emocionante, com um capricho especial em cada detalhe da transmissão, nas camisas, máscaras, no cenário que acolheu as apresentadoras Roselita Victor e Maria do Céu Silva Batista, não poderia ter um fim sem graça. Quem abrilhantou o encerramento, com sua voz potente de mulher negra, foi a companheira Lia de Itamaracá.
Há anos, Lia participa da marcha, canta junto às milhares de agricultoras e as convida a dançar ciranda, lembrando-as de que devem seguir na vida assim: de mãos dadas, irmanadas em círculo, dançando e cultivando alegria em seus corações. Assim se vence qualquer obstáculo. E a realização desta live é uma prova perfeita disto.
E o que virá depois da Marcha? – Terminada a live, a Marcha segue firme nas comunidades rurais. Com cuidados para não pôr as mulheres em risco, o processo de debate e reflexão sobre o tema ‘Sem cuidado não há vida” vai acontecer em algumas comunidades rurais da Borborema. A intenção é que as várias reuniões comunitárias envolvam cerca de 600 mulheres.
A organização da Marcha é da AS-PTA e Polo da Borborema, uma rede formada por sindicatos rurais, mais de 150 associações comunitárias, uma associação de produtores agroecológicos, a EcoBorborema, e uma cooperativa de agricultores e agricultoras familiares inaugurada em janeiro passado.
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