Realizado pela AS-PTA, o projeto apoia e fortalece o manejo ecológico dos solos praticado, ao longo dos tempos, pelas comunidades tradicionais e quilombolas que ficam na unidade de conservação do Parque Estadual da Pedra Branca, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. É desenvolvido em parceria com as comunidades quilombolas do Dona Bilina, Cafundá Astrogilda e Quilombo do Camorim, e tem patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Conhecedoras de práticas ancestrais e agroecológicas, essas comunidades são pilares para a conservação do solo, da água e da biodiversidade. Por meio do trabalho de agricultores e agricultoras, o sistema responde de forma positiva aos impactos ambientais sofridos no entorno, resistindo aos danos e se recuperando. Suas agriculturas têm sido a base para a manutenção da resiliência e sobrevivência de sistemas agroalimentares dos mais diferentes tipos.
Nesse contexto, a relação integrada entre a comunidade e a natureza promove serviços ecossistêmicos fundamentais para toda a sociedade. Serviços ecossistêmicos são contribuições diretas ou indiretas dos ecossistemas para o bem-estar humano.
O solo fornece muitos serviços ecossistêmicos, uma vez que sua multifuncionalidade é a base para a produção de alimentos, filtragem de água, ciclagem de nutrientes e outros bens essenciais à vida. Esses serviços, que tornam a vida humana possível, são garantidos por meio do uso sustentável dos ecossistemas, o que é comumente praticado por comunidades tradicionais, por não se desenvolverem dentro de um modo de produção estritamente mercantil.
No Maciço da Pedra Branca, as hortas, os jardins, os quintais e as agroflorestas das comunidades agricultoras e quilombolas permanecem o ano todo protegendo o solo das “gotas de chuva”, do dessecamento e das temperaturas elevadas. Quanto mais estratos ou camadas de copas são preservadas, maior a possibilidade de infiltração de água no solo e, por vez, menor a possibilidade de enxurradas.
“Água no solo significa perenidade, permanência de cursos d’água, e capacidade de adaptação frente a imprevistos climáticos. No Parque Estadual da Pedra Branca, essas comunidades amortecem os impactos, conservando a biodiversidade e os serviços que a floresta dessa Unidade de Conservação presta para eles e para toda a cidade do Rio de Janeiro” , destacou Fernando Balieiro, pesquisador da Embrapa Solos e parceiro institucional do projeto.
Na perspectiva agroecológica, compreender a dimensão físico-química do solo, é considerar também a história e a cultura dos homens e mulheres que pisam nesse solo.
Horta Orgânica da ACUQCA
Um exemplo de prática agroecológica de conservação do solo e provisão de serviços ecossistêmicos é a horta orgânica que fica na Associação Cultural Quilombo do Camorim, no Quilombo do Camorim.
Local de produção de agricultura limpa e integrada com o ambiente, a horta é um espaço educativo, e está integrada a um conjunto de iniciativas socioculturais, como mutirões, rodas de jongo, capoeira e a realização de trilhas ecológicas.
Para Rosilane de Almeida, liderança quilombola do Quilombo do Camorim e agente comunitária do projeto, “o trabalho de educação ambiental e cultural através da horta orgânica promove o resgate da prática de produção de alimentos e uso de ervas medicinas, ajudando a manter a saúde da natureza e dos seres humanos. Ao mesmo tempo, ajuda a manter a tradição, valorizando os mais velhos e passando esse conhecimento para os mais novos e a juventude”, destacou Rosilane.
O Projeto Sertão Carioca, reforça as práticas agroecológicas nas comunidades quilombolas e se propõe a valorizar ações já em curso. A atenção especial está no enriquecimento da diversidade de espécies nativas, arbóreas e arbustivas, assim como as plantas alimentícias não convencionais presentes em abundância na floresta e no entorno.
Renata Souto, engenheira agrônoma, assessora técnica e Mestre em Solos e Nutrição destaca que promover a agroecologia nos territórios quilombolas diz respeito diretamente à conservação dos solos e das águas. “Isso valoriza a forma limpa e harmônica de fazer agricultura das populações, promove a ciclagem de nutrientes das áreas verdes e integra diretamente o entorno como zonas de amortecimento que promovem de fato a manutenção da floresta do Parque Estadual da Pedra Branca”, destacou.
Comissão de Pesquisa
Para fortalecer essa perspectiva e aferir o grau de importância dessas práticas, o projeto prevê ainda a realização de pesquisas científicas que serão desenvolvidas pela Comissão de Pesquisa do projeto.
Serão desenvolvidas três atividades que abordarão a gestão integrada da terra: “O carbono no Solo e na Vegetação em agroecossistemas familiares”, “Solo, Paisagem e Serviços Ecossistêmicos no entorno do Maciço da Pedra Branca” e “Avaliação da paisagem no entorno do Maciço da Pedra Branca e indicação de práticas agrícolas adequadas”, contando com o envolvimento de pelo menos 11 pesquisadores e pesquisadoras da Embrapa Solos, Embrapa Agrobiologia e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A hipótese do estudo é que é possível manter e, até mesmo, ultrapassar os limites de estocagem de carbono do solo da floresta, com práticas e conhecimentos tradicionais de manejo da agrobiodiversidade.
“É uma hipótese que pode ser refutada, mas que certamente não seria se compararmos esses estoques àqueles de áreas conduzidas por agricultores convencionais, que usam implementos para preparo do solo, fertilizantes químicos em grandes quantidades e defensivos agrícolas.” destacou Fernando Balieiro pesquisador da Embrapa Solos.
Edição: Bruna Távora e Mariana Portilho