Lume: um potente instrumento para a promoção da Agroecologia
Jan Douwe van der Ploeg – Professor de Sociologia Rural da Faculdade de Ciências Humanas e Estudos do Desenvolvimento da Universidade Agrícola da China
O presente livro descreve o método Lume, um instrumento muito útil por oferecer um enfoque crítico para monitorar, avaliar, comparar, apoiar e fortalecer as transformações nos sistemas alimentares orientadas pelo enfoque agroecológico atualmente em curso em diversas partes do mundo. Sua importância reside na capacidade de amalgamar análises econômicas e ecológicas. Essa capacidade reflete um aspecto crucial para as pessoas diretamente envolvidas nesses processos de transformação. Para elas, a Agroecologia representa um movimento emancipatório voltado a melhorar radicalmente suas próprias condições de vida.
O método está bem fundamentado em teorias críticas, tais como a abordagem do metabolismo social, a análise chayanoviana sobre a agricultura camponesa e a economia política. Mostra uma impressionante capacidade de traduzir essas teorias críticas para os aspectos práticos da vida rural. Dessa forma, faz com que a teoria crítica extrapole a sua condição de abstração para se tornar uma ferramenta efetiva de transformação do mundo. Acredito que o método Lume tem o potencial de apoiar as pessoas, a partir de suas realidades, a construírem novos caminhos para o desenvolvimento de agroecossistemas de base agroecológica. A esse respeito, é particularmente inovadora a inclusão de indicadores que consideram o tempo dedicado ao trabalho doméstico, do cuidado e de reprodução em geral, o que ajuda a identificar e a combater a divisão social do trabalho por gênero criada pelo – e a partir do – patriarcado.
O método Lume enfatiza aspectos e dimensões geralmente negligenciados pela análise convencional e enriquece ainda mais a literatura sobre Agroecologia já em rápida expansão. Ao mesmo tempo em que presta meticulosa atenção às práticas inovadoras que se materializam no que os autores identificam como a interface “natureza-sociedade”, as análises que o método proposto faz da Agroecologia e de suas potencialidades vão muito além da dimensão puramente técnica. Elas permitem abordar de forma bem articulada os graus de autonomia, capacidade de resposta (responsividade), integração social, equidade de gênero (protagonismo das mulheres) e protagonismo da juventude não só no âmbito dos estabelecimentos agrícolas familiares, mas também dos sistemas regionais mais amplos em que tais estabelecimentos estão inseridos.
Este livro e o método nele apresentado é resultado de uma rica e robusta conjugação de estudos, debates, críticas, experimentação e aplicação prática. Reflete o forte envolvimento dos autores tanto no debate internacional, como em experiências agroecológicas pioneiras no Brasil. Os relatos das suas experiências no semiárido brasileiro são realmente excepcionais. Descrevem como um programa agroecológico multifacetado e em contínua evolução gera uma resposta vigorosa e eficaz às condições climáticas que sempre desafiaram a agricultura na região. A aplicação tão bem ilustrada da abordagem Lume sob tais condições demonstra a potência do método.
Por ser versátil, o método se aplica a diferentes trajetórias de inovação agroecológica e, sobretudo, a diferentes graus de transição, o que o torna um método atrativo e de forte apelo. Afinal, a Agroecologia não é o oposto binário à agricultura convencional. É, antes de mais nada, um movimento que se desdobra por meio de experimentações e adaptações, construindo novas realidades em permanente evolução. Como tal, é um processo de transição que evolui pouco a pouco e que pode ser mensurado, em termos de graus, ou seja, quanto um sistema é mais ou menos agroecológico. Penso que o método Lume tem o potencial de contribuir consideravelmente como instrumento de construção de conhecimento crítico, especialmente em função da abordagem participativa que promove.
Como ilustrado pelo caso empírico apresentado nesta publicação, as famílias praticantes dos estilos tradicionais de agricultura podem se beneficiar muito do método. Por meio do contínuo fortalecimento da base de recursos locais autocontrolada e pelas trajetórias de intensificação baseadas no trabalho camponês, tais formas de agricultura poderão se converter nos bastiões da Agroecologia.
Considero, portanto, que o instrumento Lume deva ser amplamente aplicado e experimentado em diferentes locais, o que certamente contribuirá para o seu aprimoramento.
Os autores criaram um método verdadeiramente vigoroso. O livro é um pequeno monumento que mostra a força da combinação de uma teoria crítica bem fundamentada com o envolvimento com os movimentos sociais. Ao mesmo tempo, reflete os muitos pontos fortes e a grande riqueza do movimento agroecológico no Brasil. Os autores devem ser enaltecidos e felicitados por escreverem um livro sucinto, porém convincente, que permitirá que os pontos fortes e a riqueza do método Lume viajem para outras partes do mundo.
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LUME: Método de Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas